20 de dezembro de 2011

Rubrica "Os melhores álbuns de sempre": THE CULT - «LOVE» (1985), «ELECTRIC» (1987), «SONIC TEMPLE» (1989)

Estávamos em 1985 e, depois de vários trabalhos, em nome próprio ou com outros, em que se destacaram como pontas de lança do movimento gótico, os The Cult arriscam em lançar "Love" que marca claramente uma evolução para outras sonoridades. A produção, bastante admirada ainda hoje, foi uma pedrada no charco para altura, com o disco a soar como se de uma actuação ao vivo se tratasse, mas num local com muito eco , tipo uma igreja, o que lhe conferia uma aura de mistério. Basicamente, "Love" é um cruzamento de rock gótico mais obscuro com a energia do rock pós-punk mais optimista, feito por bandas como os U2 iniciais, Chameleons, Big Country,etc; acrescentando-lhe ainda influências do rock psicadélico dos anos 60. Tudo embrulhado num formato bastante acessível com ritmos surpreendentemente dançáveis (!?). Aqui aparecem pela primeira vez o estilo de canções gothic-pop depois popularizado por bandas como os The Mission, Gene Loves Jezebel, Héroes del Silencio, etc. É o caso de temas como "Nirvana", "Rain", "Hollow Men" e do hit "She Sells Sanctuary". "Love" marca também a reabilitação do efeito wha-wha na guitarra rock, que desde Jimi Hendrix praticamente só era usado noutros estilos. A canção "The Phoenix" é, neste particular, sublime, com um solo demoníaco que se estende ao longo de todo tema. Para completar, temos os temas mais calmos, "Brother Wolf..." e "Black Angel", marcados pelo forte romantismo (no sentido literário do termo), para além desse grande hino geracional que é "Revolution".
Depois da tour de "Love", os The Cult contratam o produtor Rick Rubin, então com um auspicioso início de carreira, e gravam aquilo que é capaz de ser a maior pirueta na carreira de uma banda. "Electric" é quase o contrário do disco anterior apesar de igualmente inspirado. Os ecos, o ambiente nocturno e o psicadelismo são agora substituídos por um som seco, directo e distorcionado, como se estivessem a tocar na nossa sala de estar. Numa linhagem AC/DC, todos os riffs são um verdadeiro murro no estômago, puro e duro. "Wild Flower", "Lil' Devil" e "Love Removal Machine" são clássicos intemporais , para além de outros como "Peace Dog", "Bad Fun" e "Outlaw", igualmente míticos, sem esquecer aquela que será, porventura, a melhor versão do clássico "Born To Be Wild". Com este álbum, e a tour que se seguiu, os The Cult conquistaram uma enorme base de fãs nos EUA sendo das bandas britânicas mais famosas do outro lado do Atlântico nas últimas décadas. Indispensável para qualquer motard que se preze, "Electric" colocou também os The Cult como um grupo incontornável para os fãs do metal/hard n'heavy.
Em 1989 é lançado o trabalho que acaba por ser uma espécie de síntese dos 2 anteriores e o álbum mais bem sucedido em termos de vendas dos The Cult. "Sonic Temple" representa o hard-rock na sua perfeição: composições talentosas, técnica soberba, letras inspiradoras, e uma produção espectacular (Bob Rock faz aqui o seu trabalho prévio ao Black Album dos Metallica). O guitarrista Billy Duffy e o vocalista Ian Astbury têm aqui as melhores prestações de sempre. Apesar de superficialmente o álbum ter a ver com a corrente hard-glam então em voga, a verdade é que estas canções e todo o alinhamento está muitas milhas à frente de tudo o que se ouvia e é, na prática, uma paradigma do que de melhor já se fez e fará na música rock. Desde os temas mais fortes e imediatos, como "Sun King", "Fire Woman" e "Sweet Soul Sister", até aos mais mid tempo, como "Edie" e "Wake Up Time For Freedom", não há nada que falhe neste disco. Quiçás o momento alto do álbum seja a sequência "Soul Asylum"/ "New York City" /"Automatic Blues": dois épicos, profundos e poderosos, com sucessivas camadas de guitarra e refrões dramáticos, intercalados por uma rockalhada no melhor estilo que retrata na perfeição o ritmo agitado daquela metrópole. Grandioso!
Os The Cult têm tido uma carreira de altos ("Beyond Good And Evil" de 2001 é um deles) e alguns baixos, algumas interrupções de carreira e a associação a outros projectos (como a participação de Astbury nos Doors XXI), para além de alguma intermitência na sua popularidade. Em todo o caso, os 3 álbuns aqui referidos ditaram modas e movimentos, influenciaram inúmeras bandas e, por isso, fazem parte da história da (boa) música.
(Nota: clicar nos links com o nome dos álbuns para ouvir)


2 comentários:

vasco disse...

cult esses marcaram o rock, ponto.

Rui Martins disse...

Grande banda excelentes álbuns. Cada um com o seu estilo/ambiente próprios, marcaram uma época! Não destaco nenhum dos três como o meu favorito... ouço-os do principio ao fim e não me canso... Ao longo destes anos todos!!!