Uma das bandas mais injustiçadas da história da música dá pelo nome de THE CHAMELEONS, um grupo britânico que existiu entre 1981 e 1987, se exceptuarmos algumas breves tourneés de regresso mais recentes. A sua influência chegou a bandas como U2, Sisters Of Mercy, Paradise Lost, Heroes del Silencio, os mais recentes Coldplay, entre muitas outras bandas por esse Mundo fora, tendo servido de inspiração a álbuns tão essenciais como, por exemplo, "Love", dos The Cult, ou "The Unforgettable Fire", do quarteto irlandês. Pode-se dizer que os THE CHAMELEONS foram, no que à música estritamente diz respeito, uns dos principais inventores do que mais tarde se viria a chamar rock gótico. É certo que no limiar dos anos 80 houve uma grande vaga de bandas que se caracterizavam pela obscuridade das melodias e as letras romântico-existenciais, mas foram os THE CHAMELEONS a explorar a fundo, e com inegável talento, o efeito do eco nas guitarras, proporcionado pelas tecnologias que eram novidade na altura - nomeadamente a utilização dos pedais "reverb" e "delay".
Apesar de só terem produzido 3 álbuns no seu primeiro e criativo período de vida, estes são todos de uma qualidade excepcional, nomeadamente os dois primeiros. Se o segundo trabalho, "What Does Anything Means Basically", constitui uma obra a roçar a genialidade pela sua diversidade e pelos caminhos novos que aponta, é no primeiro álbum, "Script Of The Brige", que o som inconfundível dos THE CHAMELEONS soa mais conciso e personalizdo. O tom é nocturno e misterioso, as guitarrras tecem malhas complexas, a voz conta fábulas fantásticas num clima íntimo e aconchegante. Temas como "Second Skin", "Pleasure And Pain", "View From A Hill", "Monkeyland", "Thursday's Child", são de uma beleza estonteante, contrabalançada pelos mais enérgicos "Don't Fall", "Up The Down Escalator" e "Paper Tigers". As guitarras, e a sua densidade eléctrica e épica, estão sempre presentes, mas isto não significa imediatismo nem excesso porque as melodias e a conjugação dos instrumentos possuem sempre um forte cunho ambiental, de profundidade e de criação de paisagens sonoras. Um segredo que se vai desvendando aos poucos, à medida que nos adentramos na floresta mágica destas aguarelas - soturnas, é certo, mas imensamente maravilhosas.
O low profile mediático da THE CHAMELEONS foi decisivo para que nunca tivessem alcançado grande fama, mas se nos resumimos à música propriamente dita, este trabalho é uma obra prima e, sem dúvida, merecedor de um reconhecimento ao nível dos melhores.