20 de dezembro de 2009

Os melhores álbuns de sempre: THE LAST SHADOW PUPPETS - "THE AGE OF UNDERSTATMENT" (2008)

O cantor da banda Arctic Monkeys, Alex Turner, formou, juntamente com o então cantor da banda The Rascals, Miles Kane, os The Last Shadow Puppets que lançam o álbum The Age Of The Understatement a 21 de Abril de 2008. Uma semana após o seu lançamento, o álbum já ocupava a primeira posição como o mais vendido no Reino Unido. A banda chegou a ser indicada ao Mercury Prize, o prémio que nomeia o melhor álbum britânico no ano.
O álbum é curto, com canções igualmente concisas e diretas, e não tem rasgos técnicos extraordinários. Mas o que é certo é que a mistura de rock'n'roll romântico, inspirado nos anos 50 início de 60, misturado com os admiráveis arranjos de James Ford, dos Simian Mobile Disco, cria uma atmosfera única que nos conquista de cada vez que se ouve este trabalho.
Efetivamente, a orquestralidade à John Barry assenta que nem uma luva nas composições da dupla e transporta-no para um cenário cinematográfico, um mundo de sonho e de aventuras. Ao mesmo tempo o álbum é bastante enérgico - fruto da juventude e da origem musical dos integrantes do projeto - não se deixando enredar pelo baixo ritmo do estilo musical em que se inspira.
Pelo seu som único e pelo carácter refrescante, este álbum merece figurar nesta rubrica de "Os melhores álbuns de sempre".
Apesar de oficialmente os The Last Shadom Puppets serem um projeto de um só álbum, os seus membros têm admitido recentemente fazer um novo disco. A ver vamos.

9 de dezembro de 2009

Prodigy no pavilhão Atlântico: EUFORIA ELECTRO PUNK

Os The Prodigy actuaram no nosso país no passado dia 7 de Dezembro. Uma audiência em histeria colectiva preencheu pouco mais que metade do pavilhão Atlântico, em Lisboa, mostrando que a banda já tem uma legião fiel, e louca, de fãs em Portugal.
Na primeira parte tivemos um dos projectos mais originais que surgiram no Reino Unido nos últimos anos. Os Enter Shikari oferceram ao público três quartos de hora da sua curiosa mistura de emo-core e electrónica, numa actuação que respirou energia e originalidade. Mostrando músicas do seu primeiro álbum, destacou-se principalmente o trabalho do guitarrista e a inovação das canções. Se aprofundarem a sua veia mais experimental e não derivarem para o rock mais banal, de certeza que vai se ouvir falar muito neles.
Depois tivemos um dj set de um convidado dos Prodigy que apostou no tipo de música que mandava nessa noite: o rock misturado com a dança. Depois de uma longa espera, cai o pano e os Prodigy entram no meio de fumo e focos a contra-luz. "World's On Fire" dava o mote para o que se sguiria: energia a rodos com os dois vocalistas - Maxim e Keith Flint - imparáveis e o som altamente nítido e poderoso. O cenário encontra-se repleto de luzes de várias formas e cores que mudam conforme o tema. O guitarrista e baterista que acompanham o grupo providenciam uma dose extra de energia em palco, apesar de estarem em regime semi-karaoke já que o grosso do som que sai das colunas é proporcionado pelo mago dos teclados, Liam Howlet, o grande criativo e líder do grupo.
Se o início já tinha sido esfusiante, com a segunda música provoca novo momento de euforia:"Breathe" põe toda agente ao pulos. "Omen" foi muito bem recebido e entoado por muitos dos presentes, bem como "Poison", com muitas partes diferente em relação à gravação original embora tenha sido dos temas que careceu de melhor som. As alterações ou melhorias de arranjos de temas antigos foi uma contante e tudo para melhor. Com "Warrior's Dance" o público entra de novo em ebulição com o tema a soar muito mais pesado do que em disco. Aliás as músicas do último álbum soam bem melhores ao vivo. A seguir veio a melhor parte do concerto com "Firestarter", numa versão próxima do original ao contrário de outros concertos, encadeada com "Run With The Wolves" com Keith Flint, que recuperou o seu penteado mais popular, naturalmente em destaque. "Voodoo People" surge com um intermezzo rock a acentuar o estilo mais agreste dos Prodigy actuais.
O sensaboroso tema título do último trabalho surgiu numa abordagem totalmente diferente com Maxim a intercalar vocalizações com gritos de incentivo ao público, e depois, sem paragens, inicia-se "Diesel Power" que agora beneficia de uma ladainha tipo celta a encher mais o tema. Em "Smack My Bitch Up", Maxim incentiva os presentes a agacharem-se para saltarem no momento do refrão e foi neste clima que o grupo abandona o palco por breves instantes. Não demoraram muito até voltarem com "Take Me To The Hospital", outra do último muito bem recebida, "Out Of Space" e "No Good". Para o fim executaram o saudoso "Their Law", com os seus graves a abanar as estruturas do recinto.

O concerto pecou por escasso o que se insere no espírito "curto e directo" da banda mas que sabe a pouco tendo em conta a extensa discografia da banda. Ou seja, um verdadeiro concerto raw, como o grupo gosta de dizer, em que o estatuto de música de dança ou de djeeing se encontra bastante diluído. Numa altura em que já não são "A" banda da moda, os Prodigy acabam mesmo assim por garantir um espectáculo bombástico, único e personalizado, mostrando ser os dignos representantes da música electrónica-dance no grupo das maiores bandas globais.

25 de novembro de 2009

THE MISSION: A história



Em 1986, Wayne Hussey (então apenas guitarrista) e Craig Adams (baixista) deixam a banda seminal do rock gótico, The Sisters Of Mercy, formando os The Mission. As primeiras edições da banda - como os singles "Serpent Kiss" e "Stay With Me" - atingiram de imediato o top britânico, bem como de outros países europeus, sendo rotulada como a "next big thing". Os concertos encontravam-se esgotados e não demorou para que o grupo assinasse um contrato com a Phonogram Records.

O álbum de estréia “God's Own Medicine” é editado e alcança o 14º lugar do top britânico sendo aclamado por toda a crítica. Pegando na matriz gótica de que descendem e no som característico da guitarra solo de Simon Hinkler, os The Mission adoptam um som mais acessível e ligeiro, piscando o olho ao hard rock e à pop mais vanguardista, para além de acrescentar o ritmo do punk - um pouco ao jeito do que faziam bandas como os The Cult da altura e os primeiros U2.

Os álbuns seguintes foram "The First Chapter" (espécie de colectânea de singles e ep's prévios ao primeiro álbum) e "Children", que continuaram na senda de sucesso, sendo aclamados também nos Estados Unidos e por todo o continente americano. Nos seis anos seguintes a banda lançou seis álbuns e 10 grandes sucessos incluindo verdadeiros clássicos como “Wasteland”, “Tower Of Strength”, “Severina”, “Beyond The Pale”, “Deliverance” e “Butterfly On A Wheel”. O total mundial de discos vendidos chegou a 3.000.000 de unidades. Durante este período, os The Mission aumentam a sua reputação como uma das melhores e mais excitantes bandas ao vivo no mundo com recepções calorosas, aceitação por parte da imprensa, e uma fanática audiência de seguidores um pouco por todo o Mundo. Dois dos pontos altos da carreira do grupo foram as sete noites consecutivas no lendário Astoria Theatre em Londres e as actuações no famoso Reading Festival por duas vezes. Tocaram junto com U2, The Cure e Robert Plant.

Em 1994, a banda rescindiu contrato com a Phonogram depois de inúmeras disputas jurídicas. Montaram o selo “Neverland”, com distribuição da Sony Dragnet da Alemanha. Após dois anos, mais dois discos, a banda decide fazer um descanso sabático. Em 1999, com um espírito revigorado, os The Mission reúnem-se novamente e, depois de alguns bem sucedidos concertos, empreendem uma cansativa e espetacular tour mundial (Recon 2000) incluindo memoráveis aparições nos festivais Eurorock e M'era Luna. A tour culminou com uma tour européia em Novembro/Dezembro de 2000 e com a assinatura de um novo contrato com a Playground Recordings. Pouco depois, editam “AurA”,  produzido pelo próprio Wayne Hussey, tendo o tema “Evangeline” como hit principal.

Depois de mais alguns anos de descanso, onde o vocalista e líder da banda aproveitou para efectuar várias tourneés a solo que passaram pelo nosso País, a banda anuncia em 2011 o seu regresso aos concertos.

 

23 de novembro de 2009

Massive Attack ao vivo em Lisboa: O ESPÍRITO DO TEMPO

Os Massive Attack efectuaram, no passado dia 21 de Novembro, na primeira de duas noites de actuação no Campo Pequeno em Lisboa, mais uma irrepreensível actuação no nosso País. Englobado na tour de pré-apresentação de um novo álbum a ser lançado o ano que vem, o concerto segue uma linha em termos de conceito cénico que remete já para o novo disco.
O primeiros quatro temas do alinhamento, assim como uma boa parte deste, é constituído por temas desconhecidos do público. Assim desfilaram composições que se distinguem pelo seu experimentalismo, bem como pelo seu ambiente soturno mas nem por isso menos atractivo. As novas canções, para além da dos novos sons que trazem, distinguem-se também pela maior diversidade rítmica, procurando fugir ao estereótipo trip-hop.
Com "Risingson" veio o primeiro grande aplauso da noite e a constatação que o som beneficiava de excelentes condições. Nas vocalizações, para além do núcleo duro da banda - 3D e Daddy G - tivemos Howard Andy, que volta a marcar presença em 2 novos temas, para além do clássico "Angel"; Martina Topley-Bird, que actuou a solo na 1ªa parte, canta em várias das novas canções dos Massive Attack e ainda fez uma perninha em "Teardrop", para além de ajudar nos sintetizadores; e Deborah Miller que interpreta os mais solarengos, "Safe From Harm" e "Unfinished Sympathy".
A cenografia de palco, constitída por um ecrã de leds que recortava os músicos de apoio - que incluiu dois bateristas, um teclista , baixo e guitarra - revelou-se extraordinário. Cada canção sugeria um novo motivo para as imagens, fossem apenas imagens abstractas, iluminações psicadélicas, sugestões de paisagens e as mais variadas informações escritas ...em português (thank you!). Numa das músicas, números estatísticos que comparavam o mundo desenvolvido com os países menos desenvolvidos apareciam no ecrã. Noutra, eram citações de personalidades como Che Ghevara ou Mandela; noutra, apareciam títulos de notícias (algumas sobre futebol que suscitaram aplausos ou apupos conforme o gosto),... enfim uma panóplia de informação que exigia ao público permanente concentração ao mesmo tempo que sustentava o perfil cinemático deste estilo musical.
Para os encores tivemos o apontamento curioso (mas apenas isso) que é "Splitting The Atom", do EP com o mesmo nome acabado de editar, o já referido "Unfinished Sympathy" e um surpreendente "Marrakesh", com um final intenso e hipnótico com o ecrã a passar imagens frenéticas e coloridas de simbologia oriental e não só. "Karmacoma", com novos e mais ricos arranjos, marcou a despedida finda a qual todos os participantes e músicos subiram ao palco para os agradecimentos.
Os Massive Attack aproveitam a sua música aparentemente calma e relaxante para despertar consciências e, acima de tudo, permanecer na crista da onda, não só a nível sonoro como a recriar lírica e visualmente os grandes temas e questões do mundo actual, para além de oferecer um espectáculo que respira modernidade.

10 de novembro de 2009

Rammstein ao vivo: ...E LISBOA PEGOU FOGO

Soberbo! Extraordinário! Faltam adjectivos para qualificar esta actuação dos Rammstein, apesar de algumas vozes discordantes que se calhar preferiam um alinhamento mais em regime de colectânea de sucessos. No entanto, tal como seria previsível, o novíssimo álbum do grupo acabou por servir de base a grande parte do espectáculo a que se assistiu no passado dia 8 de Novembro no Pavilhão Atlântico.
O concerto iniciou-se com o pavilhão Atlântico às escuras enquanto o ruído de obras acontevia e o palco, do qual só se perspectivava um muro negro, começou a abrir brechas, numa alusão, talvez, ao recente aniversário da queda do muro de Berlin (recorde-se que os Rammstein proveêm da ex-RDA). "Rammlied", "B*****" e "Waidmanns Heil" deram início às hostilidades com o show cénico já característico do grupo. O poderosíssimo "Keine Lust" e o tecno-metalaleiro "Weisses Fleish" foram os primeiros clássicos a desfilar. De resto, tudo o que a gente poderia querer de um concerto dos Rammstein: chamas, labaredas, explosões e inúmeras nuances cénicas e de luzes. Nem faltou um suposto intruso a ser atingido pelo lança-chamas do vocalista, correndo depois pelo palco em chamas, num truque que deve ter assustado os mais desprevenidos. Em "Wiener Blut" bonecas de plástico descem do tecto numa atmosfera macabra, em "Ich Tu Dir Weh" o vocalista sobe um pequeno elevador para dar um banho de fogo de artifício ao teclista e em "Feuer Frei" assistiu-se à já tradicional luta de "lança-chamas faciais".
Depois do fantástico tema título do último álbum, assistiu-se a um desfilar de êxitos como "Benzin", "Links 2 3 4", "Du Hast" - com raios laser e foguetes a passar por cima da plateia - e "Pussy" - com Tll Lienderman em cima de um foguete a enviar espuma para o público até uma explosão de confetis na primeira despedida do palco.
Nos encores assistimos a um fantástico "Sonne", com luzes alaranjadas a crias um fantástico ambiente, "Ich Will" entoado por todos, o velhinho "Seemann" e o assobio do épico "Engel" para as despedidas.
Em suma, um concerto grandioso que confirma os Rammstein como a banda rock-metal com melhor produção em palco do Mundo. Uma espécie de Pink Floyd do metal.
Nota negativa para grande parte do público presente, mais preocupado em filmar o concerto em vez de nele participar mostrando-se, por isso, muito estático para concertos desta natureza.
Na primeira parte tivemos os gótico-industriais, Combichrist, que surpreenderam positivamente. Esperemos ouvi-los mais vezes nos próximos tempos.

5 de novembro de 2009

Discos: RAMMSTEIN - "LIEBE IST FUR ALLE DA"

No próximo dia 8 de Novembro os Rammstein vão actuar em Lisboa, no Pavilhão Atlântico. A banda acabou de lançar o seu primeiro álbum de originais em 4 anos - "Liebe ist für alle da" (O amor cura tudo - que é bem capaz de ser dos melhores, senão o melhor, álbum da sua carreira.

Os Rammstein começaram a cimentar o seu estatuto através dos seus espectáculos, literalmente incendiários, em que a vertente visual assumia um importante papel. A sua fama era mais notória na Alemanha e a sua música caracterizava-se por ser uma mistura uma espécie de crossover tecno-metal com influências de algum rock industrial - nomeadamente bandas como Ministry. Quando a fama começou a bater à porta, o grupo cerrou fileiras e resolveu apostar em temas de mais qualidade e densidade. Com o álbum "Mutter" os Rammstein deram um novo impulso à sua carreira, com temas com outra estrutura, procurando efectuar bons temas metal, no sentido lato do termo, enérgicos, acrescentando uma nova vertente melódica, patente nos refrões orlhudos e nos aranjos épicos. "Reise Reise" continuou essa evolução, apresentando temas de maior qualidade, enquanto que em "Rosenrot" se pressentiu já alguma estagnação, apesar de alguns pontos altos. Posto isto, a banda dedidiu fazer uma paragem tendo-se dedicado a outros projectos, como os Emigrate do guitarrista Richard Kruspe.

Ao fim deste tempo, pode-se dizer que a paragem foi frutuosa pois os Rammstein apresentam-nos aqui um trabalho de grande nível. Logo àbrir, "Rammlied" mostra a maior novidade a nível técnico com reflexo no som geral da banda: a bateria tem agora duplo bombo, que acompanha os power chords das guitarras na perfeição. Ou seja, a agressividade característica soa amplificada. Sinistros sons electrónicos fazem a introdução para o segundo tema, "Ich Tu Dir Weh" é na certa um novo hino nos concertos da banda. Outro dado assinalável: a voz de Till Lindemann está muito mais eclética, sendo as suas opções melódicas muito mais diversificadas do que até aqui.

"Waidmanns Heil" é apenas uma boa réplica de "Feuer Frei", mas "Haifisch" é diferente de tudo o que o grupo já fez , uma espécie de electro-ska clashiano. "B*******" é uma grande canção à Rammstein e "Frühling in Paris" é uma versão de Edit Piaf, num estilo folk semelhante a outros temas que a banda já fez. "Pussy", o single de avanço, é já um hit com o som único e personalizado do grupo em acção. Para o fim, ficamos talvez com dois dos temas mais fortes de todo o álbum: o espectacular tema título e ainda "Mehr", metal limpo e mecânico, com uma produção irrepreensível a roçar a perfeição, no fundo a mistura que é o segredo da banda.

Na tendência ascendente que tem caracterizado a sua carreira, os Rammstein dão outro passo em frente com este novo trabalho, em termos de qualidade, talento e, possivelmente, sucesso, afirmando-se cada vez mais como uma das bandas mais destacadas do planeta.

2 de novembro de 2009

António Sérgio: a voz que marcou uma era

A importância que António Sérgio teve para a rádio e para a divulgação musical foi enorme. O seu maior feito terá sido, por ventura, numa época como o pós 25 de Abril e toda a década de 80, em que as rádios eram poucas e a diversidade musical escassa, foi o primeiro (e durante muito tempo o único) a divulgar o que de melhor, mais inovador e com mais qualidade se fazia no Mundo em termos musicais.
Numa altura em que as rádios e a tv só passavam música pop comercial, numa autêntica ditadura do “gosto”, foi ele o responsável em Portugal por muitos terem conhecido bandas que hoje são consensualmente das melhores de todos os tempos. Através daquele programa histórico chamado "Som Da Frente", António Sérgio foi, provavelmente, a pessoa em Portugal que primeiro deu a conhecer a música dos U2, The Cure, The Cult, Joy Division, New Order, Bauhaus, Depeche Mode, Cocteau Twins, etc. Através do seu "Lança Chamas" foi também responsável pela introdução da palavra metal no vocabulário de muitos melómanos, numa altura em que só se ouvia o hard-rock politicamente correcto e que um homem com cabelo comprido era apontado na rua (meados de 80).
Apesar de todo o talento na investigação e divulgação musical que continuou a ter ao longo dos anos, essa importância histórica e geracional na divulgação da música é o traço mais meritório de todos na carreira de António Sérgio. Não o esqueceremos sempre que ouvirmos boa música!

10 de outubro de 2009

Discos: ALICE IN CHAINS - "BLACK GIVES WAY TO BLUE"

Os Alice In Chains regressaram aos originais, 14 anos depois do seu último trabalho de inéditos e 7 anos depois do desaparecimento do seu inigualável vocalista, Layne Staley. A importância do talentoso cantor na banda não fazia crer que ela voltasse sem a sua presença. Mas a vida dá muitas voltas e aqueles que viram os Alice In Chains em Portugal, no festival Super Rock de 2006 durante a sua tour de regresso, puderam observar que o novo vocalista recriava os clássicos da banda de forma quase perfeita. Assim, o passo seguinte seria, como é óbvio, regressar aos discos.

Assim, no final de Setembro acaba por ver a luz do dia o novo álbum que traz de volta o som característico que tanto distinguiu o grupo. A qualidade e o talento mantém-se, com as composições a serem escolhidas a dedo, sendo todas de grande nível, muito mais inspiradas, por exemplo, do que a generalidade dos álbuns a solo do guitarrista Jerry Cantrell. O novo vocalista, William Duvall, segue a preceito a cartilha do seu predecessor tanto no tipo de melodias como na sua produção, constituída por várias pistas de voz conjugadas num todo harmónico e característico. Agora em estúdio até se verifica-se a voz de Duvall não é tão igual à de Layne Staley, embora se adapte que nem uma luva ao estilo da banda, para além de contar com a colaboração estreita de Jerry.

"All Secrets Known" é uma espécie de valsa com dedilhado de guitarra que começa muito adequadamente com o verso «A new begining...», "Check My Brain" é o perfeito cartão de apresentação do disco, enquanto que "A Looking In View" é o tema mais forte à la Alice In Chains. Existem também os temas que citam o universo acústico do grupo (popularizado em trabalhos como o EP "Jar Of Flies" de 1993) como "Your Decision" e "When The Sun Rose Again". "Acid Buble" é outra grande e inspirada composição, a fazer lembrar levemente Bauhaus, enquanto que o tema título é, porventura, o tema mais comercial de todo o disco.


Este álbum não chega ao génio da obra prima dos Alice In Chains, "Dirt" (de 1992): por um lado porque ao tempo em que aquele álbum surgiu este som era mais inovador e, por outro lado, porque a maior parte das obras primas não surgem de forma propositada. Em todo o caso, é um regresso bombástico, com um som único e canções plenas, a milhas de diatância dos inúmeros imitadores da banda, alguns deles com basto sucesso.

26 de setembro de 2009

The Cult ao vivo: O ROCK DEVIA SER SEMPRE ASSIM

Os The Cult actuaram no passado dia 25 de Setembro no Coliseu de Lisboa, numa tourneé detinada a celebrar o clássico álbum "Love". E o mínimo que se pode dizer é que foi um concerto com C grande. Desde a introdução até ao final, o espectáculo foi vibrante quer da parte da banda quer do público.O início fez-se de uma introdução que junto com as imagens de fundo aludiu à imagética índia, desde sempre muito associada à banda. Com a entrada de rompante com "Nirvana", os Cult deram início à execução na íntegra daquele mítico álbum (excepto os temas bónus de certas edições). O espectáculo visual é assombroso e o público delira. "Big Neon" e o tema título mostram-se poderosos, com solos cortantes, enquanto que "Brother Wolf and Sister Moon" soou mágico na sua espiritualidade mística. Mas foi com "Rain" e "She Sells Sanctuary" que houve as grandes explosões da parte do público que enchia o Coliseu, entoando os riffs e ajudando o vocalista Ian Astbury nos refrões.
O guitarrista e compositor Billy Duffy (com as suas poses imagem de marca) e a restante banda mostram-se ireepreensíveis na execução técnica, as projecções vídeo no fundo do palco são excelentemente bem escolhidas e Ian Astbury continúa um mestre de cerimónias, apesar dos seus devaneios vocais ao vivo, incentivando o público e atirando panderentas para a plateia.
Depois de uma saída de palco, os Cult regressam para um encore potentoso num rodopio de sucessos - como "Wild Flower", "Sun King" e "Fire Woman", entre outras - recebidos esfusiantemente, para além da passagem pelos singles dos últimos álbuns: "Rise" (de "Beyond Good And Evil") e "Little Rock Star" (de "Born Into This"). Para o final ficou guardado o hino "Love Removal Machine" com o seu final em hardcore para a despedida.
A reacção dos fãs merecia por ventura um regresso mas as luzes do recinto acenderam-se em sinal de adeus definitivo. O público ainda estava ainda embasbacado com o fulgor da actuação. A execução do álbum em destaque neste espectáculo, "Love", soou maravilhosa, beneficiando da excelente qualidade das músicas, do seu alinhamento, da boa produção visual e do som mais sofisticado que agora ganham. O encore realizou-se num ambiente de clímax constante com êxitos em catadupa e, por isso mesmo, talvez tenha carecido de um tema calmo para ficar mais bem composto.
Em todo o caso, uma actuação quase perfeita a mostrar como se faz um verdadeiro concerto rock com talento e técnica.
Link vídeo aqui.

10 de agosto de 2009

Faith No More no festival Sudoeste: ABENÇOADA LOCURA ÉPICA!

Não há palavras! É sempre maravilhoso quando artistas verdadeiramente arrojados e talentosos decidem voltar ao activo para nos oferecerem um concertão destes que nos deixam totalmente atordoados. Um autêntico espectáculo no sentido mais lato da palavra.
Os Faith No More regressaram a Portugal para uma actuação no festival Sudoeste, na Zambujeira do Mar, no passado dia 8 de Agosto. Ao contrário do publicitado, a audiência não estava conquistada à partida. Tirando uma boa fatia de público que se concentrou à frente do palco, havia uma atitude de expectativa em grande parte dos presentes no Festival.
As desconfianças aumentaram quando a banda entra em palco de fato a rigor com o tema, muito easy-listening, "Reunited" de Peaches & Herb. Mas quem é fã de longa data já sabe o que a casa gasta, pois logo em seguida atacam "Land Of Sunshine" uma das canções que mais simbolizam o estilo aventureiro e louco da banda de San Francisco. A mutação nota-se ainda mais no vocalista Mike Patton. De crooner romântico passa para esgares metaleiros em questão de segundos.

O teclista Rody Button solta um «como 'fuckin' vais» e Mike Patton canta uma versão integralmente em português de "Evidence". Fantástico, apesar da pronúncia.
Os hits "Last Cup Of Sorrow", "Ashes To Ashes" e "Midlife Crises" foram muito bem recebidos, com o vocalista a deixar o público cantar o refrão nesta última sem nenhum instrumento a acompanhar. Com as calmas "Easy" e "I Starded a Joke" a audiência entrou em delírio, acompanhando as coreografias de Patton.
A atitude o vocalista é sempre jocosa e provocante, como quando se meteu com um espectador que envergava uma máscara de cirugião. De resto a referência a Portugal e as provocações bem humoradas ao público foram uma constante. Espectacular é a energia em palco de Patton em conjugação com o admirável nível vocal, por vezes melhor ainda do que nos discos, para além de todos os pequenos pormenores, ruídos etc. e da presença e sentido de comunicação que são contagiantes. Apesar da importância do cantor, os músicos são também de uma qualidade excepcional, nomeadamente Billy Gould, com os seus riffs de baixo e passagens, que juntamente ao rigoroso Mike Bordin na bateria asseguram a base rítimica e boa parte da criatividade deste grupo. O teclista, por seu lado, mantém a sua importância na música da banda, para além dos backing vocals e de substituir às vezes Patton como comunicador oficial do grupo. O guitarrista John Hudson mantém a postura discreta, mas nem por isso deixa os seus créditos por mãos alheias no que respeita à impecável execução dos temas.
Na parte final da canção "King For A Day", o grupo deriva para um improviso, com Patton a manipular a caixa de efeitos de voz e a sonoridade geral a aproximar-se de um ambientalismo psicadélico que nunca tínhamos ouvido antes, o que pode significar um prenúncio de novas abordagens num eventual regresso do grupo aos originais.
O final da actuação principal foi já em êxtase, com a totalidade do público rendido e conquistado,desfilando "Be Agressive", o fantástico "Epic" e "Just A Man" com Patton a envergar um chapeu de palha atirado por um espectador e a descer até junto da plateia incentivando os presentes a cantar.

Para o encore ticvemos um inenarrável "Charriots Of Fire" de Vangelis, com Patton a simular um atleta em câmara lenta, um espectacular de "Stripsearch", com os teclados bem salientes ao contrário de outros temas em que pareceram um pouco baixos, e "Ugly In The Morning", um tema que exmplifica bem o "som Faith No More": sessão rítmica deambulante (impossível ficar quieto), mudanças de ritmo rápidas, e a voz a alternar a melodia com palavras de ordem berradas. «Do you want some 'mais'?» atirava o frotman. Depois do instrumental "Midnight Cowboy", com Patton a acertar umas ao lado na gaita («aouch!»), o vocalista anuncia que tem que redimir-se e executam "We Care A Lot" com a garra toda e a audiência a correponder entoando o tema quase todo. O público, à semalhança das outras saídas de palco, ainda gritou e cantou mas a banda depediu-se ao som de «olé, olés».
O futuro dos Faith No More ainda é uma incógnita mas, para já, o regresso foi mais que justificado, efectuando uma actuação de encher o olho que deve ter deixado as gerações mais novas de boca aberta tal a energia e criatividade transmitidas. O que mais impressiona neste grupo é o seu conceito que se pode classificar de "música total": beneficiando da versatilidade dos seu vocalista e dos talento dos seus músicos, os Faith No More são daqueles raros artistas que apostam em preencher a paleta inteira de gostos de um ouvinte médio. Do funk e do metal ao easy-listening e ao rock sinfónico, os Faith No More abarcam todos estes estilos, tudo com muita coesão e um elevado sentido pop que acaba por ser o que atrai as multidoões.

25 de julho de 2009

Perdidos no tempo: MORITURI

Criadores de uma música de excepcional qualidade, os Morituri foram uma banda que existiu na segunda metade da década de 80, tendo feito algum furor no underground lisboeta. Praticavam uma música extremamente avançada para a altura, tendo sido dos primeiros (do Mundo se calhar) a cruzar estilos tão díspares à época como o gótico, o metal, o punk e o rock sinfónico. Anteciparam até movimentos e correntes que viriam a surgir anos depois, como as bandas de metal operático ou black sinfónico (proporções à parte, claro).
A sua carreira foi curta e, lamentavelmente, não deixou nenhum registo discográfico editado comercialmente. Assim, cancões de grande talento como "Tédio", "Luzes Vermelhas", "Viver A Sua Vida ", "Crime no Paraíso", entre outras, ficaram, por isso, esquecidas no tempo.
Dos grupos que fizeram parte do boom criativo da segunda metade da década de 80 e que nunca chegaram a editar nenhum disco, e não foram poucos, os Morituri serão, por ventura, o caso mais emblemático dessa injustiça.
Para conhecer a banda, consulte-se o seu My Space: http://www.myspace.com/morituri1986

12 de julho de 2009

Festival Alive: 5 ESTRELAS E 1 SOL

O dia dedicado ao metal do Festival Alive foi, como se esperava, magnífica, com música de grande qualidade, som e e espectáculo visual a nível elevado e o público a condizer nas suas manifestações, até porque se tratava da sempre expressiva tribo metaleira.
A abrir as hostilidades, no palco principal, estiveram os portugueses Ramp, que regressaram aos grandes concertos depois de um largo período de reduzida ou quase nula actividade. A banda fez questão de lembrar isso mesmo ao dar as boas vindas "novamente" aos Metallica, eles que já tinham feito a 1ª parte dos norte-americanos há precisamente 10 anos (um dos pontos altos da sua já longa carreira para além de outros como, por exemplo, a presença no Ozzfest). A banda, em jeito de festejo, realizou uma actuação onde executaram os seus temas mais conhecidos com toda a sua energia e com grande receptividade por parte do público. Ficamos à espera de mais concertos, se possível, na preferência deste escriba, com maior destaque para o clássico "Intersection".
A seguir veio um dos concertos mais esperados do dia. Os Mastodon realizaram uma actuação que percorreu o seu longo leque estilístico, indo do mais rápido ao mais calmo, do mais enérgico ao mais psicadélico, tudo sob um manto de grande criatividade e inspiração. Se temas como "The Wolf Is Loose" e "Blood And Thunder" instalaram o caos na plateia, os temas do último álbum convidaram mais à observação e audição. Para daqui a alguns meses está previso o merecido concerto em nome próprio com direito a cenografia e projecções vídeo.
Muito mosh e muita e locura aconteceram durante o concerto de Lamb Of God. A intensidade e o peso da música fizeram desta a actuação mais pesada do dia. O grupo aproveitou o facto do tempo de actuação ser curto para brindarem os presentes com as melhores canções do seu catálogo desde o fantático "In Your Words", do último álbum, até ao velhinho "Now You've got Something To Die For". O peso e os ritmos extremamente balanceados não dã hipótese de deixar algum corpo quieto. Fantástico também é observar como a influência de uns Pantera perdura nas novas bandas passados todos estes anos.
Os Machine Head já são uma banda consagrada, conforme se viu pela recepção calorosa de grande parte do público. Um ano depois da actuação no Rock In Rio, o grupo apresentou um alinhamento que inclui muitos dos grandes temas da sua carreira - como "Struck A Nerve" ou "Bulldozer", para além da recuperação de "Beautiful Morning", que consta do jogo "Guitar Heroe - Metallica". Este facto fez com que todo o tempo do espectáculo tenha decorrido em apoteose constante, com hits atrás de hits, refrões entoados e mosh do palco até à mesa de som. Nem a presença em palco da mãe «100% portuguese» de Phil Demmel faltou. E Robb Flyn continúa um verdadeiro mestre de cerimónias.

Os Slipknot não deixaram os créditos por mãos alheias e efectuaram também um grande concerto. Começando com os clássicos "(Sic)" e "Eyeless", o grupo apostou numa mistura dos seus temas mais conhecidos, como "People =Shit" e "Psychosocial", com outros mais técnicos, como "Sulfur" ou "Disasterpiece". O público mais chegado ao palco notou-se ser mais jovem do que quele mais adepto de outras bandas, entoando em coro temas como "Duality" e "Wait And Bleed". "Surfacing" e "Spit It Out", com Corey Tyler a mandar o público agachar-se, foram os temas para acabar em beleza (??).
Os Metallica, como banda mais esperada, foram recebidos em delírio e corresponderam com um concerto impecavelmente bem executado. Ao contrário do que se estava à espera, algumas canções do último álbum ficaram de fora e as maiores novidades acabaram por ser "Broken, Beated & Scared", "Cyanid", "All Nightmare's Long" e "The Day That Never Comes", para além da recuperação do esquecido "Holier Than Thou". De resto, o grupo aposta em agradar aos convertidos que agradecem o conservadorismo dos seus ídolos e entram em êxtase com clássicos como "Blackened", "For Whom The Bell Tolls", "Fade To Black", "One", "Master Of Puppets" e "Fight Fire With Fire". O final com "Enter Sandman" foi apoteótico, com fogos de artifício, tal como o final do encore com "Seek And Destroy", com a maior parte dos presentes a entoarem o refrão.
Depois deste dia, e perante a reacção do público em relação às bandas, pode-se concluir que há espaço para um festival na área do rock/metal com grandes nomes (o Ermal aposta mais na quantidade do que na dimensão comercial das bandas). Vamos ver quem se arrisca a fazê-lo.... sem trazer cá os Metallica.

Para ler a crítica aos outros dias, consultar:
http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&m=5&fokey=bz.stories/48591
http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&m=5&fokey=bz.stories/48633

20 de junho de 2009

Perdidos no tempo: XMAL DEUTSCHLAND

Os XMAL DEUTSCHLAND são uma banda alemã de rock gótico, formada em Hamburgo, em 1980, por Anja Huwe (vocais), Manuela Rickers (guitarra), Rita Simon (baixo), Fiona Sangster (teclado) e Caro May (bateria).O primeiro single da banda, Großstadtindianer é lançado em 1981. Neste ano, Rita Simon é substituída Wolfgang Ellerbrock. O primeiro sucesso, Incubus Sucubus, data de 1982, e é um dos grandes marcos do estilo gótico. Caro May é substituída por Manuela Zwingmann. No mesmo ano, o grupo faz a primeira parte de concertos dos Cocteau Twins, em Inglaterra, e a editora destes, a 4AD, contrata-os. Um ano depois, em 1983, os XMAL DEUTSCHLAND lançam o seu primeiro álbum, Fetisch. O álbum é bem aceite no Reino Unido, atingindo o terceiro lugar na tabela independente. Manuela Zwingmann sai da banda e é substituída por Peter Bellendir.

Com "Tocsin", de 1985, afirmam-se como um dos expoentes da corrente gótica / pós-punk embora facilmente identificáveis pela voz de Anja, mas também por belas canções em que a preponderância da violabaixo se misturava com os teclados e a guitarra, que alternava distorção com som limpo reverbado.
A carreira dos XMAL DEUTSCHLAND atinge o seu auge com o álbum Viva, em 1987. Dois anos depois, o álbum "Devils", em inglês e com um som mais comercial, representou uma mudança que não foi bem recebida pelos seus seguidores acabando por ditar o fim da banda.

5 de junho de 2009

Concerto - AC/DC: IGUAIS A SI PRÒPRIOS

E como se esperava, o concerto dos AC/DC no passado dia 3 de Junho no Estádio de Alvalade foi de arrasar. Uma grande produção cénica e sonora para aquela que é uma das maiores bandas de todos os tempos. No cenário despontava uma locomotiva, ladeada por 4 ecrãs enormes que alternavam imagens dos músicos com outras alusivas às canções. Neste aspecto, a maior curiosidade ainda foram os inocentes chifres de mafarrico luminosos que, durante o concerto, criavam um efeito magnífico com as luzinhas vermelhas a piscar por todo o estádio.
Iniciando o concerto com "Rock 'N Roll Train", os AC/DC apostaram nos temas cássicos da sua carreira, nomeadamante uma boa mão cheia de temas da fase Bon Scott que já não eram executados há muitos bons anos como: "Hell Ain't No Bad Place To Be", "Shot Down In Flames" e "Dog Eat Dog". O resto, foram algumas canções do seu último trabalho misturadas com os clássicos de sempre: "Back In Black", "Thunderstruck", "You Shook Me All Night Long", etc. Pelo meio houve os inevitáveis números habituais como o strip de Angus em "The Jack", a boneca insuflável no imparável "Whole Lotta Rosie" e o sino de "Hells Bells". A cavalgada de "Let There Be Rock" serviu como pano de fundo para o solo do mítico do guitarrista que culminou numa explosão de confettis que se espalharam por todo o recinto. Para o encore ficaram "Highway To Hell" e "For Those About Rock", com os canhões a ressoarem em jeito de cerimónia.
Surpreendente mesmo, no meio disto tudo, é a disposição física destes sexagenários que aceitaram regressar ao activo apesar de tudo o que isso implica: extrema energia destilada, tanto ao nível da execução musical como da postura dos músicos em palco. Tal como a sua música, os AC/DC continuam iguais a si próprios, E os fãs, pelos vistos, não quereriam que fosse de outra maneira.

10 de maio de 2009

Perdidos no tempo: KING CRIMSON por Alexandre Quintela

Na Primavera de 1969 os King Crimson começaram a ganhar alguma fama e notoriedade underground devido às suas actuações explosivas. Proveniente de Inglaterra e composto por Robert Fripp (guitarra), Greg Lake (voz, baixo), Ian McDonald (saxofone, flauta, mellotron), Michael Giles (bateria), e Peter Sinfield (letrista), a banda evidenciava uma espantosa qualidade técnica e uma incrível maturidade musical.
Quando lançaram In The Court of The Crimson King, debut album, receberam rasgados elogios de críticos e público em geral, mas mais surpreendentemente da comunidade musical. Pete Townshend dos The Who foi dos músicos que classificaram o disco como sendo uma obra-prima. O som assentava numa união da energia e improvisação do jazz com riffs extremados e proto-metal, aliado a um imaginário literário muito bem delineado por Pete Sinfield. Pessoalmente e atendendo à genialidade e rigor técnico, é daquelas bandas que me ultrapassam, sendo sem dúvida uma banda do meu top five além de grande fonte inspiradora.
Muito bom e percursor de sonoridades actuais..e datado de 1969.

25 de abril de 2009

Os melhores álbuns de sempre: YES - "CLOSE TO THE EDGE"

Comentário por Alexandre Quintela

Chegados a 1972 numa fase de profunda interacção harmoniosa entre os músicos atestada pelos dois trabalhos anteriores – The Yes Álbum e Fragile - os YES lançam o seu quinto álbum, Close to the Edge, uma obra corajosa e magistralmente conseguida e com uma aposta acentuada nas eclécticas técnicas de criatividade dos seus membros.
Na sua melhor formação de sempre constavam Jon Anderson (voz), Chris Squire (baixo e back vocals), Steve Howe (guitarra e back vocals), Rick Wakeman (teclados e alguma excentricidade barroca) e Bill Bruford (bateria).
Na faixa título a banda apresenta uma composição épica e difusa, assente numa estrutura clássica em quatro andamentos – embora também com traços que vão desde groovie a pastoral - onde cada detalhe técnico dos diferentes instrumentos se evidencia. Todo o álbum, mas a letra da faixa título em particular, parece ter sido inspirado no livro Siddharta de Hermann Hesse em estreita sinergia com a propensão espiritual conferida por Jon Anderson.
As invulgares marcações dos tempos aliadas à complexidade dos arranjos, além do cunho musical erudito e virtuoso, são as características que melhor definem a inovação que consistiu “Close To The Edge”, considerado por muitos o ponto mais elevado do Rock Progressivo.
O tema “And You and I”, é uma autêntica ode bucólica onde Howe executa com guitarra de 12 cordas temperada com mellotron em crescendo, resultando num momento muito melódico. De sublinhar o poder de síntese de Wakeman.
O tema que encerra o álbum, “Siberian Khatru", é mais acessível desde logo pelos emblemáticos riffs que contornam a música mas também por configurar um curioso cruzamento místico com cadência quase funk. É uma das malhas mais conhecidas e que, resultando muito bem ao vivo, seria a música de abertura de maior parte dos concertos dos YES.
Em Junho de 1972, depois de concluído todo o trabalho de estúdio o baterista Bill Bruford deixa subitamente a banda para se juntar aos King Crimson, pois ansiava por um outro tipo de abordagem mais experimental do progressivo. Desta forma o baterista substituto, Alan White, igualmente uma grande contratação, iniciou a nova digressão europeia, de onde resultaria um grande registo ao vivo, “Yessongs”, gravado em finais de 1972.

6 de abril de 2009

Discos: MASTODON - «CRACK THE SKYE»

Um dos álbuns mais esperados do ano tem sido sem dúvida este novo trabalho dos Mastodon, intitulado "Crack The Skye". E mais uma vez, como não podia deixar de ser, o álbum surpreende e contitui um passo em frente no percurso desta banda, provando não andar atrás de sucesso fácil, apenas plasmando em música o que lhe vai na alma. Se depois do fantástico e poderoso "Leviathan" os Mastodon ofrereceram em "Blood Mountain" a súmula perfeita de um novo estilo que se poderia classificar como uma espécie de metal psicadélico (sim, porque progressivo sempre foi), neste novo álbum é a vertente sinfónica e contemplativa que toma as rédeas da sua música em detrimento do peso.
O álbum é conceptual e narra um conto de uma personagem que viaja até ao sol, que passa por várias situações que pretendem funcionar como metáforas que cada ouvinte interpreta à sua maneira. O som a par das letras constituem um todo que é absorvido em simultâneo e terá, pelo que se sabe, um complemento visual nos espectáculos ao vivo.
O single de avanço "Divinations" é dos temas mais directos do disco e, eventualmente, o mais aproximado ao som típico de Mastodon, e logo aí verificamos que a banda continúa altamente inspirada com melodias e técnica instrumental espectaculares e de grande frescura. No entanto, ouvindo o álbum na íntegra verificamos que o som geral é levemente mais ligeiro que o habitual, com ritmos mais calmos, guitarras um pouco mais limpas e, sobretudo, maior número de vocalizações melódicas, para isso também contribuindo a participação do baterista nestas.
Se no início estranhamos, à medida que vamos ouvindo o álbum verificamos que a abordagem a esta nova sonoridade da parte do ouvinte terá que ser diferente porque a música é também outra. E apesar disso, é Mastodon, os traços distintivos e de forte personalidade estão todos lá.
Mas o que salta mais à vista - e agradecemos o facto - é que os Mastodon continuam com a sua criatividade altamente aguçada, com partes e soluções harmoniosas em catadupa, de uma beleza estonteante e vigorosa, surpreendendo a cada novo passo. Nisto, pelo menos, continuam incomparáveis.

"Oblivion", "The Czar", e o fantástico épico "The Last Baron", são bons exemplos desta nova sonoridade num todo que não ultrapassa as 7 faixas mas que está repleto de partes e mudanças.
Sem afastar os fãs de metal mais ortodoxos, que poderão ficar um pouco insatisfeitos, o novo álbum tem todas as condições para alargar a base de adeptos do grupo a franjas mais conservadoras ou adeptas de outros estilos, não precisando de recorrer à solução mais óbvia que seria a de elaborar canções mais simples, directas e comerciais. Bastava apenas um hit e talvez o Mundo caísse a seus pés. Mas não há volta a dar, esta música está mesmo nos genes dos Mastodon.

18 de março de 2009

"Priest Feast" no Pavilhão Atlântico: ALMAS NEGRAS

E Lisboa tremeu com a actuação de três pesos pesados da música moderna. Judas Priest, Megadeth e Testament actuaram ontem no Pavilhão Atlântico em Lisboa numa maratona de 4 horas e meia em que foram abanadas as estruturas daquele recinto Lisboeta.
Os Testament foram a primeira banda a subir ao palco, e de forma extremamente pontual tendo apanhado uma boa parte do público ainda fora do pavilhão. "Over The Wall" deu início às actividades e serviu para constatar que, infelizmente, o som estava longe de ser o ideal. O público, apesar de tudo, comprendeu o revés que não tinha a ver com directamente com o grupo e aderiu aplaudindo e cantando entusiasticamente os maiores êxitos da banda: "The New Order", "Souls Of Black", "Electric Crown", "Practice What You Preach", "More Than Meets The Eye", entre outros. Os músicos revelaram-se inexcedíveis, com destaque para os guitarristas Alex Scolnick e Eric Peterson e esse potento da bateria que dá pelo nome de Paul Bostaph. O concerto acabou com o poderoso tema título do último álbum - "The Formation of Damnation" que deixou a plateia em delírio. Ainda assim, uma actuação muitos furos abaixo da anterior que este grupo tinha dado em solo português (Cine-teatro de Corroios em 2006) pelo motivo atrás referido e também pelo curtíssimo tempo de actuação.
Com os Megadeth, a história foi outra. Ao som da intro de "Sleepwalker" Dave Mustaine e seus rapazes entram a matar para um concerto verdadeiramente arrasador. O som que saía das colunas estava claramente mais definido que o grupo anterior e os Megadeth aproveitaram para mostrarem que ainda são um dos melhores do mundo neste estilo. Logo ao segundo tema "Wake Up Dead" verificamos que as mudanças de elementos do grupo serviu para que este esteja, porventura, na sua melhor forma de sempre. O ritmo a que foram debitados os temas foi imparável, praticamente sem interrupções e recorrendo a passagens entre uma música e outra. O quarto tema, depois de um trio de temas totalmente desvairados, foi o mais calmo "A Tout Le Monde", executado com tal intensidade que não se notou nenhuma quebra na energia debitada do palco. Temas mais curtos como "Sweating Bullets" ou o inevitável "Symphony Of Destruction" serviram para preparar a audiência para o massacre final (no melhor sentido): "Hangar 18", "Peace Sells" e "Holy Wars", interpretadas na perfeição. Assombroso!
Os Judas Priest eram os anfitriões da noite, a iniciativa da digressão foi deles e eram eles os cabeças de cartaz, e fizeram o que sabem fazer melhor: heavy metal clássico, solos exuberantes, profusão de luzes e um magnífico cenário. Rob Halford teatralizou diversos temas, ora vestido de monge, ora sentado num trono, ora desaparecendo por um alçapão ou então quando fez o seu número clássico entrando de Harley pelo palco. O cenário estava sumptuoso com uma tela relativa à bem conseguida capa do último álbum "Nostradamus" mudando depois para imagens e símbolos relativos à banda. "Breaking The Law" (entoado em coro pela audiência), "Painkiller" (o climax de qualquer concerto dos Priest) e "Another Thing Coming" (a encerrar) foram os pontos altos do concerto. Com a criatividade "em velocidade cruzeiro", os Judas Priest dedicam-se essencialmente às tourneés que levam a "experiência" que são os seus concertos e os seus hinos de sempre aos seus fãs (um bocado à semelhança dos seus compatriotas Iron Maiden) e os seus fãs agradecem.

2 de março de 2009

Discos: U2 - «NO LINE ON THE HORIZON»

Enfim, os fãs de U2 já podem estar descansados. Depois do pouco inspirado "All That You Can Leave Behind" e do já bastante aceitável mas mediano "How To Dismantle An Atomic Bomb", os U2 parecem ter regressado, com o novo "No Line On The Horizon", à rota dos bons discos. O novo álbum não é, apesar de tudo, a surpresa anunciada pelos próprios. No geral trata-se de um álbum talentoso, com boas canções, com a dose q.b. de originalidade versus comercialismo, e com o som característico da banda. Como conjunto de canções, do princípio ao fim, é o melhor trabalho dos U2 do séc. XXI. Talvez faltem canções com refrões um bocado mais orelhudos, mas ao menos soam mais autênticas e menos forçadas. Em todo o caso, há muito que não ouvíamos The Edge com riffs tão originais e incisivos e Bono com vocalizações tão aguerridas, beneficiando também da excelente produção que percorre todo o disco. Na sessão rítmica notam-se desenvolvimentos, para além de uma sonoridade muito actual. Apesar do que foi antecipado, não existe aqui metal (parece que houve umas sessões com Rick Rubin que ficaram guardadas na gaveta) nem grandes influências dos ambientes exóticos (Marrocos) em que decorreram parte das gravações. Os U2 nunca poderiam inovar demasiado porque isso significaria, logo à partida, alienar parte dos fãs amealhados ao longo de quase três décadas. Não é agora que vão criar um novo estilo musical, como na época de "Boy", ou uma experimentação como "Zooropa". Sendo assim, optou-se por uma solução de compromisso e "No Line On The Horizon" acaba por ser, nesta altura, o melhor álbum possível, o que já não é mau tendo em conta a mediocridade que anda por aí.
"Get On Your Boots" é uma grande canção, dos singles mais inovadores - e por isso polémico - que os U2 já produziram. "Unknown Caller" é radiosa, "Stand Up Comedy" é zepelleniana, "Magnificent" faz lembrar, a espaços, os primeiros álbuns, "Fez" revela vontade de inovar enquanto que "Moment Of Surrender" é um bom exemplo da vertente calma que os U2 sempre praticaram. "Breathe" é o tema que melhor sintetiza o som actual da banda: rock misturado com um refrão típico à U2 com una pozinhos de electrónica.

O ambientalismo estimulado pelos velhos comparsas Brian Eno e Daniel Lanois faz bem à música do grupo, acabando por gerar um bom resultado, próximo do que nos habituaram no passado. Ou seja, um saudável regresso, como que a dizer "estamos para lavar e durar".
Resta-nos esperar pela tourneé, por bilhetes mais baratos e, já agora,... disponíveis (!!!)

17 de fevereiro de 2009

Soulfly ao vivo em Lisboa: BATALHA CAMPAL

Uma noite de celebração do espírito metaleiro foi o que se assistiu na noite de segunda-feira no Coliseu de Lisboa. Os Soulfly, a banda que se confunde com o seu vocalista, Max Cavalera, tiveram uma actuação irrepreensível passando em revista os melhores momentos da sua carreira, assim como alguns temas intemporais da história do heavy rock.
"Blood Fire War Hate" foi o início e o prenuncio do que viria a seguir: uma autêntica "batalha campal", no palco e na plateia. Com o Coliseu quase cheio, o ritmo geral do concerto balançou entre temas mais groove e trauteáveis, como "Seek And Strike" e "The Prophecy", e outros mais rápidos como "Doom", "LOTM" e o imparável "Frontlines". Na bagagem a banda trouxe também hinos de Sepultura - como "Territory", "Refuse/Resist", "Troops of Doom", "Roots Bloody Roots" e um massivo "Inner Self"- mas não só. Houve surpresas, como a execução de "Sanctuary", dos Cavalera Conspiracy, e o muito bem conseguido "Red War", do projecto Probot de Dave Grohl em que Max participa. Houve ainda, em jeito de homenagem, pequenas citações a Slayer e a Metallica.
O encerramento deu-se, primeiro, com "Unleash", com o Richie Cavalera (dos Incite) em dueto com Max, e depois, para encerrar o encore, um raivoso "Eye For An Eye".
O som estava fenomenal, o que é de admirar naquela sala, com grande destaque para as guitarras, bem longe da indefinição dos primeiros tempos deste grupo. O jogo de luzes foi também soberbo.
Das bandas da primeira parte, releve-se os W.A.K.O., que deram um bom espectáculo, apesar do som não ter sido o melhor, e que provaram ser uma das bandas nacionais que mais promete. Quanto aos Incite, do enteado de Max Cavalera, apesar da sua apurada técnica e profissionalismo, mostraram carecer ainda de alguma diversidade no seu alinhamento.

15 de janeiro de 2009

Os melhores álbuns de sempre - GUNS 'N' ROSES - "APETITE FOR DESTRUCTION"

O Guns N' Roses actuam no próximo dia 6 em Lisboa, no pavilhão Atlântico.
O hard rock fm, ou hard glam, surgiu nos EUA no início dos anos 80 e foi iniciado e popularizado por artistas como Van Halen, Ozzy Osboune, Aerosmith, Motley Crue, entre muitos outros. Baseado no hard-rock dos anos 70 - Zeppllin, AC/DC, etc. - o hard rock fm acrescentava uma forte carga visual dos músicos, concertos com muitos efeitos pirotécnicos, clips espectaculares de preferência com pin-ups e letras hedonistas e sexistas.
Quiçás a banda que melhor exemplifica este movimento e que teve popularidade mundial, até porque este fenómeno foi muito norte-americando, foram os Guns 'N' Roses. Destes, a obra que vale a pena reter dá pelo nome de "Apetite For Destruction", que era tão só um manifesto do estilo de vida dos seus elementos e que beneficiou do facto de apanhar estes na sua melhor forma: Izzy Stradlin a compor os seus melhores temas, Slash a enfeitá-los com os seus melhores riffs e solos, o baterista Steven Adler ainda relativamente "clean" e Axl Rose ainda sem crises de egocentrismo.
Temas sobre o choque com o meio urbano, as drogas, a vida da noite, a prostituição,.... o underground de LA era escalpelizado com temas inspirados, concisos, pesados e melodiosos, do melhor hard rock, como nenhuma banda do género fez - e nem os próprios conseguiram repetir. Canções como "Sweet Child Of Mine", "Welcome To The Jungle", "Paradise City", "Night Train" e "It's So Easy" ficaram para a história, bem como os concertos incendiários dos primeiros tempos, para além do show off e de todas as "novelas" consequentes. Vale a pena ouvir este primeiro álbum dos Guns 'N' Roses... sem preconceitos.