22 de fevereiro de 2012

Os melhores álbuns de sempre: CLAN OF XYMOX - "CLAN OF XYMOX" (1985) / "MEDUSA" (1987)

Estávamos em meados dos anos 80 e a editora, 4AD, uma das  precursora do estilo "vanguarda" ou "gótico", assinou contrato com uma desconhecida banda holandesa: os Clan Of Xymox. O single "A Day", dispara na lista de vendas de singles tornando-se um dos clássicos do underground dos anos 80 e os dois primeiros álbuns da banda são muito bem recebidos por crítica ombreando com os nomes maiores do estilo. 

Criadores de paisagens imensas e idílicas, os discos apostam em sons orquestrais e de grande riqueza sonora, sustentados por uma caixa de ritmos que casa bem com a voz melancólica - Curtis style - e o baixo a comandar a melodia.

O primeiro álbum "Clan Of Xymox" é mais diversificado, contendo temas que resumem uma certa corrente da década de oitenta que explora novos sons de sintetizador mais soturnos. "A Day" é  uma descarga rítmica de sintetizador com um riff de guitarra em efeito delay. O início de "Stranger" parece uma convocação dos deuses em tons épicos e assustadores. "No Words" é pop despretensioso, enquanto que "Stumble And Fall", "No Human Can Drown" e "Equal Ways" são magníficas peças atmosféricas.

Já o segundo disco, "Medusa", é mais coerente, alternando temas instrumentais ambientais com outros de batida intensa que, apesar disso, não afecta a suavidade e calma que percorre todo o álbum. Uma marca preponderante deste segundo trabalho é o efeito da guitarra, à beira da desafinação, que dá um ar enigmático e misterioso à música. "Louise" é um dos hinos que ficou para a história da banda, "Michelle" e "Agonized By Love" são também únicas neste estilo melancólico dançável e, ao mesmo tempo, profundo e grandioso. O clímax do álbum é alcançado, no entanto, na parte final, com o tríptico "Masquerade" - uma melodia  levemente oriental cantada pela baixista - "After de Call" -  que sugere uma maravilhosa viagem subaquática - e "Back Door" - com sons épicos e solenes a acompanhar uma vincada batida. Relacionado com este trabalho releve-se ainda um dos temas mais conhecidos da banda, "Moscoviet Mosquito", editado originalmente numa colectânea de vários artistas mas que foi gravado durante as sessões de "Medusa".

Os Clan Of Xymox passaram por diversas mutações até estabilizaram, no final dos anos 90, num estilo gótico/dance bastante enérgico que lhes garante uma pronta horda de fãs. No entanto, as suas maiores obras primas acabam por ser estes seus dois primeiros álbuns que, numa frase, são uma espécie de banda sonora ideal para apreciar as coisas belas da vida.



8 de fevereiro de 2012

Os melhores álbuns de sempre: ALICE IN CHAINS - «DIRT» (1992)

Esqueçam as letras deste disco, esqueçam os esterótipos estilísticos atribuídos a esta banda, esqueçam a história de vida deste vocalista. Concentrem-se na música, nas canções, na originalidade e inspiração deste álbum que, apesar da condições em que foi feito é capaz de de ser dos melhores álbuns rock de todos os tempos, para além, claro, dos gostos subjectivos de cada um.
Uma coisa é um dado adquirido às primeiras audições: estamos perante um dos melhores vocalistas de sempre da música moderna. A voz, assim como a criação das melodias vocais e, ao mesmo tempo, a forma como foi gravada, em várias pistas e em camadas sucessivas, dão um som único a este disco, passando as cordas vocais a ser um autêntico instrumento - como um sintetizador por exemplo - tal a sua musicalidade e a diversidade das suas nuances. Juntamente com as vocalizações de Layne Staley, soma-se a guitarra de Jerry Cantrell, um mago da guitarras que prepara poções mágicas feitas de distorção e efeitos wha-wha.

Os temas são autênticas obras primas em que a muralha de som das várias pistas de guitarra se enreda com a voz e com os ritmos arrastados, criando uma sensação inebriante e, ao mesmo tempo, reconfortante. Numa palavra: psicadelismo. Numa vertente hard, é certo, mas isto é música para libertar os sentidos e soltar a mente por viagens intermináveis a territórios desconhecidos. O álbum acaba por ser paradoxal em vários aspectos: apesar das letras serem bastante depressivas, existem momentos extemamente belos e a construção sonora de paisagens verdadeiramente idílicas; por outro lado, apesar dos Alice In Chains estarem conotados com o estilo rock/grunge e a produção acentuar esse aspecto pesado e massivo, este trabalho acaba por ser, na prática, extremamente calmo e relaxante. Às primeiras audições pode até parecer bastante lento comparado com a maior parte dos grupos do espectro hard'n'heavy.
Os estereótipos rock'n'roll life style percorrem o disco, as referências a Hendrix, Sabbath e até Pink Floyd. As substâncias ilícitas (leves ou menos leves) fizeram parte do processo de composição, esse aspecto é bastante nítido ao ouvir. No entanto, a grande magia do disco está no facto de, sem nos aperebermos, à medida que as audições aumentam mais reconhecemos a força destes temas: desde os mais acessíveis - Would?, Them Bones - até aos hinos - Rooster (que conta a história de um soldado no Vietname), Junkhead - passando pelas composições únicas à la Alice In Chains como, Down In A Hole (o tal "calmo-pesado"), Rain When I Die (um autêntico caldeirão de especiarias sonoras), Dirt, ... enfim uma imensa paleta com várias tonalidades.
As influências que este álbum deixou são imensas, tanto em novos agrupamentos, como Three Doors Down, Nickelback, Sevendust, etc. como até inspirou alguns trabalhos mais recentes de consagrados, como os Metallica e até o próprio Ozzy Osbourne.
Para a memória do público português, fica aquele concerto intenso no Superock de 2006, num dia abafado e sob um forte aroma "marroquino". E como diz o tema: "I like to fly...."