28 de abril de 2008

Down ao vivo em Lisboa: O CLÁSSICO NOVO

No passado Domingo, dia 27 de Abril, o Coliseu dos Recreios em Lisboa viu um dos melhores concertos de puro rock’n’roll que se viu em anos no nosso País. Fala-se constantemente em novas “big thing” e em novas modas que depois se revelam demasiado fugazes, mas quando toca a distinguir o trigo do joio, quem sabe, sabe. E os Down sabem muito bem o que estão a fazer, ou não fossem constituídos por músicos com anos de estrada e de diversas experiências musicais.
Ao vivo, com um vocalista que encarna na perfeição o papel de mestre de cerimónias, a música dos Down – já por si bastante talentosa - sobe a outro patamar e o grupo projecta-se criando um clima de autêntica festa e adrenalina. De facto, se o “factor Phil Anselmo” já teria algum peso previamente, este concreto provou a fantástica reabilitação (a nível físico, psíquico e da própria voz) do vocalista que, para além das inúmeras tourneés à volta do Mundo com os seus míticos Pantera, sobreviveu a inúmeros excessos e a, pelo menos, uma overdose quase fatal. A atitude do frontman, sempre a olhar nos olhos do público, a incentivá-lo a participar nas músicas, e introduzir os temas com as mais variadas dissertações, são um bónus à mera execução das canções, já por si um autêntico espectáculo tal a entrega dos músicos.

O grupo ainda não tinha entrado em palco e já estava a dar cartas graças a um fantástica ideia: prescindiram da habitual banda de suporte e apostaram na projecção de um vídeo em que misturavam gravações caseiras dos Down em tournée com vídeos raros de alguns monstros sagrados que fizeram a história do rock, nomeadamente aquelas bandas de génese hard do início da década de 70, com influência do blues americano e sulista. Para além dos clássicos incontornáveis, vimos actuações de nomes outrora famosos como os Rainbow, Thin Lizzy, UFO, etc. Não poderia ser melhor como introdução a uma banda que assume frontalmente o seu cariz “retro”.

Logo a abrir as hostilidades, “Underneth Everything”, criou bastante reboliço, uma constante na plateia apesar do ritmo mid-tempo da maior parte dos temas. “Lifer” dedicada a Dimebag Darrel, foi atacada com fúria, enquanto “Ghosts Along The Mississipi” foi das mais bem recebidas. Os músicos tranpiravam boa disposição. O duo de guitarristas Pepper Keenan e Kirk Windstein tocam já de olhos fechados ao ponto de não ser estranho entrarem em diálogo a meio de uma canção, resultando delicioso ouvir e ver a execução das inúmeras harmonias que polvilham o reportório dos Down. A sessão rítimica foi irrepreensível, pontificando o outro “pantera”, Rex Brown, a manter o mesmo ar cool de há 20 anos.

Depois de uma primeira saída de palco, com a excelente “Eyes Of The South”, Phil Anselmo aproveita para agradecer a uma longa lista de elementos da equipa de roadies, tendo em conta ser este o último concerto da tourneé que os levou um pouco por toda a Europa. Aproveita para chamar ao palco um amigo aniversariante - o guitarrista dos Skid Row, Snake, que viaja com o grupo - que teve direito a “parabéns” e a executar um excerto de uma canção do seu grupo. Já valia tudo. O espírito era de festa.A banda toca, então, o hino “Stone The Crow” em tom de apoteose e, perante a surpresa dos próprios músicos, a audiência entoa o riiff e o solo da música. Um momento único. Mais tarde, foi a vez do público ficar surpreendido quando, na parte final de um tema, e quando os efeitos de fumo envolviam o palco, os músicos livres de instrumentos se acercaram à beira do palco para agradecer; e no entanto, a música… continuava(??!!)!. Quando a névoa se dissipou, surgiu a explicação: sem interromper o tema, cada músico foi cedendo os instrumentos a roadies ou até às namoradas tendo estes continuado a tocar aquele bocado da música. Brilhante!

Enfim, foi uma grande noite de rock com uma banda em grande forma, a dar uma excelente demonstração de vitalidade e também de criatividade a nível de espectáculo, conforme se viu. E o que saltou à vista foi o facto destes músicos, apesar do inegável profissionalismo, estarem ali, simplesmente, pelo gozo de tocar.


Vídeos no You Tube (filmados por espectadores, mas dá para ter uma ideia da coisa):
http://br.youtube.com/watch?v=ZWe0O00BHr0#GU5U2spHI_4
http://www.youtube.com/watch?v=wY9ZozfrriY

1 de abril de 2008

The Cure, ao vivo no Pavilhão Atlântico: UMA CONSAGRAÇÃO INESPERADA

Falou-se muito das razões dos The Cure terem esgotado o Pavilhão Atlântico depois vários concertos no nosso país, ao longo da última década e meia, que não suscitaram grande atenção. Para além da invasão espanhola bastante nítida em vários locais do pavilhão, existiam outras: uma é a febre revivalista dos anos 80, que faz com que se realizem inúmeras festas dedicadas àquela década com os cabelos de Robert Smith a servirem de iconografia. A outra, mais a nível internacional, o surgimento de inúmeras bandas novas que se declaram herdeiras do grupo inglês.
Início do concerto. Ruídos mágicos soam no ar, silhuetas no palco, de repente... uma explosão de magia percorre todo o pavilhão. É "Plainsong", o primeiro tema do clássico "Desintegration". A falta da teclas parece plenamente compensada pela guitarra de Porl Thompson e os seus efeitos. Este facto introduz até um elemento novidade que torna este concerto mais único e atractivo. Se calhar por isso, os temas apresentados acabam por ser os menos instrumentais e sim os mais acessíveis, mais formato canção, que não os menos interessantes. Percorrendo toda a discografia da banda, uma conclusão salta à vista: a música dos The Cure é pop com todas as letras. De qualidade, é certo, mas simples e trauteável, mantendo a dose certa de personalidade e de inspiração.
Os pontos altos foram, claro, os hits mais conhecidos: "Just Like Heaven", "In Between Days", "Pictures Of You", "Friday, I'm In Love", entre outras. "A Hundred Years" soou poderosa e, durante"A Forest", o publico quase que chegou à histeria. Os temas onde era mais notória a ausência de sintetizadores foram compensados pelo coro da plateia, que acompanhava as vocalizações de Robert Smith com entusiasmo.
Os encores foram muito interessantes, preenchidos, praticamente, com canções dos primeiros álbuns, se calhar aquelas mais relacionadas com o tal corrente new wave tão em voga. Os imprescindíveis "Boys Don't Cry" e "Killing An Arab" não ficaram de fora, servindo de remate para uma actuação quase perfeite.
Assistimos, neste concerto, à reabilitação de uma banda; quer em termos criativos, devido à nova relevância da sua música, quer em termos populares. Neste aspecto, pode-se dizer, tendo em conta as recentes actuações um pouco por todo o lado, que os The Cure podem ter superado até a sua anterior fase de maior popularidade. Pelo menos já conquistaram um estatuto sério e respeitável perante as massas, em clara oposição ao que antes representavam. Resta saber por quanto tempo se conseguem manter no topo e injectar algum sangue novo a essa fama.