5 de dezembro de 2011

Os melhores álbuns de sempre: U2 - "ACHTUNG BABY" (1991)

Estávamos no final da década de 80 e os U2 tinham alcançado o seu pico de fama com o multi-platinado "The Joshua Tree" e o posterior filme e disco "Rattle And Hum", onde a banda decide revisitar as raízes do rock n' roll e da América. Para trás tinha ficado o primeiro período, mais juvenil mas com grande originalidade, e as experiências sonoras da fase de "The Unforgettable Fire". A imagem dos «4 gajos porreiros», simples, sinceros, a lutar por boas causas, e até com uma carga religiosa, era a sua imagem de marca.
Surpreendentemente, a partir daqui tudo, muda. A cortina de ferro cai e os U2 vão gravar a Berlim para respirar o ar dos tempos, Bono e The Edge declaram que andam a ouvir o shoegaze, a mistura de rock e música de dança na altura na berra no Reino Unido, alguns elementos passam por dificuldades nos seus relacionamentos, a banda volta a assentar arraiais na Europa depois de vários anos nos EUA. E nasce "Achtung Baby".
Os primeiros dados a surgir ao conhecimento do público deixaram meio Mundo boquiaberto a questionar-se se se tratava da mesma banda: do visual arrojado de onde sobressaía os gigantes óculos escuros de Bono, dos temas a denotarem um ritmo anormalmente dançável para os padrõs do grupo, a atitude da banda - na pose das fotos, nas entevistas e nos clips - e até a curiosa capa do disco. Tudo parecia propositadanete diferente, houve até quem se desiludísse com a nova atitude propositadamente teatral, cheia de mensagens subliminares, mas, ao mesmo tempo, notava-se uma coerência estética, artística e criativa, como nunca até ali se tinha visto no grupo.

A temática base que atravessa o álbum é a questão da sociedade hipermediatizada, a era da informação. Isso é notótio em canções como "Zoo Station", "The Fly" e "Even Better Than The Real Thing". Mas, por outro lado, há toda uma panóplia de temas muito inspirados que nos levam para outros cenários. O mundo das paixões e das relações é retratado sem falsos pudores em temas como "Who's Gonna Ride Your Wild Horses", "Love Is Blindness", entre outros; "Mysterious Ways" retrata  o jogo da sedução e da sensualidade enquanto que "Until The End Of The World" e "Acrobat" são mais filosóficos e existencialistas. E depois temos aquele tema elevado a uma espécie de hino de união da humanidade que é "One" (mas que poderá ter outras leituras como a temática da solidão e do flagelo da Sida).
"Achtung Baby" é um excelente retrato dos tempos actuais, mas, para além desse realismo, possui com uma sonoridade e uma produção cálida e rica, que alarga os horizontes do ouvinte. É música - no sentido artístico/cultural do termo - no seu melhor.
Depois do lançamento deste disco foi sendo desenvolvido um conceito de concerto revolucionário: a Zoo TV. Cada concerto da banda era como se fosse uma emissão de televisão em que a audiência era bombardeada por dezenas de mesagens em ecrãs gigantes, com temas diversos conforme a canção, ao mesmo tempo que a banda e o cenário obedeciam a uma espécie de performance em que Bono desempenhava o papel de vários alter-egos e até os próprios temas antigos conheciam outras sonoridades.
Tudo isto foi evoluindo para os álbuns seguintes "Zooropa" e "Pop", que tiveram também um conceito - a nível de letras, de música e de touneé - muito coerente, criativo e teatral. No fundo, o grande feito de "Achtung Baby" foi fazer com que a nova atitude dos U2 - talentosa, arrojada, irónica, crítica e até, pasme-se, intelectual - chegasse até às massas.
Desde o início do século para cá os U2 voltaram à imagem simples e bem comportada de antigamente mas, apesar das grandes produções, os álbuns soam mais insípidos a nível lírico e musical, de aí o facto das novas gerações os compararem a outros grupos que quase roçam a mediocridade. Mas a história e os períodos áureos dos U2 permanecem para quem os quiser ouvir e isso ninguém lhes tira.
 

3 comentários:

Topê disse...

Em "The Unforgettable Fire" os U2 definiram o som que os fez famosos, "The Joshua Tree" é o clássico da banda e em "Under A Blood Red Sky" os U2 resumem a primeira parte da sua carreira dando-nos algumas das canções mais belas de sempre. Mas, "Achtung Baby" é tudo isso e ainda mais num só álbum.

Nuno Ferreira Lopes disse...

Concordo plenamente. 1 Grande Abraço

Raf Alex disse...

Plenamente em sintonía com a opinião do Topê; a escolher um sería mesmo "The Unforgettable Fire".