8 de fevereiro de 2012

Os melhores álbuns de sempre: ALICE IN CHAINS - «DIRT» (1992)

Esqueçam as letras deste disco, esqueçam os esterótipos estilísticos atribuídos a esta banda, esqueçam a história de vida deste vocalista. Concentrem-se na música, nas canções, na originalidade e inspiração deste álbum que, apesar da condições em que foi feito é capaz de de ser dos melhores álbuns rock de todos os tempos, para além, claro, dos gostos subjectivos de cada um.
Uma coisa é um dado adquirido às primeiras audições: estamos perante um dos melhores vocalistas de sempre da música moderna. A voz, assim como a criação das melodias vocais e, ao mesmo tempo, a forma como foi gravada, em várias pistas e em camadas sucessivas, dão um som único a este disco, passando as cordas vocais a ser um autêntico instrumento - como um sintetizador por exemplo - tal a sua musicalidade e a diversidade das suas nuances. Juntamente com as vocalizações de Layne Staley, soma-se a guitarra de Jerry Cantrell, um mago da guitarras que prepara poções mágicas feitas de distorção e efeitos wha-wha.

Os temas são autênticas obras primas em que a muralha de som das várias pistas de guitarra se enreda com a voz e com os ritmos arrastados, criando uma sensação inebriante e, ao mesmo tempo, reconfortante. Numa palavra: psicadelismo. Numa vertente hard, é certo, mas isto é música para libertar os sentidos e soltar a mente por viagens intermináveis a territórios desconhecidos. O álbum acaba por ser paradoxal em vários aspectos: apesar das letras serem bastante depressivas, existem momentos extemamente belos e a construção sonora de paisagens verdadeiramente idílicas; por outro lado, apesar dos Alice In Chains estarem conotados com o estilo rock/grunge e a produção acentuar esse aspecto pesado e massivo, este trabalho acaba por ser, na prática, extremamente calmo e relaxante. Às primeiras audições pode até parecer bastante lento comparado com a maior parte dos grupos do espectro hard'n'heavy.
Os estereótipos rock'n'roll life style percorrem o disco, as referências a Hendrix, Sabbath e até Pink Floyd. As substâncias ilícitas (leves ou menos leves) fizeram parte do processo de composição, esse aspecto é bastante nítido ao ouvir. No entanto, a grande magia do disco está no facto de, sem nos aperebermos, à medida que as audições aumentam mais reconhecemos a força destes temas: desde os mais acessíveis - Would?, Them Bones - até aos hinos - Rooster (que conta a história de um soldado no Vietname), Junkhead - passando pelas composições únicas à la Alice In Chains como, Down In A Hole (o tal "calmo-pesado"), Rain When I Die (um autêntico caldeirão de especiarias sonoras), Dirt, ... enfim uma imensa paleta com várias tonalidades.
As influências que este álbum deixou são imensas, tanto em novos agrupamentos, como Three Doors Down, Nickelback, Sevendust, etc. como até inspirou alguns trabalhos mais recentes de consagrados, como os Metallica e até o próprio Ozzy Osbourne.
Para a memória do público português, fica aquele concerto intenso no Superock de 2006, num dia abafado e sob um forte aroma "marroquino". E como diz o tema: "I like to fly...."

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