22 de janeiro de 2011

Os melhores álbuns de sempre: THE YOUNG GODS - "HEAVEN DECONSTRUCTION"

Em 1996, um ano depois do lançamento do  álbum mais bem sucedido da sua carreira, "Only Heaven", os The Young Gods editam um disco que apresentado como uma espécie de álbum de remisturas daquele trabalho. No entanto, na prática, é certo que  utiliza sons utilizados naquele álbum prévio, para além de otros que ficaram de fora nas mesmas sessões de gravação/experimentação,  mas, de resto, não tem nada a ver: são outras canções, totalmente instrumentais e num estilo totalmente novo e radical nos Young Gods e na música em geral.

"Heaven Deconstruction" é tão só e apenas um dos melhores álbuns de música ambiental de todos os tempos, extraindo o melhor que este estilo oferece - paisagens sonoras, profundidade, inovação, surpresa - e evitando as suas armadilhas - o aborrecimento e o excesso de repetição. Isto para além da relação subliminar com os estilos mais undergroud da música trance e chill out. O álbum não tem, praticamente, um só som de percussão. É unicamente constituído por sons etéreos e planantes nunca ouvidos até à data, fruto da imaginação e trabalho de pesquisa de Franz Treichler (o vocalista e principal compositor) e Al Comet (o teclista manipulador de sampler).
Como se sabe o sampler é um instrumento que obtém e reproduz qualquer som da realidade, podendo depois transformá-lo em algo totalmente novo que nunca tenha sido ouvido. Pois reza a lenda que os sons usados em "Only Heaven" e depois neste "Heaven Deconstruction" foram obtidos... numa banheira (!!?). Isto não espanta na medida que os The Young Gods foram pioneiros na utilização deste tipo de tecnologias e sempre se destacaram por isso.
Ouvindo este álbum (com atenção e num ambiente propício) não podemos deixar de experimentar uma sensação de um certo misticismo, uma espécie mergulho no subconsciente, uma sensação de ligação à grandiosidade do universo e da existência. São paisagens desérticas e belas, um autêntico filme sonoro que se desenrola na nossa mente e que nos dá uma sensação de paz e conforto inigualáveis. Para ouvir e chorar por mais. Mas o que é certo é que nem os próprios The Young Gods atingiram (até agora) a genialidade apresentada nesta altura, e neste álbum em particular.
Resta dizer que se querem adquirir o álbum, pode não estar em nome de The Young Gods mas com o nome com que inicialmente foi editado, a saber: An Instrumental Experimental Side Project Of The Young Gods :)

10 de janeiro de 2011

Os melhores álbuns de sempre: LOVE AND ROCKETS – «THE SEVENTH DREAM OF A TEENAGE HEAVEN» (1985)/ «EXPRESS» (1986)

Nesta rubrica de "Os melhores álbuns de sempre", vou falar aqui de dois discos que na verdade funcionam como um. O primeiro mais intimista, misterioso, inebriante, uma autêntica “trip” alugionogénica em forma de música. O segundo, é a continuação dessa viagem elevada a um patamar de maior intensidade e energia.

Depois do demantelamento dos Bauhaus em 1983, volvidos apenas 5 anos e 4 álbuns de originais, formaram-se os Love and Rockets constituídos por: Daniel Ash (voz e guitarra), David Jay (voz e baixo) e Kevin Haskins (bateria).

“If There’s A Heaven Above” é um início perfeito para o primeiro álbum da banda (de 1985) a fazer lembrar uma espécie de Pink Floyd (fase psicadélica) modernizados. “Private Future” prossegue com o tom intimista do álbum. A viola de 12 cordas de Ash e os coros celestiais dos dois vocalistas são a imagem de marca do disco. “Dog Of A Day Gone-By” é uma muralha de guitarras e tambores a sustentar os coros em êxtase. Já “The Game” é opressivo e obscuro. O tema título, «The Seventh Dream Of A Teenage Heaven», remete para as profundezas dos mistérios da existência. «Saudade» é o final perfeito, um soberbo tema instrumental que só podia ter esta palavra portuguesa como título.

“Express”, gravado um ano depois, inicia-se com o experimental “Angels and Devils” para em seguida entrarmos em “It Could Be Sunshine”, enérgico e intenso, polvilhado de sons e efeitos electrónicos que, de resto, são uma constante em todo o álbum fornecendo um elemento “psicadélico” a todos os temas. A cada audição há um novo pormenor a descobrir. “Kundalini Express” é o hino da banda com a letra a apelar à união dos seres e às filosofias orientais . “All In My Mind” tem um dos refrões mais contagiantes de todos os tempos. “Life In Laralay” é uma homenagem ao riff puro e duro. “Ball Of Confusion” é uma versão totalmente tranformada de um tema obscuro de Ike & Tina Turner. “Holiday On The Moon” é uma espiral em crescendo, com um começo simples e acabando num autêntico remoinho de sons. “Yin And Yang” é mais outro tema que revela a atracção da banda pelo oriente. “Love Me”, outra grande canção em que os arranjos, em conjugação com a voz, arrepiam literalmente. A versão slow de “All In My Mind” revisita o lado calmo do primeiro disco e “An American Dream” é um épico lindíssimo, dirigido ao mais íntimo de cada ser, aos seus sonhos e sentimentos.
No fundo, é essa a sensação que fica depois ouvir este conjunto de canções espalhadas pelos dois álbuns: mensagens de vida sussuradas a todos sentidos.
Links:

2 de janeiro de 2011

Os melhores álbuns de sempre: NIRVANA - "NEVERMIND" (1991)

O álbum "Nevermind" dos Nirvana é considerado como um dos álbuns mais importantes da história da música, e mesmo da cultura pop. Este clássico, para além de iniciar o "grunge", representou uma grande quebra estilística no que era vulgar ouvir-se e produzir-se na altura e constituiu, à luz da sua influência, uma mudança de pardigma na história do rock.

Depois de uma década em que a ascenção do video-clip e do mercantilismo na música cristalizou os estilos e atrofiou gradualmente a imaginação, o sucesso massivo dos Nirvana representou uma lufada de ar fresco no mainstream e um regresso ao back to basics (não será inocente a semelhança com o nome de outro álbum fundamental da música: "Nevermind The Bollocks" dos Sex Pistols).

No entanto, a importância deste trabalho teve razões diversas e dimensões diferentes. Nos Estados Unidos, o sucesso dos Nirvana abriu a porta ao conhecimento dos inúmeros estilos underground e alternativos, até aí muito reprimidos pelo conservadorismo da sociedade e do materialismo da indústria. É a partir de "Nevermind" que muita da população americana começa a ouvir pela primeira vez bandas pós-punk e vanguardistas, maioritariamente europeias. Na Europa, por seu lado, os Nirvana representaram a quebra da fronteira que existiu nos 80's entre música comercial e música underground; nesse aspecto, foram até acompanhados por otros grupos menos acessíveis que começaram nesta altura a obter sucesso massivo apesar de ignorados pelas televisões e as rádios.

Acima de tudo, este álbum é contituido por grandes canções rock, cantadas com toda a garra, da calma à  distorção estridente, com influência diversa mas mantendo uma personalidade própria. Se a influência do garage rock, do punk, e dos padrinhos Sonic Youth e Pixies é notória, a introdução de ritmos diversificados (influência do rave'n'roll da altura?) e o talento de composição fizeram a diferança.

Nesse aspecto, o talento de Kurt Cobain emerge pelas belas melodias que criou e pelo ritmo que imprimia às composições (as bandas de Dave Grohl nunca tiveram aquela diversidade), já para não falar das letras mordazes deste disco - que muito espelhavam a chamada "geração X".

Outro factor decisivo nos Nirvana, e que fez escola, foi a voz. A explosão de "Nevermind" iniciou, ou deu destaque, a um naipe de grandes vocalistas - Layne Staley (AIC), Scott Weiland (STP), etc. - e mudou definitivamente as vocalizações da música rock (acabando com o paradigma Robert Plant).

Os Nirvana não descobriram a pólvora - houve outras bandas magníficas no início dos 90's em que a música moderna mudou muito, os estilos se cruzaram e se desfizeram numa miríade de sub-estilos. Mas o sucesso que Nevermind alcançou e a feliz fórmula de bons temas com originalidade q.b., para além do destino trágico do seu vocalista (que nestes casos, já se sabe, aumenta o mito), fizeram deste disco uma dos mais fundamentais da história.