10 de abril de 2011

Os melhores álbuns de sempre: SENSER - «STACKED UP» (1994)

Nos inícios da década de 90, o cruzamento do rap com o metal começou a ganhar um novo dinamismo. Da mesma maneira, inúmeros projectos apostavam na mistura de estilos como a sua imagem de marca. Na Londres da época estava-se na ressaca do shoe-gaze mas a dance-música arrancava decididamente para uma época de ouro. E foi na capital britânica que um grupo de freaks de origens diversas formaram os Senser que se estrearam em 1994 com um álbum assombroso chamado "Stacked Up".
Este disco traduz-se na mistura de uma miríade de estilos de entre os quais o rap, o metal, a dance-music, entre outros. Servidos por músicos de eleição, entre os quais dois excelentes vocalistas, o álbum assenta em excelentes canções e letras que respiram o espírito da época. Tudo polvilhado com inúmeros pormenores electrónicos - cortesia de vários elementos da banda que criaram e executaram os samplers - dando uma atmosfera densa e colorida ao todo do trabalho. O bom gosto da produção a nível de sintetizadores assim como a sessão rítmica - dançável, criativa e rigorosa ao mesmo tempo - são dois pormenores decisivos para a genialidade deste disco.
O primeiro tema "State Of Mind" revela de imediato ao que vem este grupo. Heitham Al-Sayed - um dos rappers mais rápidos a debitar palavras do planeta - declara com raiva no seu "british" perfeito «...my state of mind, they won't change me!».
O segundo tema, "The Key", é simplesmente perfeito, com o sintetizador em regime "sobe e desce", um ritmo a roçar o dub e Al-Sayed mais calmo na palavras, para depois aparecer a voz de Kerstin Haigh num refrão verdadeiramente orgásmico. Uma palavra ainda para o video-clip desta canção que manifesta a influência da cultura rave/neo-hippie nos Senser.
Em "Switch" o ritmo do baixo e da bateria faz tremer o assento de qualquer cadeira. Esta é, provavelmente, a maior aproximação ao hip-hop no álbum todo (os Da Weasel passaram por aqui?),no entanto, a melodia imprimida pela vocalista nalgumas partes e a riqueza sonora está a milhas de certos minimalismos daquele estilo.
"Age Of panic" é ainda hoje o hino dos Senser. Sob uma base que mistura electrónica e guitarra em power chord, o vocalista traça o retrato do estilo de vida das sociedades modernas. Um autêntico "petardo" sonoro. "What's Going On" começa com um riff à Slayer (!!!) que é depois admiravelmente acompanhado por um ritmo hip-hop. O refrão é dos mais orelhudos do disco.
Depois, temos canções de base rap-metal misturadas com outras de outros estilos, como o house de "Door Game" ou o lounge de "Peace" - por sinal um título extremamente adequado ao tema que é. Já na parte final, "Eject" é o regresso ao rap-metal mais agressivo com o refrão a alcançar mesmo um ritmo hardcore. De repente, a meio da música, os dois vocalistas, em cânticos orientais, entram num duelo em espiral ascendente, num todo de pôr qualquer pessoa em pele de galinha.

Este álbum veio reformular a cartilha de inúmeros estilos, sendo percursosr, até de movimentos que mais tarde iriam esplodir, como o tecno-rock e o nu-metal. Quanto aos Senser, eles continuam, embora tenham editado apenas mais dois álbuns desde aquele, afectados por diferendos internos, fruto talvez do perfil instável de artistas. A qualidade mantém-se, apesar da pouca promoção, mas longe da genialidade daquele primeiro trabalho. É como se as condições que permitiram gerá-lo tivessem sido únicas, irrepetíveis, fruto do acaso...

3 comentários:

Anónimo disse...

Sem dúvida, das bandas mais inteligentes que apareceram na década de 90. Ainda os vi no Ermal aqui há uns anos.

Rui Martins disse...

E eu em Aveiro...Num grande concerto memorável!

mocojas disse...

Pra mim uma das melhores bandas do mundo. E adrenalina pura.