25 de novembro de 2009

THE MISSION: A história



Em 1986, Wayne Hussey (então apenas guitarrista) e Craig Adams (baixista) deixam a banda seminal do rock gótico, The Sisters Of Mercy, formando os The Mission. As primeiras edições da banda - como os singles "Serpent Kiss" e "Stay With Me" - atingiram de imediato o top britânico, bem como de outros países europeus, sendo rotulada como a "next big thing". Os concertos encontravam-se esgotados e não demorou para que o grupo assinasse um contrato com a Phonogram Records.

O álbum de estréia “God's Own Medicine” é editado e alcança o 14º lugar do top britânico sendo aclamado por toda a crítica. Pegando na matriz gótica de que descendem e no som característico da guitarra solo de Simon Hinkler, os The Mission adoptam um som mais acessível e ligeiro, piscando o olho ao hard rock e à pop mais vanguardista, para além de acrescentar o ritmo do punk - um pouco ao jeito do que faziam bandas como os The Cult da altura e os primeiros U2.

Os álbuns seguintes foram "The First Chapter" (espécie de colectânea de singles e ep's prévios ao primeiro álbum) e "Children", que continuaram na senda de sucesso, sendo aclamados também nos Estados Unidos e por todo o continente americano. Nos seis anos seguintes a banda lançou seis álbuns e 10 grandes sucessos incluindo verdadeiros clássicos como “Wasteland”, “Tower Of Strength”, “Severina”, “Beyond The Pale”, “Deliverance” e “Butterfly On A Wheel”. O total mundial de discos vendidos chegou a 3.000.000 de unidades. Durante este período, os The Mission aumentam a sua reputação como uma das melhores e mais excitantes bandas ao vivo no mundo com recepções calorosas, aceitação por parte da imprensa, e uma fanática audiência de seguidores um pouco por todo o Mundo. Dois dos pontos altos da carreira do grupo foram as sete noites consecutivas no lendário Astoria Theatre em Londres e as actuações no famoso Reading Festival por duas vezes. Tocaram junto com U2, The Cure e Robert Plant.

Em 1994, a banda rescindiu contrato com a Phonogram depois de inúmeras disputas jurídicas. Montaram o selo “Neverland”, com distribuição da Sony Dragnet da Alemanha. Após dois anos, mais dois discos, a banda decide fazer um descanso sabático. Em 1999, com um espírito revigorado, os The Mission reúnem-se novamente e, depois de alguns bem sucedidos concertos, empreendem uma cansativa e espetacular tour mundial (Recon 2000) incluindo memoráveis aparições nos festivais Eurorock e M'era Luna. A tour culminou com uma tour européia em Novembro/Dezembro de 2000 e com a assinatura de um novo contrato com a Playground Recordings. Pouco depois, editam “AurA”,  produzido pelo próprio Wayne Hussey, tendo o tema “Evangeline” como hit principal.

Depois de mais alguns anos de descanso, onde o vocalista e líder da banda aproveitou para efectuar várias tourneés a solo que passaram pelo nosso País, a banda anuncia em 2011 o seu regresso aos concertos.

 

23 de novembro de 2009

Massive Attack ao vivo em Lisboa: O ESPÍRITO DO TEMPO

Os Massive Attack efectuaram, no passado dia 21 de Novembro, na primeira de duas noites de actuação no Campo Pequeno em Lisboa, mais uma irrepreensível actuação no nosso País. Englobado na tour de pré-apresentação de um novo álbum a ser lançado o ano que vem, o concerto segue uma linha em termos de conceito cénico que remete já para o novo disco.
O primeiros quatro temas do alinhamento, assim como uma boa parte deste, é constituído por temas desconhecidos do público. Assim desfilaram composições que se distinguem pelo seu experimentalismo, bem como pelo seu ambiente soturno mas nem por isso menos atractivo. As novas canções, para além da dos novos sons que trazem, distinguem-se também pela maior diversidade rítmica, procurando fugir ao estereótipo trip-hop.
Com "Risingson" veio o primeiro grande aplauso da noite e a constatação que o som beneficiava de excelentes condições. Nas vocalizações, para além do núcleo duro da banda - 3D e Daddy G - tivemos Howard Andy, que volta a marcar presença em 2 novos temas, para além do clássico "Angel"; Martina Topley-Bird, que actuou a solo na 1ªa parte, canta em várias das novas canções dos Massive Attack e ainda fez uma perninha em "Teardrop", para além de ajudar nos sintetizadores; e Deborah Miller que interpreta os mais solarengos, "Safe From Harm" e "Unfinished Sympathy".
A cenografia de palco, constitída por um ecrã de leds que recortava os músicos de apoio - que incluiu dois bateristas, um teclista , baixo e guitarra - revelou-se extraordinário. Cada canção sugeria um novo motivo para as imagens, fossem apenas imagens abstractas, iluminações psicadélicas, sugestões de paisagens e as mais variadas informações escritas ...em português (thank you!). Numa das músicas, números estatísticos que comparavam o mundo desenvolvido com os países menos desenvolvidos apareciam no ecrã. Noutra, eram citações de personalidades como Che Ghevara ou Mandela; noutra, apareciam títulos de notícias (algumas sobre futebol que suscitaram aplausos ou apupos conforme o gosto),... enfim uma panóplia de informação que exigia ao público permanente concentração ao mesmo tempo que sustentava o perfil cinemático deste estilo musical.
Para os encores tivemos o apontamento curioso (mas apenas isso) que é "Splitting The Atom", do EP com o mesmo nome acabado de editar, o já referido "Unfinished Sympathy" e um surpreendente "Marrakesh", com um final intenso e hipnótico com o ecrã a passar imagens frenéticas e coloridas de simbologia oriental e não só. "Karmacoma", com novos e mais ricos arranjos, marcou a despedida finda a qual todos os participantes e músicos subiram ao palco para os agradecimentos.
Os Massive Attack aproveitam a sua música aparentemente calma e relaxante para despertar consciências e, acima de tudo, permanecer na crista da onda, não só a nível sonoro como a recriar lírica e visualmente os grandes temas e questões do mundo actual, para além de oferecer um espectáculo que respira modernidade.

10 de novembro de 2009

Rammstein ao vivo: ...E LISBOA PEGOU FOGO

Soberbo! Extraordinário! Faltam adjectivos para qualificar esta actuação dos Rammstein, apesar de algumas vozes discordantes que se calhar preferiam um alinhamento mais em regime de colectânea de sucessos. No entanto, tal como seria previsível, o novíssimo álbum do grupo acabou por servir de base a grande parte do espectáculo a que se assistiu no passado dia 8 de Novembro no Pavilhão Atlântico.
O concerto iniciou-se com o pavilhão Atlântico às escuras enquanto o ruído de obras acontevia e o palco, do qual só se perspectivava um muro negro, começou a abrir brechas, numa alusão, talvez, ao recente aniversário da queda do muro de Berlin (recorde-se que os Rammstein proveêm da ex-RDA). "Rammlied", "B*****" e "Waidmanns Heil" deram início às hostilidades com o show cénico já característico do grupo. O poderosíssimo "Keine Lust" e o tecno-metalaleiro "Weisses Fleish" foram os primeiros clássicos a desfilar. De resto, tudo o que a gente poderia querer de um concerto dos Rammstein: chamas, labaredas, explosões e inúmeras nuances cénicas e de luzes. Nem faltou um suposto intruso a ser atingido pelo lança-chamas do vocalista, correndo depois pelo palco em chamas, num truque que deve ter assustado os mais desprevenidos. Em "Wiener Blut" bonecas de plástico descem do tecto numa atmosfera macabra, em "Ich Tu Dir Weh" o vocalista sobe um pequeno elevador para dar um banho de fogo de artifício ao teclista e em "Feuer Frei" assistiu-se à já tradicional luta de "lança-chamas faciais".
Depois do fantástico tema título do último álbum, assistiu-se a um desfilar de êxitos como "Benzin", "Links 2 3 4", "Du Hast" - com raios laser e foguetes a passar por cima da plateia - e "Pussy" - com Tll Lienderman em cima de um foguete a enviar espuma para o público até uma explosão de confetis na primeira despedida do palco.
Nos encores assistimos a um fantástico "Sonne", com luzes alaranjadas a crias um fantástico ambiente, "Ich Will" entoado por todos, o velhinho "Seemann" e o assobio do épico "Engel" para as despedidas.
Em suma, um concerto grandioso que confirma os Rammstein como a banda rock-metal com melhor produção em palco do Mundo. Uma espécie de Pink Floyd do metal.
Nota negativa para grande parte do público presente, mais preocupado em filmar o concerto em vez de nele participar mostrando-se, por isso, muito estático para concertos desta natureza.
Na primeira parte tivemos os gótico-industriais, Combichrist, que surpreenderam positivamente. Esperemos ouvi-los mais vezes nos próximos tempos.

5 de novembro de 2009

Discos: RAMMSTEIN - "LIEBE IST FUR ALLE DA"

No próximo dia 8 de Novembro os Rammstein vão actuar em Lisboa, no Pavilhão Atlântico. A banda acabou de lançar o seu primeiro álbum de originais em 4 anos - "Liebe ist für alle da" (O amor cura tudo - que é bem capaz de ser dos melhores, senão o melhor, álbum da sua carreira.

Os Rammstein começaram a cimentar o seu estatuto através dos seus espectáculos, literalmente incendiários, em que a vertente visual assumia um importante papel. A sua fama era mais notória na Alemanha e a sua música caracterizava-se por ser uma mistura uma espécie de crossover tecno-metal com influências de algum rock industrial - nomeadamente bandas como Ministry. Quando a fama começou a bater à porta, o grupo cerrou fileiras e resolveu apostar em temas de mais qualidade e densidade. Com o álbum "Mutter" os Rammstein deram um novo impulso à sua carreira, com temas com outra estrutura, procurando efectuar bons temas metal, no sentido lato do termo, enérgicos, acrescentando uma nova vertente melódica, patente nos refrões orlhudos e nos aranjos épicos. "Reise Reise" continuou essa evolução, apresentando temas de maior qualidade, enquanto que em "Rosenrot" se pressentiu já alguma estagnação, apesar de alguns pontos altos. Posto isto, a banda dedidiu fazer uma paragem tendo-se dedicado a outros projectos, como os Emigrate do guitarrista Richard Kruspe.

Ao fim deste tempo, pode-se dizer que a paragem foi frutuosa pois os Rammstein apresentam-nos aqui um trabalho de grande nível. Logo àbrir, "Rammlied" mostra a maior novidade a nível técnico com reflexo no som geral da banda: a bateria tem agora duplo bombo, que acompanha os power chords das guitarras na perfeição. Ou seja, a agressividade característica soa amplificada. Sinistros sons electrónicos fazem a introdução para o segundo tema, "Ich Tu Dir Weh" é na certa um novo hino nos concertos da banda. Outro dado assinalável: a voz de Till Lindemann está muito mais eclética, sendo as suas opções melódicas muito mais diversificadas do que até aqui.

"Waidmanns Heil" é apenas uma boa réplica de "Feuer Frei", mas "Haifisch" é diferente de tudo o que o grupo já fez , uma espécie de electro-ska clashiano. "B*******" é uma grande canção à Rammstein e "Frühling in Paris" é uma versão de Edit Piaf, num estilo folk semelhante a outros temas que a banda já fez. "Pussy", o single de avanço, é já um hit com o som único e personalizado do grupo em acção. Para o fim, ficamos talvez com dois dos temas mais fortes de todo o álbum: o espectacular tema título e ainda "Mehr", metal limpo e mecânico, com uma produção irrepreensível a roçar a perfeição, no fundo a mistura que é o segredo da banda.

Na tendência ascendente que tem caracterizado a sua carreira, os Rammstein dão outro passo em frente com este novo trabalho, em termos de qualidade, talento e, possivelmente, sucesso, afirmando-se cada vez mais como uma das bandas mais destacadas do planeta.

2 de novembro de 2009

António Sérgio: a voz que marcou uma era

A importância que António Sérgio teve para a rádio e para a divulgação musical foi enorme. O seu maior feito terá sido, por ventura, numa época como o pós 25 de Abril e toda a década de 80, em que as rádios eram poucas e a diversidade musical escassa, foi o primeiro (e durante muito tempo o único) a divulgar o que de melhor, mais inovador e com mais qualidade se fazia no Mundo em termos musicais.
Numa altura em que as rádios e a tv só passavam música pop comercial, numa autêntica ditadura do “gosto”, foi ele o responsável em Portugal por muitos terem conhecido bandas que hoje são consensualmente das melhores de todos os tempos. Através daquele programa histórico chamado "Som Da Frente", António Sérgio foi, provavelmente, a pessoa em Portugal que primeiro deu a conhecer a música dos U2, The Cure, The Cult, Joy Division, New Order, Bauhaus, Depeche Mode, Cocteau Twins, etc. Através do seu "Lança Chamas" foi também responsável pela introdução da palavra metal no vocabulário de muitos melómanos, numa altura em que só se ouvia o hard-rock politicamente correcto e que um homem com cabelo comprido era apontado na rua (meados de 80).
Apesar de todo o talento na investigação e divulgação musical que continuou a ter ao longo dos anos, essa importância histórica e geracional na divulgação da música é o traço mais meritório de todos na carreira de António Sérgio. Não o esqueceremos sempre que ouvirmos boa música!