26 de dezembro de 2011

OS MELHORES ÁLBUNS DE 2011

Aqui ficam alguns dos melhores álbuns de 2011 segundo o UNIVERSO DA MÚSICA.
Machine Head - "Unto The Locust"
Trivium - "In Waves"
Mastodon - "The Hunter"
Red Hot Chili Peppers - "I'm With You"
Jane's Addiction - "The Great Escape Artist"
Fleet Foxes - "Helplessness Blues"
PJ Harvey - "Let England Shake"
Foo Fighters - "Wasting Light"
Devin Townsend - "Ghost"
Black Keys - "El Camino"
Adele - "21"
Buraka Som Sistema - "Komba"
Paus - "Paus"

20 de dezembro de 2011

Rubrica "Os melhores álbuns de sempre": THE CULT - «LOVE» (1985), «ELECTRIC» (1987), «SONIC TEMPLE» (1989)

Estávamos em 1985 e, depois de vários trabalhos, em nome próprio ou com outros, em que se destacaram como pontas de lança do movimento gótico, os The Cult arriscam em lançar "Love" que marca claramente uma evolução para outras sonoridades. A produção, bastante admirada ainda hoje, foi uma pedrada no charco para altura, com o disco a soar como se de uma actuação ao vivo se tratasse, mas num local com muito eco , tipo uma igreja, o que lhe conferia uma aura de mistério. Basicamente, "Love" é um cruzamento de rock gótico mais obscuro com a energia do rock pós-punk mais optimista, feito por bandas como os U2 iniciais, Chameleons, Big Country,etc; acrescentando-lhe ainda influências do rock psicadélico dos anos 60. Tudo embrulhado num formato bastante acessível com ritmos surpreendentemente dançáveis (!?). Aqui aparecem pela primeira vez o estilo de canções gothic-pop depois popularizado por bandas como os The Mission, Gene Loves Jezebel, Héroes del Silencio, etc. É o caso de temas como "Nirvana", "Rain", "Hollow Men" e do hit "She Sells Sanctuary". "Love" marca também a reabilitação do efeito wha-wha na guitarra rock, que desde Jimi Hendrix praticamente só era usado noutros estilos. A canção "The Phoenix" é, neste particular, sublime, com um solo demoníaco que se estende ao longo de todo tema. Para completar, temos os temas mais calmos, "Brother Wolf..." e "Black Angel", marcados pelo forte romantismo (no sentido literário do termo), para além desse grande hino geracional que é "Revolution".
Depois da tour de "Love", os The Cult contratam o produtor Rick Rubin, então com um auspicioso início de carreira, e gravam aquilo que é capaz de ser a maior pirueta na carreira de uma banda. "Electric" é quase o contrário do disco anterior apesar de igualmente inspirado. Os ecos, o ambiente nocturno e o psicadelismo são agora substituídos por um som seco, directo e distorcionado, como se estivessem a tocar na nossa sala de estar. Numa linhagem AC/DC, todos os riffs são um verdadeiro murro no estômago, puro e duro. "Wild Flower", "Lil' Devil" e "Love Removal Machine" são clássicos intemporais , para além de outros como "Peace Dog", "Bad Fun" e "Outlaw", igualmente míticos, sem esquecer aquela que será, porventura, a melhor versão do clássico "Born To Be Wild". Com este álbum, e a tour que se seguiu, os The Cult conquistaram uma enorme base de fãs nos EUA sendo das bandas britânicas mais famosas do outro lado do Atlântico nas últimas décadas. Indispensável para qualquer motard que se preze, "Electric" colocou também os The Cult como um grupo incontornável para os fãs do metal/hard n'heavy.
Em 1989 é lançado o trabalho que acaba por ser uma espécie de síntese dos 2 anteriores e o álbum mais bem sucedido em termos de vendas dos The Cult. "Sonic Temple" representa o hard-rock na sua perfeição: composições talentosas, técnica soberba, letras inspiradoras, e uma produção espectacular (Bob Rock faz aqui o seu trabalho prévio ao Black Album dos Metallica). O guitarrista Billy Duffy e o vocalista Ian Astbury têm aqui as melhores prestações de sempre. Apesar de superficialmente o álbum ter a ver com a corrente hard-glam então em voga, a verdade é que estas canções e todo o alinhamento está muitas milhas à frente de tudo o que se ouvia e é, na prática, uma paradigma do que de melhor já se fez e fará na música rock. Desde os temas mais fortes e imediatos, como "Sun King", "Fire Woman" e "Sweet Soul Sister", até aos mais mid tempo, como "Edie" e "Wake Up Time For Freedom", não há nada que falhe neste disco. Quiçás o momento alto do álbum seja a sequência "Soul Asylum"/ "New York City" /"Automatic Blues": dois épicos, profundos e poderosos, com sucessivas camadas de guitarra e refrões dramáticos, intercalados por uma rockalhada no melhor estilo que retrata na perfeição o ritmo agitado daquela metrópole. Grandioso!
Os The Cult têm tido uma carreira de altos ("Beyond Good And Evil" de 2001 é um deles) e alguns baixos, algumas interrupções de carreira e a associação a outros projectos (como a participação de Astbury nos Doors XXI), para além de alguma intermitência na sua popularidade. Em todo o caso, os 3 álbuns aqui referidos ditaram modas e movimentos, influenciaram inúmeras bandas e, por isso, fazem parte da história da (boa) música.
(Nota: clicar nos links com o nome dos álbuns para ouvir)


5 de dezembro de 2011

Os melhores álbuns de sempre: U2 - "ACHTUNG BABY" (1991)

Estávamos no final da década de 80 e os U2 tinham alcançado o seu pico de fama com o multi-platinado "The Joshua Tree" e o posterior filme e disco "Rattle And Hum", onde a banda decide revisitar as raízes do rock n' roll e da América. Para trás tinha ficado o primeiro período, mais juvenil mas com grande originalidade, e as experiências sonoras da fase de "The Unforgettable Fire". A imagem dos «4 gajos porreiros», simples, sinceros, a lutar por boas causas, e até com uma carga religiosa, era a sua imagem de marca.
Surpreendentemente, a partir daqui tudo, muda. A cortina de ferro cai e os U2 vão gravar a Berlim para respirar o ar dos tempos, Bono e The Edge declaram que andam a ouvir o shoegaze, a mistura de rock e música de dança na altura na berra no Reino Unido, alguns elementos passam por dificuldades nos seus relacionamentos, a banda volta a assentar arraiais na Europa depois de vários anos nos EUA. E nasce "Achtung Baby".
Os primeiros dados a surgir ao conhecimento do público deixaram meio Mundo boquiaberto a questionar-se se se tratava da mesma banda: do visual arrojado de onde sobressaía os gigantes óculos escuros de Bono, dos temas a denotarem um ritmo anormalmente dançável para os padrõs do grupo, a atitude da banda - na pose das fotos, nas entevistas e nos clips - e até a curiosa capa do disco. Tudo parecia propositadanete diferente, houve até quem se desiludísse com a nova atitude propositadamente teatral, cheia de mensagens subliminares, mas, ao mesmo tempo, notava-se uma coerência estética, artística e criativa, como nunca até ali se tinha visto no grupo.

A temática base que atravessa o álbum é a questão da sociedade hipermediatizada, a era da informação. Isso é notótio em canções como "Zoo Station", "The Fly" e "Even Better Than The Real Thing". Mas, por outro lado, há toda uma panóplia de temas muito inspirados que nos levam para outros cenários. O mundo das paixões e das relações é retratado sem falsos pudores em temas como "Who's Gonna Ride Your Wild Horses", "Love Is Blindness", entre outros; "Mysterious Ways" retrata  o jogo da sedução e da sensualidade enquanto que "Until The End Of The World" e "Acrobat" são mais filosóficos e existencialistas. E depois temos aquele tema elevado a uma espécie de hino de união da humanidade que é "One" (mas que poderá ter outras leituras como a temática da solidão e do flagelo da Sida).
"Achtung Baby" é um excelente retrato dos tempos actuais, mas, para além desse realismo, possui com uma sonoridade e uma produção cálida e rica, que alarga os horizontes do ouvinte. É música - no sentido artístico/cultural do termo - no seu melhor.
Depois do lançamento deste disco foi sendo desenvolvido um conceito de concerto revolucionário: a Zoo TV. Cada concerto da banda era como se fosse uma emissão de televisão em que a audiência era bombardeada por dezenas de mesagens em ecrãs gigantes, com temas diversos conforme a canção, ao mesmo tempo que a banda e o cenário obedeciam a uma espécie de performance em que Bono desempenhava o papel de vários alter-egos e até os próprios temas antigos conheciam outras sonoridades.
Tudo isto foi evoluindo para os álbuns seguintes "Zooropa" e "Pop", que tiveram também um conceito - a nível de letras, de música e de touneé - muito coerente, criativo e teatral. No fundo, o grande feito de "Achtung Baby" foi fazer com que a nova atitude dos U2 - talentosa, arrojada, irónica, crítica e até, pasme-se, intelectual - chegasse até às massas.
Desde o início do século para cá os U2 voltaram à imagem simples e bem comportada de antigamente mas, apesar das grandes produções, os álbuns soam mais insípidos a nível lírico e musical, de aí o facto das novas gerações os compararem a outros grupos que quase roçam a mediocridade. Mas a história e os períodos áureos dos U2 permanecem para quem os quiser ouvir e isso ninguém lhes tira.
 

19 de novembro de 2011

MACHINE HEAD AO VIVO NO COLISEU DE LISBOA - Review

A passagem dos Machine Head por Portugal superou qualquer expectativa. O concerto de Lisboa rebentou a escala a todos os níveis. Primeiramente a nível da produção: um som bombástico, com grande definição e volume, e um show visual admirável proporcionado pelos ecrãs gigantes. Depois pela banda, que tanto a nível da composição, da técnica e da performance em palco se encontra num excelente momento de forma.

Ao som dos cânticos gregorianos, os Machine Head entram em palco com a imparável I Am Hell, e logo aí se viu que o som estava a quilómetros das bandas da 1ª parte. A parte final do tema, em tons épicos, desenrolou-se com o cenário repleto de imagens de chamas, num todo espectacular.


Be Still An Know e Imperium continuaram a fase inicial do espectáculo com o público, em delírio, a entoar os temas ou em mosh nas partes mais aceleradas. Os dois guitarristas mostravam uma execução perfeita mostrando que a via dos solos e das harmonias é uma aposta ganha. Aliás, notou-se que os Machine Head, ao contrário da maior parte dos grupos que têm um guitarrista solo ou dois que solam à vez, adoptam a modalidade dos dois guitarrists solarem ao mesmo tempo em sintonia, o que cria um som muito melódico que casa bem com as partes mais densas e pesadas.


Antes de intepretar o single do último álbum, Locust, Robb Flyn fez um discurso alusivo à letra enquanto que as imagens dos ecrãs provocavam um efeito semelhante a uma nuvem (de gafanhotos no caso). O riff foi entoado pela plateia em registo "oooh, oooh, ooh", para além das partes vocais - o que foi uma constante ao logo do espectáculo. Aesthetics of Hate foi dedicada a Dimebag Darrell e a casa veio abaixo com o mosh. Clássicos como The Blood, the Sweat, the Tears (mudado para Beers), Old, entre outros, foram muito bem recebidos por um público muito heterogéneo a nível etário.
O momento mais surpreendente da noite acabou por ser o tema Darkness Within que ao vivo ganha outra dimensão com as imagens projectadas no ecrã, os breakes de McClain executados com mestria e o público a corresponder admiravelmente cantando a letra toda. Arrepiante!

No último tema antes de saír, Robb Flyn instalou a confusão quando na parte do meio de Ten Ton Hammer apelou os presentes para formarem um gigante circle pit que ocupou a plateia quase toda do Coliseu. Nada de estranhar nos concertos destes californianos. O encore foi repartido pelo tema de maior fama do penúltimo álbum, Halo, entoado em uníssono e com novo desfile de solos  admiráveis e sucessivas mudanças de parte; e pelo hino Davidian que proporcionou mais uma sessão de correria, pontapés, saltos e crowd surfing.

Com adopção de elementos mais melódicos e harmoniosos no seu som, os Machine Head fecharam uma espécie de círculo: o seu som parece agora "completo", a pujança, o groove e os tons graves conjugam-se agora com a técnica, os agudos e uma maior musicalidade. Ao mesmo tempo, alargam a sua base de fãs sem precisar de se vender. Ou seja, um caso sério de sucesso com qualidade e um espectáculo de um nível como há poucos actualmente.

Na primeira parte, tivemos os Darkeste Hour - com o melhor som da 1ª parte e a merecerem ser seguidos de perto. A banda do inenarrável Dez Fafara, os Devildriver, agitou as hostes mas, infelizmente, o som que saía das colunas estava muito mauzinho. Agurdemos regresso mais bem sucedido. Por fim, antes dos cabeça de cartaz, actuaram os Bring Ne The Horizon, de som e estética mais próxima do hardcore, com a voz agressiva a correspoder ao estilo, mas misturando alguns pormenores mais inovadores como a voz limpa e algumas partes calmas.

 

8 de novembro de 2011

Discos: MACHINE HEAD - "UNTO THE LOCUST"


Os Machine Head têm sido considerados, quase unanimemente, como uma das melhores bandas do universo do metal na última década e meia. Tanto que se dão ao luxo de ter os consagrados Sepultura a abrir os concertos da sua mais recente tour, ou merecem os comentários mais elogiosos de personalidades como James Hetfield (que chegou a actuar com eles ao vivo) ou Kerry King (que os considerou uma banda imprescindível num eventual "Big 4" de bandas modernas). Desde o seminal primeiro álbum "Burn My Eyes" (de 1994) que o grupo esteve sempre, no fundo, na crista da onda, ditando estilos ou seguindo-os da forma mais talentosa - conforme a altura e o álbum de que falemos. Neste sentido, a edição de um novo álbum de originais dos Machine Head assume sempre particular relevância e neste caso, depois de ouvido e digerido o trabalho, com plena razão de ser. Um trabalho cativante e talentoso, enérgico e bombástico mas com grande cuidado nos pormenores e nuances, e com tão só 7 mas grandes composições (mais 2 versões na edição deluxe).

Logo a abrir o álbum temos a faixa I am Hell, com a sua intro em cântico gregoriano, revelando aquela que - segundo o vocalista, guitarrista e líder da banda - foi a maior influência deste trabalho: a música clássica. Mas nada de sustos, já que depois de uma pequena parte pesadíssima, em tons marciais, o tema deriva para um riff estonteante em ritmo hardcore de deixar apardalado o mais incauto. Um corropio de solos e partes diferentes compõem o tema que acaba em tons mais melódicos. Uma das melhores composições de sempre da banda de deixar qualquer um sem respiração.

Um riff em tapping, de inspiração medieval introduz-nos para a segunda canção, Be Still And Know, num ritmo apesar de tudo mais calmo. Para além do peso característico da banda, nota-se um elemento mais melódico que o habitual que percorre o disco todo: é a influência do heavy mais tradicional - NWOBHV , power metal, etc. - para além da já referida música erudita.

Locust é primeiro o clip deste novo trabalho e é já um dos hinos do grupo, algo como a perfeita  canção metal: início em tons góticos, riff e refrões contagiantes e uma parte tema brutalíssima na melhor tradição Machine Head. Nem se fale do solo de arrepiar com as duas guitarras em harmonia. A letra é uma metáfora que, segundo Robb Flyn, se refere às pessoas gananciosas e ao seu poder na sociedade actual.

A seguir, temos This Is The End que é puro thrash-metal e mais um pedaço de talento para o reportório da banda, apesar do refrão levemente comercial fazer lembrar as novas bandas de metalcore de voz imberbe. O início cita nitidamente Metallica. Por sua vez, Darkness Within é o tema mais calmo do disco mas, ainda assim, consegue surpreender. Pearls Before Swine é mais um daqueles registos thrash progressivo que os Machine Head nos têm habituado nos últimos trabalhos; cada parte da música é altamente criativa e o riff final estaria mesmo a pedir uma continuação. Para terminar, temos a canção eventualmente mais power metal que os Machine Head já compuseram, Who We Are, uma espécie de final em tom festivo.

Em suma, mais um trabalho talentoso do quarteto californiano, um marco na música metal, que só peca por ser escasso. As grandes composições têm a vantagen de não nos cansarem e de descobrirmos pequenos pormenores à medida que vamos ouvindo o álbum mais vezes. Mas chegamos ao fim e ficamos a querer mais. Se calhar é propositado. Se calhar é bom sinal.

2 de novembro de 2011

Moonspell ao vivo: NUNCA A ALMADENSE FOI TÃO INCRÍVEL

No passado dia 31, noite de Halloween, o mítico local de concertos Incrível Almadense assistiu a uma das suas noites mais gloriosas. Os Moonspell aproveitaram a "noite das bruxas" para efectuarem um concerto-celebração dedicado ao seu primeiro álbum, "Wolfheart" (de 1995), e não podiam tê-lo feito de melhor forma: sala apinhada, público em êxtase, um palco maior do que o habitual naquele espaço, um show de luzes espantoso, várias surpresas especias e uma banda em plena forma.

O alinhamento foi irrepreensível com a totalidade dos temas do álbum a ser debitada pela ordem do disco, excepto Ataegina que surgiu a meio do alinhamento. Este tema foi dedicado pelo vocalista ao espírito de festa dos portugueses e o público correspondeu com cânticos e braços no ar - uma constante de todo o concerto, aliás.

A segunda parte do concerto correspondeu aos trabalhos prévios e imediatamente posteriores a "Wolfhert", o que assentou que nem uma luva no ambiente que se vivia na sala, dando uma sensação de máquina do tempo, como se estivéssemos a viver alguma das grandes noites que os Moonspell ofereceram no passado. A diferença, para melhor, é o cada vez maior profisionalismo da banda - e de Fernando Ribeiro como mestre de cerimónias em particular.

Para abrilhantar o concerto, ainda houve dança do ventre e outras coreografias magníficas por um grupo de bailarinas "vampirescas" a acompahnhar as partes mais ambientais dos temas executados, para além de duas cantoras bastante intervenientes nos temas desta fase da banda.

Em suma, um espectáculo memorável como há poucos, com partes de arrepiar tal a química transmitida e "trocada" com o público.

Alinhamento: Part I - Wolfshade, Love Crimes, Of Dream and Drama, Lua D'Inverno, Trebaruna, Ataegina, Vampiria, An Erotic Alchemy, Alma Mater; Part II - Tenebrarum Oratorium (Andamento I), Opus Diabolicum, Goat On Fire, Opium, Awake!, excerto de um novo tema, Mephisto, Full Moon Madness.


25 de outubro de 2011

Os melhores álbuns de sempre: MOONSPELL - "WOLFHEART" (1995)

Os Moonspell actuam no proximo dia 31 deOutubro na Incrível Almadense.
"Wolfheart" é o álbum de estreia da banda portuguesa Moonspell, lançado a 4 de Janeiro de 1995. Depois do criativo EP, embora extremo, "Under The Moonspell", os Moonspell apostam num trabalho influenciado pelo esoterismo, pelas lendas tradicionais e pelo mistério. Este imaginário traduz-se num conjunto de temas coerentes no seu conjunto mas que reflectem múltiplas influências: desde o gothic metal, black metal, hard rock e rock sinfónico. Essa mistura de referências produz, no entanto, um trabalho fresco e novo, algo que nunca tinah sido ouvido até ali. 

Um elemento fundamental do álbum é o folk metal, presente, sobretudo, em "Trebaruna" e "Ataegina" cantadas em português - lingua usada também no refrão de "Alma Mater" - mas também na pequena e deliciosa peça chamada "Lua de Inverno". O trabalho começa com o hino "Wofshade", talvez o tema mais pesado de todo o disco, avançando para "Love Crimes" e o seu refrão poderoso apimentado por uma bela voz feminina. Em seguida segue para o maravilhoso "Of Dream And Drama" (Midnight Ride). Mais à frente encontramos o inevitável "Vampiria" que narra a vertente romântica do história original de Drácula.

A canção "An Erotic Alchemy" é uma autêntica releitura de Sisters Of Mercy, inspirada e com citações de Marquês de Sade. Um dos melhores temas da banda entretanto (quase) esquecido. "Alma Mater", ao contrário, é o tema que os Moonspell interpretam sempre ao vivo, dedicado à "alma" e às raízes que, no caso deles, são Portugal.

Podiamos citar nesta rubrica o álbum "Irreligeous" por muitos considerado a obra prima da banda pela sua óptima colecção de canções, ou outro álbum mais recente como, por exemplo, "The Antidote". Apesar disso, a escolha recaiu em "Wolfheart" porque foi um álbum feito com muita "alma" - o que faz com que seja muito autêntico e criativo - e aquele que criou o imaginário de Moonspell, . Ao mesmo tempo, acaba por ser o álbum mais aberto (que não comercial) a outros estilos e, por isso, mais fácil de ser apreciado por qualquer ouvinte.

17 de outubro de 2011

The Mission ao vivo em Lisboa - Review

Artigo:Jorge Blanch
Foto: Rafalex

Os The Mission regressaram a Portugal para mais dois concertos, desta vez na Tourneé de comemoração do 25º aniversário da banda.
Para além da efeméride, e de isso implicar um revisitar dos principais temas da banda, existia igualmente o interesse extra de poder rever,para além do líder Wayne Hussey, o baixista e o guitarrista originais, CraigAdams e Simon Hinkler, respectivamente.
Em Lisboa, no passado Sábado, a presença massiva de públicoque lotou a sala TMN, mostrou o porquês da banda ter marcado uma geração.
O reconhecimento da banda por parte do nosso público ficou bem patenteado pela excelente recepção, entre outros temas, às "bandeiras" góticas, Wasteland, Severina, Naked and Savage ou Tower of Strenght, ou temas pop como o apoteótico Butterfly On A Wheel ou Like a Child Again (só com Wayne na guitarra numa versão acústica).
Contámos, no entanto, com um péssimo som da sala que impossibilitava a audição perceptível dos instrumentos, algo que não conseguiu minimizar o facto de estarmos na presença desta enorme e marcante banda e da autêntica celebração a que assistimos.

8 de outubro de 2011

Discos: MASTODON - "THE HUNTER"

Os Mastodon actuam no próximo dia 22 de Janeiro no Coliseu de Lisboa.
Considerado por várias listas como um dos melhores de 2011, o mais recente trabalho dos Mastodon é, mais uma vez, demonstrativo de uma criativdade e imaginação raros no panorama musical actual. Desta vez, os norte-americanos surpreendem fãs e crítica apresentando uma colecção de canções curtas de forte pendor psicadélico. Se o álbum anterior, "Crack The Skye", era dominado por longas composições em que os momentos mais mágicos ficavam diluidas, agora cad riff serve de mote para uma canção de duração média com métrica mais convencional. Desta forma, cada parte é apreciada por si ao constiuir um riff ou um refrão forte, sendo cada tema mais memorizável. No todo, é mais fácil ter a noção do talento do grupo.

O som mais metal parece algo posto de lado em prol de canções de sonoridade mais rock, mas com a personalidade e a admirável técnica dos Mastodon. Black Tongue, Curl Of The Burl, Dry Bone Valley, All The Heavy Lifting possuem nuances de 70's, stoner e de grunge mas a sua originalidade fá-las de outro campeonato.

Há espaço para temas mais estranhos, como Blasteroid ou Octopus Has No Friends, e a vertente imagética e psicadélica, que esteve sempre latente, aperece ainda mais acentuada, como nos espectaculares Stargasm, The Sparrow e no tema título. A intro de Creature Lives chega mesmo a conter uma citação propositada a Pink Floyd.

As vozes aparecem mais límpidas do que nunca com Brent Hinds (guitarrista) e Brann Dailor (baterista) em destaque, mas Troy Sanders (baixista e voz e principal) continua com os seus hurros de pirata em dia de tempestade. Bill Kelliher continua com a sua exclusividade à guitarra.

O facto das canções já não terem aquela estrutura progressiva e a falta de petardos de energia (como Blood and Thunder, Circle Of Cysquatch ou Crystal Skull) de outros álbuns podem ser para alguns, como este escriba, pontos em desfavor deste "The Hunter". Em todo o caso, esta nova aventura dos Mastodon revela que a banda continua excitante, cativante e a apostar na qualidade e profundidade da sua música, em contra-corrente ao que é, infelizmente, cada vez mais comum hoje em dia.

26 de setembro de 2011

Os melhores álbuns de sempre: MNEMIC - "SONS OF THE SYSTEM"

Existem certos melómanos que criticam o estilo metal pela falta sua de originalidade o que, em bastantes casos, acaba por ser justificado - para alguns a repetição e o auto-plágio é mesmo motivo de elogio. No entanto, não é isso que acontece com algumas bandas em que a procura do novo e a exploração de novos territórios é a sua imagem de marca, não deixando de continuar dentro dos parâmetros do som hard'n'heavy. É o caso dos dinamarqueses Mnemic.

Elogiados um pouco por todo o lado, os Mnemic têm uma personalidade muito vincada, praticando um groove metal  industrial, que tem conquistado os ouvintes mais atentos. Lançado em 2010, "Sons Of The System" destila qualidade e inovação e só não teve mais impacto a nível de público devido a conflitos entre membros da banda que fizeram com que, praticamente, não se tivessem realizado concertos de promoção ao disco.

Os temas estão ainda mais bem compostos que nos discos prévios, com a sua peculiar contrução baseada na surpresa e no repentismo, misturando riffs potentíssimos com refrões transcedentais e , ritmos altamente criativos e vocalizações - que voz! - bombásticas, quer na parte limpa e melódica quer nas partes agressivas. Outra curiosidade são os samples e sons electrónicos, que dão a esta banda aquela estética futurista e tecnológica, e que aqui surgem inseridos "a dedo" em certas partes para contribuir ainda mais para o valente "kick in the ass" que este álbum representa. Não esquecer as letras, filosóficas e de intervenção, em óptima sintonia com o resto.

Temas em destaque: o tema título, o fantástico mid tempo de "March Of The Tripods" - épico!- e os brutais "Diesel Uterus", "Hero (in)" e "Dreamjunkie", autênticos clássicos para a história do metal.




15 de setembro de 2011

Discos: RED HOT CHILI PEPPERS - "I'M WITH YOU"

Os Red Hot Chili Peppers regressaram. Com novo guitarrista, os Peppers acabam de lançar o álbum "I'm With You" e prometem uma tourneé mundial.Que dizer do novo disco? Apresenta-se ao nível do que de melhor sabe fazer a banda, pelo menos a avaliar pelos seus últimos trabalhos: boas canções, simples, originais q.b. e apelando à boa desposição e descontracção. Em relação aos álbuns anteriores, antes das longas férias que grupo tirou, o disco apresenta-se mais ritmado, com canções mais aceleradas e explorando novos territórios em termos do que tem sido o som à Red Hots.
No entanto, nem tudo são rosas. O estatuto de estreante do guitarrista sente-se demasiado e a guitarra, embora sempre presente, acaba por não se evidenciar ao longo do disco. De facto, os temas andam muito em redor do baixo de Flea e da voz de Anthony Kiedis e as partes instrumentais acabam por rarear parecendo que falta algo ao disco. Resta saber se isto se deve à recusa da banda em dar mais protagonismo ao novo elemento se por incapacidade deste.
Para além disso, saúde-se o regresso de uma das melhores bandas do mundo em termos comerciais e que consegue trazer alguma qualidade real ao maistream.



25 de agosto de 2011

Os melhores álbuns de sempre: THE CHAMELEONS - «SCRIPT OF THE BRIDGE» (1983)

Uma das bandas mais injustiçadas da história da música dá pelo nome de THE CHAMELEONS, um grupo britânico que existiu entre 1981 e 1987, se exceptuarmos algumas breves tourneés de regresso mais recentes. A sua influência chegou a bandas como U2, Sisters Of Mercy, Paradise Lost, Heroes del Silencio, os mais recentes Coldplay, entre muitas outras bandas por esse Mundo fora, tendo servido de inspiração a álbuns tão essenciais como, por exemplo, "Love", dos The Cult, ou "The Unforgettable Fire", do quarteto irlandês. Pode-se dizer que os THE CHAMELEONS foram, no que à música estritamente diz respeito, uns dos principais inventores do que mais tarde se viria a chamar rock gótico. É certo que no limiar dos anos 80 houve uma grande vaga de bandas que se caracterizavam pela obscuridade das melodias e as letras romântico-existenciais, mas foram os THE CHAMELEONS a explorar a fundo, e com inegável talento, o efeito do eco nas guitarras, proporcionado pelas tecnologias que eram novidade na altura - nomeadamente a utilização dos pedais "reverb" e "delay".
Apesar de só terem produzido 3 álbuns no seu primeiro e criativo período de vida, estes são todos de uma qualidade excepcional, nomeadamente os dois primeiros. Se o segundo trabalho, "What Does Anything Means Basically", constitui uma obra a roçar a genialidade pela sua diversidade e pelos caminhos novos que aponta, é no primeiro álbum, "Script Of The Brige", que o som inconfundível dos THE CHAMELEONS soa mais conciso e personalizdo. O tom é nocturno e misterioso, as guitarrras tecem malhas complexas, a voz conta fábulas fantásticas num clima íntimo e aconchegante. Temas como "Second Skin", "Pleasure And Pain", "View From A Hill", "Monkeyland", "Thursday's Child", são de uma beleza estonteante, contrabalançada pelos mais enérgicos "Don't Fall", "Up The Down Escalator" e "Paper Tigers". As guitarras, e a sua densidade eléctrica e épica, estão sempre presentes, mas isto não significa imediatismo nem excesso porque as melodias e a conjugação dos instrumentos possuem sempre um forte cunho ambiental, de profundidade e de criação de paisagens sonoras. Um segredo que se vai desvendando aos poucos, à medida que nos adentramos na floresta mágica destas aguarelas - soturnas, é certo, mas imensamente maravilhosas.
O low profile mediático da THE CHAMELEONS foi decisivo para que nunca tivessem alcançado grande fama, mas se nos resumimos à música propriamente dita, este trabalho é uma obra prima e, sem dúvida, merecedor de um reconhecimento ao nível dos melhores.

10 de agosto de 2011

Devin Townsend no festival Vagos Open Air - Review

No fim de semana de 5 e 6 de Agosto decorreu o festival Vagos Open Air, dedicado às sonoridades mais metal mas também com muitos outros estilos à mistura como o progressivo dos Opeth, o rock calmo dos Tiamat ou o gótico dos Anathema.
No segundo dia, também bem servido de concertos, o destaque foi para Devin Townsend que se estreou em Portugal com um concerto arrebatador, por 2 motivos principalmente: a música magnífica e grandiosa, e a empatia criada com o público fruto do humor e boa disposição do músico.
O humor é uma constante em Devin Townsend, basta ver a intro do espectáculo - que acompanhou o check sound - em que várias imagens de clássicos do cinema, fotos de famosos etc. desfilavam com a cara do músico colada às mesmas, enquanto que as colunas debitavam excertos de músicas pop como Barbie Girl e outros "atentados" - um momento verdadeiramente hilariante.
O concerto em si foi perfeito: um alinhamento irrepreensível, executado na perfeição por todos os músicos, a voz fantástica de Devin e a sua característica presença em palco - que passa por uma forte comunicação com o público, pela sua simpatia e simplicidade e também a sua mímica apalhaçada (no bom sentido). É fantástico como é que este músico consegue ter um desempenho impecável em palco ao mesmo tempo que adopta uma atitude como, por exemplo, se estivesse a beber um café ali na esquina com os amigos. A arrogância e os estereótipos "metaleiros" não têm lugar aqui, apenas uma naturalidade que desafia preconceitos e uma "good vibe" permanente. A energia do músico e do resto da banda é contagiante: mais de hora e meia sem interrupções e sempre olhos nos olhos com o público. A música, bem como a voz de Devin Townsend, é o que se sabe: uma montanha russa, do ambiental à intensidade, derrubando barreiras e misturando estilos com grande coerência. E ainda houve magníficas imagens nos ecrãs gigantes durante a actuação.
Um concerto memorável que ficará para a história e que deixa muita água na boca por mais. Essencial para qualquer fã de música em geral: não perder o próximo o concerto de Devin Townsed em Portugal!

Alinhamento: 
Addicted!, Supercrush!, Kingdom, Deadhead, Truth/OM, By Your Command, Pixillate, Bad Devil, Stand, Juular (com Ihsahn, o vocalista dos míticos Emperor), Color Your World, The Greys, Deep Peace.

Vídeos:
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20 de julho de 2011

Jane's Addiction ao vivo no Optimus Alive - Review

De todos os grupos míticos do rock, já quase todos passaram pelo nosso país (sim até o desejado Ozzy com os seus Black Sabbath em 1973, por incrível que pareça). No entanto, daquela importante fornada que revolucionou a música na transição dos 80's para os 90's faltava ver um dos grupos charneira do chamado funk metal e que trouxe novos ritmos e sonoridades ao rock: os Jane's Addiction.
Foi no passado dia 9 de Agosto que a banda de Los Angeles actuou no palco do festival Optimus Alive em Algés. Dançarinas suspensas sobre o palco, fumos e um som potentoso, o show dos Jane's Addiction é rock no seu melhor: arrojo, provocação, inovação de mãos dadas com espectáculo, asumpção de um rock n' roll lifestyle franco e sem compromisssos.
Apesar do passar dos anos continuam carismáticos: Perry Farrel é a estrela da companhia com a sua voz ambígua, seduzindo completamente a atenção da audiência. Dave Navarro, é o às da guitarra, promovido a improvável socialite (nos EUA pelo menos) mas que continua a assumir a sua condição de roqueiro não abdicando de explorar novos caminhos na sua banda de sempre.
No fundo essa dualidade faz parte dos Jane's Addiction: ao mesmo tempo, são a banda rock que dá espectáculo, com solos de guitarra, psicadelismo, que apela à paz, ao amor, à revolta e ao não conformismo; mas que tem, também, uma personalidade própria que a faz única, imprevisível e excitante!
Aguardemos, pois, o próximo trabalho da banda, que pela amostra vai trazer novidades, e por um prometido regresso para breve (de preferência com um concerto mais longo).

Alinhamento:
Mountain Song, Ain't No Right, Had a Dad, Ted, Just Admit It..., Just Because, End to the Lies, Three Days, Been Caught Stealing, Ocean Size, Stop. Encore: Jane Says

Vídeos:
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6 de julho de 2011

Rubrica "Os melhores álbuns de sempre" - JANE'S ADDICTION - "NOTHING'S SHOCKING" (1988) / "RITUAL DE LO HABITUAL" (1990)

Em meados dos anos 80 surgem em Los Angeles os Jane´s Addiction e logo de início se verificou que estávamos em presença de uma banda especial. A nível musical, o som era altamente criativo, misturando funk, hard rock, punk e algum do rock alternativo que, à data, ecoava na Europa. A imagem era excêntrica, nomeadamete o vocalista Perry Farrell (também pintor/escultor pop e surfista) com os seus visuais bizarros, as suas entrevistas provocantes, a lançar farpas a tudo o que fosse conservador e opressor de direitos. Depois, durante anos, a sua forma de expressão foi quase sempre em concertos, começando por estar ligados aos "happenings" de juventude e de artistas, às universidades e a eventos de desportos radicais. Não foi de estranhar que o seu primeiro álbum - "Jane's Addiction" (1986) fosse gravado ao vivo em concerto.
Mas foi com o seu primeiro álbum de estúdio, "Nothing's Shocking" que a banda provou que era um caso sério no rock em geral, com as suas magníficas canções e a produção irrepreensível. A guitarra de Dave Navarro prova ser fundamental no som da banda, Stephen Perkins prova ser o baterista mais inovador da sua geração - revolucionando o ritmo amorfo do rock da altura - o baixo de Eric Avery traz tanto a influência funk como a pós-punk para a banda, e a voz de Farrell, ambígua e única no Mundo, com as suas reverbações, dá uma atmosfera celestial e grandiosa ao grupo. Do calmo ao pesado, do alegre ao obscuro, o álbum passa por inúmeras tonalidades. A começar nas letras, que passam por temas como a celebração de vida de Ocen's Size e Up The Beach, a liberdade individual do magnífico Mountain Song, a religião em Had a Dad, a política em Idiot's Rule, o sexo na visão de um psicopata no psicadélico Ted, Just Admit It... e o hino dedicado à amiga prostituta que dá nome à banda, Jane Says.
Em 1990, os Jane's Addiction sobem um degrau e editam o álbum "Ritual de lo Habitual" que começa com a intro «Nós temos mais influência nos vossos filhos que vocês!» ...revelador. O disco divide-se, essencialmente,  em duas partes: uma com temas na linha do álbum anterior mas com grande inspiração - como Stop, Ain't No Right e No One's Leaving - e outra constituídas por longas composições, mais calmas e hipnóticas - como é o caso do hino Three Days (uma metáfora religiosa para falar sobre o amor livre) e de Then She Did. No meio existe o (talvez) maior hit da banda, Been Caught Stealing, e para finalizar a inesperadamente romântica, Classic Girl.
Os Jane's Addiction separaram-se ano e meio depois, com um concerto final em que o vocalista actuou tal como veio ao Mundo (!!). Voltariam intermitentemente em 1997, para uma bem sucedida tour, em 2001-2004, com outro álbum de originais, e agora desde 2009 com mais um trabalho na calha.
A sua influência ultrapassa gerações e estilos e foi tanto musical (influenciou o grunge, o nu-metal, o rock alternativo, etc.), como a nível da atitude em palco e fora dele, como também ao nível da indústrial musical, especialmente a americana, ao demonstrarem que as editoras e os músicos independentes podiam ter sucesso; isto para além do contributo de Perry Farrell ao inventar e organizar o conhecido festival itinerante Lollapalooza. No que a estes dois discos diz respeito, ambos foram autênticas pedradas no charco que abriram novos rumos ao rock.

Links para vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=ZwI02OHtZTg

http://www.youtube.com/watch?v=1kAIMlISHhU

http://www.youtube.com/watch?v=tFW37YmqfKY

http://www.youtube.com/watch?v=Ek6N_-O19do

25 de junho de 2011

Os melhores álbuns de sempre: COCTEAU TWINS - «VICTORIALAND» (1985)

Certa música faz-nos alcançar tais sensações interiores que se podem de classificar de perfeitas, puras, primordiais, nos fazem celebrar a existência e o significado das coisas mais simples. É o caso da maior parte das composições dos Cocteau Twins e, neste particular, de um dos melhores álbuns de sempre: «Victorialand».
Quem conhece o grupo sabe do que se fala aqui: a voz angelical de Liz Frazer, muitas vezes em várias camadas, deambula por entre um mar de sons e melodias hipnóticas feitas praticamente apenas com guitarras eléctricas carregadas de efeitos.

Este disco está exactamente a meio da carreira do grupo escocês, terminada, até notícia em contrário, em 1996: entre as melodias sombrias e amarguradas dos primeiros anos e a luminosidade dos seus últimos discos. Outra nota importante é que este álbum distingue-se de muitos outros por não utilizar qualquer tipo de percussão. Este facto faz com que os pontos fortes do grupo venham ao de cima.

No entanto, o segredo deste álbum está no talento puro e natural dos elementos do grupo, com cada canção a constituir uma tonalidade para um quadro que se revela esplendoroso. Atente-se na capa, em como a imagem reproduz os tons vermelhos alaranjados de um pôr-do-sol tropical ou o crepitar de uma lareira reconfortante ou uma aurora a anunciar um dia solarengo. Logo ao primeiro tema, o álbum eleva-nos para locais escondidos na nossa mente e nos nossos sentidos como se estivéssemos a ouvir o cântico dos anjos ou o canto das sereias (como tão bem esta mesma intérprete faz no tema dos This Mortal Coil). Uma experiência única para viver em doses moderadas e escolhidas a dedo, porque assim ainda sabe melhor.

Menção especial para outros trabalhos belíssimos desta banda, que podiam estar aqui na lista dos melhores, como: «Treasure», «Tiny Dinamine/Echoes In a Shallow Bay» «Four Calendar Café» ou «Milk And Kisses».



10 de junho de 2011

Discos: FLEET FOXES - "HELPLESSNESS BLUES"

Os Fleet Foxes actuam no próximo dia 8 de Julho no Festival Alive.
Os Fleet Foxes acabam de editar o seu segundo álbum. "Helplessness Blues" representa um passo em frente na sempre difícil tarefa de suceder a um trabalho aclamado por todos os quadrantes, como foi o álbum homónimo de 2008. O novo disco continua a explorar os caminhos do folk pastoral neo-hippie, transportando-nos para cenários idílicos e mundos quiçás imaginários. Não representa asurpresa do trabalho de estreia mas apresentanos canções amadurecidas, com mais conteúdo instrumental e, em geral, mais ritmo que o álbum anterior. Assim pode-se dizer que temos banda: depois de um primeiro disco a roçar a genialidade, temos agora um álbum dentro do seu estilo próprio mas um pouco mais virado para os palcos, ou seja, a segunda metade da carreira de um grupo. Pela sua personalidade inconfundível e a sua imaginação prodigiosa, pode-se dizer que os Fleet Foxes se destacam no role de bandas actuais e podem daqui para afrente tocar muitos públicos apesar de ser de facto uma banda à parte de tudo o que costumamos ouvir.

31 de maio de 2011

Rubrica "Os melhores álbuns de sempre": XUTOS & PONTAPÉS - "1º DE AGOSTO NO RRV (1986) / "CIRCO DE FERAS" (1987)


No Portugal de meados da década de 80, os primeiros adolescentes da democracia começavam a assimilar a cultura e as modas  "lá de fora". Surge uma leva de bandas que, sendo mais obscuras que aquelas do boom do rock anos antes, tinham uma maior profundidade lírica e musical e, sobretudo, uma atitude e um estilo ligados directamente aos movimentos da música pop-rock mundial. Nesse capítulo, o Rock Rendez- Vous (RRV), em Lisboa, assumia-se como a catedral das novas tendências da música.
Associados a esse local e a essas novas correntes, os Xutos e Pontapés surgem como a mais destacada dessas bandas. Com a entrada de um novo guitarrista  - o virtuoso João Cabeleira - a banda começa a aprofundar as características únicas do o seu som, ao mesmo tempo que vão cimentando um estatuto com sucessivos concertos.
A pedrada no charco foi o álbum "Cerco" (de 1985) e as diversas canções editadas em singles e colectâneas na altura. Foi precisamente na tourneé de apoio a esse álbum que os Xutos gravam  "1º de Agosto no RRV". Gravado ao vivo naquela sala, o concerto passa pelos melhores temas do disco que  promovia, como o eterno "Homem do Leme", o hit da altura, "Barcos Gregos", e a pérola que é "Conta-me Histórias". Constam também outras canções contemporâneas a esse trabalho, e que nele poderiam estar, como: "Esquadrão da Morte", "Remar Remar" e "1º de Agosto". A isto somam-se os primeiros sucessos do grupo como "Sémen", "Avé Maria", "Morte Lenta"... e até a versão da "Minha Casinha", que já era interpretada em concerto. O álbum - editado oficialmente em 2000 - é um autêntico manual do "som à Xutos", com toda energia e personalidade que se tornariam a sua imagem de marca.  
Um ano depois daquele concerto, o grupo edita o álbum "Circo de Feras", ainda sob o tom de revolta, de rebeldia e de não alinhamento que caracterizava as suas canções prévias. O talento para a composição assim como os traços mais característicos do grupo, como a voz de Tim, os riffs de Cabeleira, e a pujança de Zé Pedro e Kalú, estão lá todos. Sem esquecer o sax de Gui. "Não Sou o Único", "Contentores", "Circos de Feras" e "Vida Malvada" são temas que ficaram para a história dos Xutos, para além de outros como "N'América", "Esta Cidade" etc.
Depois desta fase, o grupo cimentou a carreira que todos conhecem, com clássicos como "88" ou "Dizer Não de Vez", até alcançar o estatuto da melhor banda portuguesa de todos os tempos. Mas a essência da sua música nasceu aqui.



15 de maio de 2011

Os melhores álbuns de sempre: PARADISE LOST - «ONE SECOND» (1997)


Os Paradise Lost são considerados das bandas, se não "a" banda, que institui o que se chama o gothic metal e que produziu vários álbuns marcantes dos quais se destaca o mítico "Icon" (de 1993) - que poderia estar nesta rubrica - e que os levou a serem considerados das melhores bandas de metal britânicas de sempre. Por tudo isso, o grupo é idolatrado ainda hoje por muitos fãs do género, apesar de entretanto terem editado vários álbuns menores, uns por caírem num comercialismo descabido outros por revelarem alguma falta de frescura.
Sensivelmente a meio deste processo quando a sua carreira respirava um sucesso razoavelmente massivo, o grupo edita aquele que é um dos álbuns que melhor mistura o rock com a electrónica. Estávamos no apogeu da música electrónica que dominou o final dos anos 90 e os Paradise Lost arriscam pintalgar os seu gothic-metal com os sons mais inovadores que se ouviam na altura, ao mesmo tempo que investem num formato de canção baseado naquele estilo de pop melancólica tão celebrizada por bandas como os Depeche Mode.
O resultado é deslumbrante mas não seria o mesmo se essa mudança fosse artificial, como nos álbuns sequentes se veio a verificar. Pelo contrário, neste disco respira-se inspiração, anseio por arriscar mas ditado pelo coração, com muita naturalidade.
Sinteticamente, este álbum está dividido em dois: por um lado os temas mais rock, na linha das canções mais acessíveis da primeira fase da carreira do grupo, decorados com uma produção mais moderna que adiciona leves sons electrónicos ou uma linha marcante de piano (algo que passou a ser muito popular mais tarde noutros grupos). Por outro lado, são aqui introduzidos um estilo de canções que os Paradise Lost nunca tinham feito: mais calmas, introspectivas, com muito mais elementos tecnológicos e que apostam em larga medida na conjugação entre silêncios e intensidade sonora; e é esta a chave da genialidade deste disco.
Para além de sucessos instantâneos como o tema título ou "Say Just Words", o grande valor deste álbum está nos temas negros e épicos, com uma sensibilidade melódica muito pop é certo, mas que alcançam o estatuto de grande canção para qualquer ouvido independentemente de um dado gosto musical específico. "Mercy" é um grande tema intemporal em que os sintetizadores tem uma importância fundamental não deixando de ser uma antítese do que é comercialismo; "The Sufferer" é uma canção com grande impacto ao vivo e aquela em que está mais explícita a dicotomia calma/intensidade; a melodia de "This Cold Life" arrepia até o mais insensível enquanto que "Sane" é impecavelmente bem produzida. Por fim temos "Disappear", um auntêntico hino, profundo e grandioso.
Por uma razão ou por outra, e por muito preconceito, este álbum passou ao lado de muito boa gente. Pode ser que cada um, ouvindo-o do princípio ao fim, se aperceba do que tem em mãos.



28 de abril de 2011

A história dos FAITH NO MORE

Consideradas uma das bandas mais revolucionárias e criativas de sempre, os Faith No More nasceram em 1982 quando Roddy Bottum (teclas), Mike Bordin (bateria) e Billy Gould (viola-baixo), que já tocavam juntos, recrutaram Jim Martin para a guitarra. O nome vem de um trocadilho com a sua antiga banda (Faith The Man), no entanto muitos fãs interpretam o nome como uma espécie de lema da agnóstica geração x.

Diversos músicos ocuparam a vaga de vocalista nesta fase até ter ficado Chuck Mosley, que participaria nos dois primeiros discos da banda: We Care a Lot, de 1985, e Introduce Yourself, de 1987. Mosley foi demitido em 1988 oficialmente por ser alcoólico e ter causado problemas nalguns concertos. Mike Patton, que em pouco tempo se tornaria a figura mais emblemática do grupo, entrou nos Faith No More poucas semanas antes das gravações do disco "The Real Thing" por indicação de Jim Martin, que havia ouvido uma demo da banda de Patton, os Mr. Bungle.

O álbum "The Real Thing", lançado em 1989, é um verdadeiro divisor de águas na carreira do grupo, com canções mais bem resolvidas e com o carisma de Mike Patton a contribuir para transformar os Faith No More num grande sucesso comercial. A canção grandemente responsável pela transição foi "Epic" que, com seu arranjo grandioso que faz jus ao título, vocalização rap e refrão orelhudo, chegou ao 9º lugar no top de singles da Billboard e um vídeo clip exibido à exaustão na MTV. Com mais dois singles de sucesso, "Falling to Pieces" e "From Out Of Nowhere", o disco The Real Thing chega a lugares de destaque nos tops de vários países, assim como o álbum ao vivo "Live At Brixton Academy" gravado e editado pouco depois.

Sob grande expectativa, o novo álbum, "Angel Dust", foi lançado em 1992 e apontava para outras direções. O trabalho era um caldeirão de especiarias - um cruzamento de múltiplos estilos, sons e estados de espírito - que acabava por soar, apesar de tudo, muito coeso pelo espírito de aventura e arrojo que transmitia. Mike Patton participou no processo criativo do disco e pôde exercitar todo o seu experimentalismo e gosto pelo bizarro. Musicalmente, a banda mostrava evolução, incorporando elementos eletrónicos e sons de sintetizador mais diversificados, proporcionando uma atmosfera cinematográfica a algumas canções. O álbum deu início a uma nova corrente que acabaria por influenciar grande parte do espectro musical: o crossover, o romper das fronteiras entre os estilos musicais - do rock com a dança, do metal com o hip hop, etc. O lugar privilegiado dos Faith No More nos tops era garantido pelos singles "Midlife Crisis" e "A Small Victory". O 4º single de "Angel Dust" foi para uma canção que inicialmente não estava no álbum: "Easy", cover dos Commodores, que se tornou noutro grande sucesso.

 
"Angel Dust" rendeu mais uma tourneé gigantesca pelo mundo onde o grupo, além de se promover em concertos próprios, actuou em festivais e nas 1ªs partes de Metallica e de Guns N' Roses. Ao invés de encarar o compromisso como oportunidade de atrair novos públicos, os Faith No More eram eles próprios, provocando a audiência com sessões de garrafada, insultos e piadas sarcásticas. O público mais superficial não entendia a postura contra-cultura do grupo, mas acabou por ser esta a fazer crescer um verdadeiro culto à volta dos Faith No More.
Com a saída de Jim Martin, logo após a tour, foi contratado Trey Spruance, colega de Patton nos Mr. Bungle, para gravar o novo álbum. Posteriormente, os Faith No More convocam o então roadie Dean Menta para fazer o trabalho da guitarra na tour. "King for a Day… Fool for a Lifetime" foi um novo passo para a banda: o som passou a ser mais crú e mais pesado, incluindo agora menos electrónica. As canções eram concisas e directas, apesar de muito diferentes entre si, continuando a revelar um alto nível de inspiração. Temas como "Ricochet", "Evidence", "King For A Day" e "Just A Man" tornaram-se clássicos dos FNM tal como outros mais pesados, como "The Gentle Art Of Making Enemies", dedicada a Jim Martin, e "Digging The Grave", que não deixam de revelar grande qualidade. A este lançamento é atribuído o título de precursor do género nu metal, com várias bandas deste estilo a citarem-no como influência no método de composição e delineação sonora.
Entretanto, os trabalhos paralelos dos integrantes dos Faith No More cresciam. Patton entrou de cabeça en projectos avant-garde, o baterista Mike Bordin tocou com Ozzy Osbourne e Roddy Bottum estreou o projecto, Imperial Teen. Os rumores sobre um possível fim da banda tomavam proporções maiores e coube ao baixista Billy Gould segurar a bandeira do quarteto. Partiu dele a iniciativa de convidar o amigo John Hudson, da banda System Collapse, para assumir as guitarras no novo disco a ser gravado.


Em pleno auge da onda da música eletrónica, foi escolhido o produtor Roli Mosimann, para produzir "Album Of The Year". Essa influência eletrónica viria a marcar algumas faixas do álbum, como o magnífico "Stripsearch", bem como gerar uma gama de remixes  dos temas do trabalho. Notou-se também uma preocupação em em destacar os teclados novamente, como nos espectaculares "Last Cup Of Sorrow" e "Ashes To Ashes". O legado mais metal apareceu em faixas como "Collision" e "Got That Feeling". Em geral, o álbum apura a arte em fazer boas composições, condensando os excessos de Mick Patton e focalizando agora a diversidade estilística na arte de fazer grande canções, como "Helpless", "Pristina", etc. Tudo isto mantendo o estilo inconfundível dos FNM (não sendo necessario chocar para isso acontecer). Em suma, mais um clássico.
Os últimos meses da primeira vida dos Faith No More caracterizaram-se por grandes elogios às suas actuações ao vivo onde mezclavam canções novas com material antigo e continuando a arrecadar uma leva impressionante de fãs.
Mas os diferentes carácteres criativos dos seus membros vieram ao de cima, tomando proporções insuperáveis, e foi anunciado, perante a surpresa geral, o encerramento de actividades da banda, tão somente 2 semanas depois dos seu últimos concertos ... no Porto e em Lisboa (!!) curiosamente.
11 anos depois, em Maio do ano passado, os FNM retomaram actividades estando em tourneé quase initerrupta desde aí, com concertos lotados um pouco por todo o Mundo.
O legado desta banda é indiscutível, tendo influenciado dezenas de artistas da atualidade, não sendo raro encontrar músicos que referenciam os álbuns do FNM como dos melhores da década de 90. Acima disso, há também o espírito da canção desafiadora, do não-conformismo com o sucesso fácil que os Faith No More viveram na pele e fazem questão de trazer para os terrenos mainstream.

10 de abril de 2011

Os melhores álbuns de sempre: SENSER - «STACKED UP» (1994)

Nos inícios da década de 90, o cruzamento do rap com o metal começou a ganhar um novo dinamismo. Da mesma maneira, inúmeros projectos apostavam na mistura de estilos como a sua imagem de marca. Na Londres da época estava-se na ressaca do shoe-gaze mas a dance-música arrancava decididamente para uma época de ouro. E foi na capital britânica que um grupo de freaks de origens diversas formaram os Senser que se estrearam em 1994 com um álbum assombroso chamado "Stacked Up".
Este disco traduz-se na mistura de uma miríade de estilos de entre os quais o rap, o metal, a dance-music, entre outros. Servidos por músicos de eleição, entre os quais dois excelentes vocalistas, o álbum assenta em excelentes canções e letras que respiram o espírito da época. Tudo polvilhado com inúmeros pormenores electrónicos - cortesia de vários elementos da banda que criaram e executaram os samplers - dando uma atmosfera densa e colorida ao todo do trabalho. O bom gosto da produção a nível de sintetizadores assim como a sessão rítmica - dançável, criativa e rigorosa ao mesmo tempo - são dois pormenores decisivos para a genialidade deste disco.
O primeiro tema "State Of Mind" revela de imediato ao que vem este grupo. Heitham Al-Sayed - um dos rappers mais rápidos a debitar palavras do planeta - declara com raiva no seu "british" perfeito «...my state of mind, they won't change me!».
O segundo tema, "The Key", é simplesmente perfeito, com o sintetizador em regime "sobe e desce", um ritmo a roçar o dub e Al-Sayed mais calmo na palavras, para depois aparecer a voz de Kerstin Haigh num refrão verdadeiramente orgásmico. Uma palavra ainda para o video-clip desta canção que manifesta a influência da cultura rave/neo-hippie nos Senser.
Em "Switch" o ritmo do baixo e da bateria faz tremer o assento de qualquer cadeira. Esta é, provavelmente, a maior aproximação ao hip-hop no álbum todo (os Da Weasel passaram por aqui?),no entanto, a melodia imprimida pela vocalista nalgumas partes e a riqueza sonora está a milhas de certos minimalismos daquele estilo.
"Age Of panic" é ainda hoje o hino dos Senser. Sob uma base que mistura electrónica e guitarra em power chord, o vocalista traça o retrato do estilo de vida das sociedades modernas. Um autêntico "petardo" sonoro. "What's Going On" começa com um riff à Slayer (!!!) que é depois admiravelmente acompanhado por um ritmo hip-hop. O refrão é dos mais orelhudos do disco.
Depois, temos canções de base rap-metal misturadas com outras de outros estilos, como o house de "Door Game" ou o lounge de "Peace" - por sinal um título extremamente adequado ao tema que é. Já na parte final, "Eject" é o regresso ao rap-metal mais agressivo com o refrão a alcançar mesmo um ritmo hardcore. De repente, a meio da música, os dois vocalistas, em cânticos orientais, entram num duelo em espiral ascendente, num todo de pôr qualquer pessoa em pele de galinha.

Este álbum veio reformular a cartilha de inúmeros estilos, sendo percursosr, até de movimentos que mais tarde iriam esplodir, como o tecno-rock e o nu-metal. Quanto aos Senser, eles continuam, embora tenham editado apenas mais dois álbuns desde aquele, afectados por diferendos internos, fruto talvez do perfil instável de artistas. A qualidade mantém-se, apesar da pouca promoção, mas longe da genialidade daquele primeiro trabalho. É como se as condições que permitiram gerá-lo tivessem sido únicas, irrepetíveis, fruto do acaso...

25 de março de 2011

Os melhores álbuns de sempre: THE STONE ROSES - «THE STONE ROSES» (1989)

No último ano da década de 80, uma revolução estava a ter lugar na música pop com epicentro no Reino Unido. À explosão das raves e da música tecno/house aliava-se uma mudança de paradigma da música mais convencional. Havia várias cisões que estavam extremadas que necessitavam de ser ultrapassadas: aquela entre a música comercial e a música alternativa, a música alegre que era superficial e a música criativa que era por tradição soturna e, por fim, a música para dançar e a música rock apenas para ouvir. Os primeiros passos para ultrapassar essas barreiras foram dados por esses monstros sagrados que dão pelo nome de New Order, entre outras bandas, tal como por algumas editoras consagradas à música verdadeiramente nova, como a mítica Factory Records. Desta onda nasceu o que viria a chamar-se o shoe-gaze ou o rave'n'roll, que iria influenciar o estilos musicais por todo o Mundo, aliando o ritmo e a alegria à música pop/rock relevante.
Desta fornada de bandas, aquela mais representativa e inspirada (naquela altura) foi, sem sombra de dúvida, os Stone Roses. Depois de vários singles e de concertos a abarrotar, os Stone Roses lançam em Abril de 1989 o seu primeiro álbum: uma colecção de belíssimas canções, leves e ricas ao mesmo tempo, de elevar a alma no dia a dia; cometendo até o pecado de deixar de fora excelentes temas (recuperados depois em colectáneas e álbuns de raridades posteriores).
O som aliava vozes delicadas da escola hippie dos anos 60 (Simon & Garfunkel, Byrds), riffs altamente imaginativos a meia distorção e uma sessão rítmica extremamnte versátil e precisa. As canções tal como as letras repiram paz, amor e felicidade por todos os poros, constituindo autênticas injecções de boa disposição, não deixando de ser autênticas pedradas no charco à época, apesar da óbvia inspiração psicadélica.
Desde a idílica "I Wanna Be Adored", à descarga de "She Bangs The Drums", a paz de espítito de "Waterfall", até aos hinos que são "Made Of Stone" e "Iam The Resurrection" (esta com direito a jam no final).
Um álbum para história que chegou a colocar os Stone Roses num patamar comparável a uns Beatles. Infelizmente a banda acabaria por se desagregar, no meio de drogas e de tiques novo-riquistas, e o segundo álbum só viria muito mais tarde e sem a mesma frescura. O seu legado influenciou inúmeras bandas desde toda a onda brit-pop (que afogou o shoe-gaze num lodo de auto-citação) até à música pop em geral (os próprios U2 nos anos 90 reconheceram ter alguma influencia deste estilo musical). Em suma, a música, tal como a conhecemos hoje, não seria provavelmente a mesma sem esta banda e este álbum.


18 de março de 2011

Os melhores álbuns de sempre: MEGADETH - «RUST IN PEACE» (1990)

Numa altura em que a sua banda rival – os Metallica - se afirmava como o expoente máximo do chamado metal, e do thrash metal em particular, Dave Mustaine, líder dos Megadeth, decidiu fazer uma jogada de mestre. Apesar a crescente, mas relativa, fama mas que o seu grupo vinha alcançando, contratou para a guitarra solo e para a bateria – os dois lugares decisivos das bandas deste estilo – dois músicos excepcionais. A saber: Marty Friedman, um estudioso da guitarra eléctrica especialista no estilo “exotic metal” caracterizado por escalas e harpejados de tonalidades orientais ou com influências do flamenco, muito baseado em meios tons e dissonâncias; e Nick Menza, um baterista thrash por excelência com uma técnica de duplo bombo acima da media. Junto a estas novidades foi tomado um cuidado redobrado na elaboração dos temas que continuam a ser complexos mas agora com uma fluência melódica muito mais inspirada. Resultado, este colosso da música metal que dá pelo nome de "Rust In Peace".
Desde o início pujante de Holy Wars, passando pela dúzia (!!) de solos de Hangar 18, pelos recortes harmoniosos de Lucretia até ao groove de Polaris. Este album acaba por constituir uma autêntica Bíblia para os entusiastas de solos de guitarra eléctrica, onde o virtuosismo se casa na perfeição com a originalidade e a inspiração e o ouvinte fica estonteado com tamanha demonstração de força e talento.
Um exemplo da genialidade deste disco pode ser comprovada, por exemplo, num dos temas menos conhecidos do alinhamento, “Five Magics” onde a partir de um início calmo feito tensão e silêncio a canção arranca num crescendo que passa por diversos estilos (como, por exemplo, a valsa(!!!??)) para acabar num rodopio impressionante temprado com um solo em tapping.
A partir deste disco o metal mais poderoso ganhou uma profundidade que não se conhecia alcançando um novo patamar de qualidade e, por conseguinte, de (bons) ouvintes.



26 de fevereiro de 2011

Os melhores álbuns de sempre: MACHINE HEAD - «BURN MY EYES» (1994)

Na altura da edição deste seu primeiro álbum, os Machine Head era um bando de anti-sociais pertencentes a gangs dos subúrbios de San Francisco. Neste trabalho, o ambiente quotidiano dos quatro elementos do grupo, com toda a sua carga intensa e violenta, é retratado em forma de música com este resultado: um som brutal como até então nunca se tinha ouvido, ritmos extremamente elaborados do mais rápido ao mais calmo, e riffs cheios de balanço e muito criativos. Em geral, respira-se uma atmosfera obscura e profunda mas extremamente poderosa, feita de silêncios, mudanças de ritmo, breaks pujantes, tudo bate certas na altura certa, uma autêntica máquina de adrenalina. A afinação muito mais grave do que o habitual das guitarras adensa o clima intenso do disco, a produção roça a perfeição e a voz alcança aquilo que poucos conseguem: cantar com raiva e, ao mesmo tempo, soar bem, passando pela melodia pró-grunge e chegando, em algumas partes, ao susurro (!!!??). Se a isto aliarmos as letras de intervenção, abordando temas como, a política, corrupção, drogas, religião e a street culture, ficamos com um autêntico cocktail explosivo em forma de música. Um clássico.



10 de fevereiro de 2011

Os melhores álbuns de sempre: TESTAMENT - «LOW» (1994)

Uma das bandas mais carismáticas do rock pesado dá pelo nome de Testament. Originários da Bay Area (os arredores de San Francisco) - à semelhança de outros ícones seus contemporâneos de geração e estilo musical como os Metallica, os Megadeth e os Slayer, os Testament foram pioneiros no que se viria a chamar o thrash metal, aquele estilo de música que se caracteriza pelo desenvolvimento da técnica do power chord na guitarra eléctrica como fio condutor de uma música que se caracteriza também pela velocidade, pela adopção de melodias de cariz obscuro apostando mais no poder do som e pela exploração do solo de guitarra e do duplo bombo na bateria (vide o caso dos Metallica da fase Master of Puppets ou da maior parte dos álbuns de Slayer). Se se quer conhecer Testament na sua fase mais thrash, comece-se então por um trabalho chamado "First Strike Stills Deadly" que nada mais é que a regravação de temas dos 2 primeiros álbuns (editados originalmente a meados dos anos 80) com a produção do ano de 2001 e com resultados assombrosos. No entanto, o álbum original mais cuidado, mais diversificado, mais audível por qualquer ouvinte e, conforme se pode verificar passdo este tempo, com um grau de inovação apreciável, é "Low". Nesta altura, os Testament tinham sofrido várias alterações na sua formação e desta apenas resistiam o vocalista Chuck Billy e o guitarrista Eric Peterson. Assim, numa altura que o metal tinha ganho um novo balanço a nível de popularidade (1994) , bebendo em bandas que revolucionavam este estilo musical e dominavam os tops (Pantera, Sepultura) ou que começavam a despontar (Machine Head), os Testament resolveram apontar baterias noutra direcção diferente da que os tinha conduzido à situação de estagnação em que se esncontravam no início da década de 90. Neste sentido, foram buscar músicos de excepção nestas lides: James Murphy, conceituado guitarrista dos Death que se caracteriza pela sonoricdade peculiar dos seus solos, Joey Tempesta, que também tocava nos White Zombie e que actualmente faz parte dos The Cult (!!!), e Steve Di Giorgio, dos Sadus.
Com esta formção, os Testament arrancaram para um álbum inspiradíssimo que para além da energia constante em grande parte dos temas, proveniente de riffs demolidores e da produção excelente para a altura, contém um lado mais ambiental e profundo gerada pelo carácter exótico da guitarra de Murphy e da introdução de partes calmas, em doses com porção ideal, que tornam este disco muito variado, excitante, sem perder o seu lado poderoso. A introdução da vertente ambiental neste disco (sem cair na balada hard-rock fm de outros tempos) misturada com a variedade rítimica é das coisas mais espectaculares deste trabalho e sem paralelo no metal da altura, excepção feita a outro disco desta época chamado "Arise", dos Sepultura.
O tema título, apesar de ter honras de video-clip, é mais uma canção no meio de outras que apesar de apostarem na simplicidade do trinómio riff (talentoso sempre)-tema-refrão têm sempre uma parte instrumental ou de solo que deixam a cabeça a andar à roda, tal a técnica e a imaginação empregues - veja-se o caso de Legions, Hail Mary ou Dog Faced Gods. A diversidade rítmica é também uma característica deste álbum que confere mais entusiasmo e força ao caráter da música, em vez de um ritmo constante que acaba por se tornae aborrecido ao fime de algum tempo mesmo que seja "sempre à'brir". Em certos temas chega a ser dançável, como no caso de All I Could Bleed (influência funk-metal?) ou tornar um tema ainda mais espectacular com um pára-arranca constante, como acontece em Chasing Fear. Os temas calmos marcam presença de forma irrepreensível, e impecavelmente produzidos, e a técnica dos novos elementos fica patente no instrumental em que aparece mais nítida uma nuance que paira sobre todo este disco: o oriente. Aprofundando o que certos grupos desta área já vinham experimentando, os Testament recorrem, neste trabalho, a melodias de óbvia inspiração árabe, indiana, ou afins, nos solos, dedilhados, riffs e até em certas temáticas das letras.
Com este álbum os Testament renasceram para um novo fôlego na sua carreira. Para os não fundamentalistas do old school é capaz de ser mesmo a masterpiece desta banda americana, permanecendo ainda e sempre actual, pelo menos para quem gosta de música diversificada, talentosa e bem produzida.

22 de janeiro de 2011

Os melhores álbuns de sempre: THE YOUNG GODS - "HEAVEN DECONSTRUCTION"

Em 1996, um ano depois do lançamento do  álbum mais bem sucedido da sua carreira, "Only Heaven", os The Young Gods editam um disco que apresentado como uma espécie de álbum de remisturas daquele trabalho. No entanto, na prática, é certo que  utiliza sons utilizados naquele álbum prévio, para além de otros que ficaram de fora nas mesmas sessões de gravação/experimentação,  mas, de resto, não tem nada a ver: são outras canções, totalmente instrumentais e num estilo totalmente novo e radical nos Young Gods e na música em geral.

"Heaven Deconstruction" é tão só e apenas um dos melhores álbuns de música ambiental de todos os tempos, extraindo o melhor que este estilo oferece - paisagens sonoras, profundidade, inovação, surpresa - e evitando as suas armadilhas - o aborrecimento e o excesso de repetição. Isto para além da relação subliminar com os estilos mais undergroud da música trance e chill out. O álbum não tem, praticamente, um só som de percussão. É unicamente constituído por sons etéreos e planantes nunca ouvidos até à data, fruto da imaginação e trabalho de pesquisa de Franz Treichler (o vocalista e principal compositor) e Al Comet (o teclista manipulador de sampler).
Como se sabe o sampler é um instrumento que obtém e reproduz qualquer som da realidade, podendo depois transformá-lo em algo totalmente novo que nunca tenha sido ouvido. Pois reza a lenda que os sons usados em "Only Heaven" e depois neste "Heaven Deconstruction" foram obtidos... numa banheira (!!?). Isto não espanta na medida que os The Young Gods foram pioneiros na utilização deste tipo de tecnologias e sempre se destacaram por isso.
Ouvindo este álbum (com atenção e num ambiente propício) não podemos deixar de experimentar uma sensação de um certo misticismo, uma espécie mergulho no subconsciente, uma sensação de ligação à grandiosidade do universo e da existência. São paisagens desérticas e belas, um autêntico filme sonoro que se desenrola na nossa mente e que nos dá uma sensação de paz e conforto inigualáveis. Para ouvir e chorar por mais. Mas o que é certo é que nem os próprios The Young Gods atingiram (até agora) a genialidade apresentada nesta altura, e neste álbum em particular.
Resta dizer que se querem adquirir o álbum, pode não estar em nome de The Young Gods mas com o nome com que inicialmente foi editado, a saber: An Instrumental Experimental Side Project Of The Young Gods :)