1 de abril de 2008

The Cure, ao vivo no Pavilhão Atlântico: UMA CONSAGRAÇÃO INESPERADA

Falou-se muito das razões dos The Cure terem esgotado o Pavilhão Atlântico depois vários concertos no nosso país, ao longo da última década e meia, que não suscitaram grande atenção. Para além da invasão espanhola bastante nítida em vários locais do pavilhão, existiam outras: uma é a febre revivalista dos anos 80, que faz com que se realizem inúmeras festas dedicadas àquela década com os cabelos de Robert Smith a servirem de iconografia. A outra, mais a nível internacional, o surgimento de inúmeras bandas novas que se declaram herdeiras do grupo inglês.
Início do concerto. Ruídos mágicos soam no ar, silhuetas no palco, de repente... uma explosão de magia percorre todo o pavilhão. É "Plainsong", o primeiro tema do clássico "Desintegration". A falta da teclas parece plenamente compensada pela guitarra de Porl Thompson e os seus efeitos. Este facto introduz até um elemento novidade que torna este concerto mais único e atractivo. Se calhar por isso, os temas apresentados acabam por ser os menos instrumentais e sim os mais acessíveis, mais formato canção, que não os menos interessantes. Percorrendo toda a discografia da banda, uma conclusão salta à vista: a música dos The Cure é pop com todas as letras. De qualidade, é certo, mas simples e trauteável, mantendo a dose certa de personalidade e de inspiração.
Os pontos altos foram, claro, os hits mais conhecidos: "Just Like Heaven", "In Between Days", "Pictures Of You", "Friday, I'm In Love", entre outras. "A Hundred Years" soou poderosa e, durante"A Forest", o publico quase que chegou à histeria. Os temas onde era mais notória a ausência de sintetizadores foram compensados pelo coro da plateia, que acompanhava as vocalizações de Robert Smith com entusiasmo.
Os encores foram muito interessantes, preenchidos, praticamente, com canções dos primeiros álbuns, se calhar aquelas mais relacionadas com o tal corrente new wave tão em voga. Os imprescindíveis "Boys Don't Cry" e "Killing An Arab" não ficaram de fora, servindo de remate para uma actuação quase perfeite.
Assistimos, neste concerto, à reabilitação de uma banda; quer em termos criativos, devido à nova relevância da sua música, quer em termos populares. Neste aspecto, pode-se dizer, tendo em conta as recentes actuações um pouco por todo o lado, que os The Cure podem ter superado até a sua anterior fase de maior popularidade. Pelo menos já conquistaram um estatuto sério e respeitável perante as massas, em clara oposição ao que antes representavam. Resta saber por quanto tempo se conseguem manter no topo e injectar algum sangue novo a essa fama.

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