Este blogue, ao longo dos seus vários artigos, oferece informação ao internauta que pode ajudá-lo a identificar alguns dos melhores intérpretes da música moderna. Ao mesmo tempo, dá a conhecer também alguns excertos da História daquela que é uma das mais importantes e populares formas de cultura e entretenimento.
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Uma autêntica obra prima da música contemporânea. O paradigma de como deve ser um álbum de rock, no seu sentido lato: enérgico, diversificado, original, honesto, coerente, e altamente bem executado. Todos os temas, do primeiro ao último, são autênticas bombas, não há nenhum ponto fraco, nenhum momento banal ou aborrecido, enfim, não há um único segundo em que não se respire genialidade por todos os poros. Beneficiando de uma produção extremamente cuidada para a altura, os Pantera põem em prática um arsenal de grandes canções baseadas em riffs raivosos e ritmos cheios de groove, onde criatividade e técnica se entrelaçam na perfeição.
Os temas vão desde as canções meio industrias em mid tempo (Walk, Be Driven By Demons), baladas polvilhadas de rap metal (This Love), hardcore (Fucking Hostile) ou apenas excelentes músicas de metal extremamente ritmado (Regular People, No Good). Phil Anselmo, ex-boxer, com visual e atitude straight-edge (ainda na sua fase pré-junkie decadente), debita letras agressivas que apelam à energia individual. Uma característica peculiar dos Pantera é o facto de em cada tema existir sempre um auge que normalmente é na parte instrumental, onde sobressaem os solos assombrosos de Dimebag Darrel e se alcança uma intensidade sonora verdadeiramente poderosas e original - veja-se o caso de Rise e Live In A Hole, por exemplo. Mesmo aqueles pouco familiarizados com sons mais pesados ficarão rendidos à genialidade de Hollow, que ainda assim termina com uma estremecedora conclusão.
A nível da estrutura da música estão aqui algumas das raízes do chamado nu-metal (Korn, Deftones, etc.) ou do hardcore new school (Biohazard, Hatebreed, etc.), para além ter constituido uma autêntica revolução no metal e no rock em geral - que chegou até ao vestuário e visual de músicos e fãs.
Por vezes espantamo-nos com a simplicidade propositada de alguns temas, mas depois apercebemo-nos que é esse o segredo dos Pantera, primeiro atraem pela força e pujança dos riffs e dos refrões, depois vamos sendo gradualmente seduzidos pelos pequenos grandes pormenores que constituem este álbum. Aqui acaba o heavy clássico, melodioso, das grandes cavalgadas e das poucas variações rítmicas, e começa o som feito de instinto e energia crua. E o que é mais admirável é ter a sensação de que tudo isto surgiu à primeira e nada foi premeditado. E um “New Level” foi alcançado.
Encontramo-nos em 1985, Misplaced Childhood é o álbum que catapulta os Marillion para o estrelato. Depois de dois bem sucedidos álbuns iniciais, Script for a Jester’s Tear e Fugazi, a banda britânica decide fazer um álbum conceptual, muito em voga nos anos 70.
Como álbum conceptual é assim constituído por vários “momentos”, e não por várias canções, para ser mais rigoroso. Assim sendo, é um álbum que faz jus, por inteiro, á sua audição ininterrupta desde o primeiro ao último tema.
Misplaced Childhood tem a particularidade de constituir uma verdadeira banda sonora para a narrativa do vocalista e letrista escocês Fish.
Fish decidiu fazer com este álbum uma retrospectiva do seu passado e reflectir nas letras uma mensagem de esperança, encarnando uma figura de uma criança, ingénua, pura e apaixonada, contrastante com o sentimento de desilusão e perda bem patentes nos dois anteriores álbuns de originais.
Mais uma vez, essa vertente lírica é extraordinariamente retratada na capa do disco pelo desenhador Mark Wilkinson.
É, no entanto, na simbiose perfeita do conceito narrativo e correspondente interpretação vocal, em simultâneo com o virtuosismo dos quatro músicos, Steve Rothery (soberbo guitarrista, no desfile de ambiências e solos singulares), o teclista Mark Kelly, o viola baixo Pete Trewavas e o baterista Ian Mosley, que este álbum surpreende.
Além disso, a banda demonstra com este 3º álbum uma maior maturidade e originalidade.
Em álbuns conceptuais nem sempre o resultado é bem conseguido, no entanto, com Misplaced Childhood isso é amplamente conseguido, passando pelo pop melódico dos êxitos Lavender ou Kayleigh, a sons mais hard rock, a sons sombrios e enigmáticos como Bitter Suite e Blind Curve, ou no melhor rock sinfónico com Heart of Lothian, ou Childhood’s End.
A gravação do disco foi efectuada em Berlim, e não o foi por acaso. A escolha foi feita pela banda em conjunto com o produtor Chris Kimsey, o ambiente boémio da cidade era um dos ingredientes que contribuiriam para criam o som e a ambiência que a banda pretendia.
A aclamação do álbum, editado em Junho de 85, depois de um inesquecível concerto no Restelo no mês de Maio, foi geral.
Não só, pelo já muito abrangente número de fans, mas pela crítica em geral (pelo menos a crítica objectiva e não preconceituosa…).
A popularidade da banda atingida foi de tal ordem que atingiria com este disco o nº 1 em diversos tops europeus e sul-americanos.
Há discos eternos, e este é um deles…
…25 anos depois podem passar modas, tendências, mas este disco soa sempre actual.
Os Dead Can Dance - formados por Lisa Gerrard e Brendan Perry - nasceram em Melbourne, na Austrália, em 1981, mas pouco tempo depois mudam-se para Londres. Nesta cidade, o grupo assina um contrato com a 4AD, a conhecida editora de música alternativa.
Em 1984, lançam o primeiro álbum, Dead Can Dance, num estilo rock gótico, pós punk, muito característico e na sequência de bandas anteriores dos seus elementos. No mesmo ano, tiveram um contributo importante no projecto que juntava vários grupos da editora 4AD, os This Mortal Coil, cujo álbum "It'll End In Tears" atingiu um inesperado sucesso (para os seus padrões).
No ano seguinte lançam o surpreendente segundo álbum "Spleen and Ideal", que atinge o #2 na tabela independente do Reino Unido, e que apresenta vários temas orquestrais e uma forte influência de música erudita. Com "Within The Realm Of a Dying Sun", de 1986, essa influência de música clássica e medieval, de grande espiritualidade, acentua-se e o álbum acaba por se revelar um dos fundamentais da banda. O quarto álbum, "The Serpent's Egg", é editado em 1988 e torna-se o trabalho da banda mais bem sucedido a nível de popularidade. É aqui tanbém que os Dead Can Dance começam a trilhar, de forma muito subtil, terrenos da chamada world music de origem noutros continentes que não Europa.
Em 1990, editam "Aion", trabalho onde parecem querer regressar à música medieval/renascentista de raíz europeia, tudo - como sempre - em formato canção, o que os aproxima dos circuitos pop-rock e os faz alargar o número de concertos efectuados. Novamente com grande ascendente de world music, "Into the Labyrinth", é o primeiro álbum da banda a ser editado nos EUA, tornando-se um sucesso, também, na Europa. Nessa sequência, o grupo grava o registo ao vivo "Toward the Within", de 1994. Paralelamente, Lisa Gerrard grava o seu primeiro álbum a solo em 1995, "The Mirror Pool".
Com o passar dos anos Lisa Gerrard mudou-se para a Austrália, a sua terra natal, e Brendan Perry para a Irlanda. Apesar da distância continuavam a trabalhar em conjunto até à separação da banda em 1998. Desde essa altura nunca mais realizaram álbuns de originais.
O grupo voltou a reunir-se temporariamente em 2005, só para concertos, e em 2012 para nos oferecer um regresso aos discos ao melhor nível que a banda nos habituou.
À semelhança de outros casos na história da música, existe actualmente um músico de grande talento e genialidade que tem sido injustamente pouco reconhecido ao longo dos pouco mais de 10 anos da sua carreira: trata-se do canadiano Devin Townsend. Existem vários motivos, um é o facto do compromisso do músico com o metal mais poderoso a nível sonoro, um estilo tão apreciado por alguns quanto incompreendido por muitos, e que está para além do hard rock mais soft de outros correlegionários mais famosos como Vai ou Satriani. Outro factor poderá ser o humor particular de Devin Townsend que, apesar de original e intimamente ligado às suas composições, não deixa de ser olhado com desconfiança por alguns dos fãs de metal.
No entanto, o traço mais notável deste músico, tanto a solo como com a sua banda, os Strapping Young Lad, é o facto da sua música se caracterizar por uma extrema e frutuosa diversidade: desde metal a rock sinfónico e progressivo, até às sonoridades mais ambient/new age, sem esquecer os polvilhados de industrial, music hall e até de ópera-rock, cada trabalho é uma caixa de surpresas, mesmo mantendo a sua coerência e coesão.
Em "Addicted", Devin Townsend aposta em temas mais curtos, simples e directos, mais acessíveis sem prejudicar o talento da composição, contando com uma produção menos agressiva e ainda com a cereja em cima do bolo que é a fantástica participação da vocalista Anneke van Giersbergen (ex-Gathering, Aqua de Annique). Efectivamente, e ao contrário do que se poderia pensar, a voz da bela holandesa, que canta em boa parte das canções, assenta que nem uma luva nas composições de Townsend e vai ao encontro do rock de cariz enérgico e positivo que o músico pretendia para este trabalho. Canções como "Addicted", "Bend It Like Bender", "Hyperdrive", "Resolve", "Numbered", entre outras, são de uma positividade e modernidade que contrariam a ideia feita de que o metal é negativo ou barulhento. "In Ah" está na linha da melhor tradição de duetos de voz feminina/masculina, enquanto que a vertente sinfónica e orquestral é aflorada em temas como "Supercrush" e "Awake".
Numa época em que bastantes bandas e compositores se encontram em becos sem saída, Devin Townsend desbrava novos caminhos para seu som cuja génese é, no fundo, música com "M" grande e no sentido mais lato do termo.
Estávamos em meados dos anos 80 e a editora, 4AD, uma das precursora do estilo "vanguarda" ou "gótico", assinou contrato com uma desconhecida banda holandesa: os Clan Of Xymox. O single "A Day", dispara na lista de vendas de singles tornando-se um dos clássicos do underground dos anos 80 e os dois primeiros álbuns da banda são muito bem recebidos por crítica ombreando com os nomes maiores do estilo.
Criadores de paisagens imensas e idílicas, os discos apostam em sons orquestrais e de grande riqueza sonora, sustentados por uma caixa de ritmos que casa bem com a voz melancólica - Curtis style - e o baixo a comandar a melodia.
O primeiro álbum "Clan Of Xymox" é mais diversificado, contendo temas que resumem uma certa corrente da década de oitenta que explora novos sons de sintetizador mais soturnos. "A Day" é uma descarga rítmica de sintetizador com um riff de guitarra em efeito delay. O início de "Stranger" parece uma convocação dos deuses em tons épicos e assustadores. "No Words" é pop despretensioso, enquanto que "Stumble And Fall", "No Human Can Drown" e "Equal Ways" são magníficas peças atmosféricas.
Já o segundo disco, "Medusa", é mais coerente, alternando temas instrumentais ambientais com outros de batida intensa que, apesar disso, não afecta a suavidade e calma que percorre todo o álbum. Uma marca preponderante deste segundo trabalho é o efeito da guitarra, à beira da desafinação, que dá um ar enigmático e misterioso à música. "Louise" é um dos hinos que ficou para a história da banda, "Michelle" e "Agonized By Love" são também únicas neste estilo melancólico dançável e, ao mesmo tempo, profundo e grandioso. O clímax do álbum é alcançado, no entanto, na parte final, com o tríptico "Masquerade" - uma melodia levemente oriental cantada pela baixista - "After de Call" - que sugere uma maravilhosa viagem subaquática - e "Back Door" - com sons épicos e solenes a acompanhar uma vincada batida. Relacionado com este trabalho releve-se ainda um dos temas mais conhecidos da banda, "Moscoviet Mosquito", editado originalmente numa colectânea de vários artistas mas que foi gravado durante as sessões de "Medusa".
Os Clan Of Xymox passaram por diversas mutações até estabilizaram, no final dos anos 90, num estilo gótico/dance bastante enérgico que lhes garante uma pronta horda de fãs. No entanto, as suas maiores obras primas acabam por ser estes seus dois primeiros álbuns que, numa frase, são uma espécie de banda sonora ideal para apreciar as coisas belas da vida.
Esqueçam as letras deste disco, esqueçam os esterótipos estilísticos atribuídos a esta banda, esqueçam a história de vida deste vocalista. Concentrem-se na música, nas canções, na originalidade e inspiração deste álbum que, apesar da condições em que foi feito é capaz de de ser dos melhores álbuns rock de todos os tempos, para além, claro, dos gostos subjectivos de cada um.
Uma coisa é um dado adquirido às primeiras audições: estamos perante um dos melhores vocalistas de sempre da música moderna. A voz, assim como a criação das melodias vocais e, ao mesmo tempo, a forma como foi gravada, em várias pistas e em camadas sucessivas, dão um som único a este disco, passando as cordas vocais a ser um autêntico instrumento - como um sintetizador por exemplo - tal a sua musicalidade e a diversidade das suas nuances. Juntamente com as vocalizações de Layne Staley, soma-se a guitarra de Jerry Cantrell, um mago da guitarras que prepara poções mágicas feitas de distorção e efeitos wha-wha.
Os temas são autênticas obras primas em que a muralha de som das várias pistas de guitarra se enreda com a voz e com os ritmos arrastados, criando uma sensação inebriante e, ao mesmo tempo, reconfortante. Numa palavra: psicadelismo. Numa vertente hard, é certo, mas isto é música para libertar os sentidos e soltar a mente por viagens intermináveis a territórios desconhecidos. O álbum acaba por ser paradoxal em vários aspectos: apesar das letras serem bastante depressivas, existem momentos extemamente belos e a construção sonora de paisagens verdadeiramente idílicas; por outro lado, apesar dos Alice In Chains estarem conotados com o estilo rock/grunge e a produção acentuar esse aspecto pesado e massivo, este trabalho acaba por ser, na prática, extremamente calmo e relaxante. Às primeiras audições pode até parecer bastante lento comparado com a maior parte dos grupos do espectro hard'n'heavy.
Os estereótipos rock'n'roll life style percorrem o disco, as referências a Hendrix, Sabbath e até Pink Floyd. As substâncias ilícitas (leves ou menos leves) fizeram parte do processo de composição, esse aspecto é bastante nítido ao ouvir. No entanto, a grande magia do disco está no facto de, sem nos aperebermos, à medida que as audições aumentam mais reconhecemos a força destes temas: desde os mais acessíveis - Would?, Them Bones - até aos hinos - Rooster (que conta a história de um soldado no Vietname), Junkhead - passando pelas composições únicas à la Alice In Chains como, Down In A Hole (o tal "calmo-pesado"), Rain When I Die (um autêntico caldeirão de especiarias sonoras), Dirt, ... enfim uma imensa paleta com várias tonalidades.
As influências que este álbum deixou são imensas, tanto em novos agrupamentos, como Three Doors Down, Nickelback, Sevendust, etc. como até inspirou alguns trabalhos mais recentes de consagrados, como os Metallica e até o próprio Ozzy Osbourne.
Para a memória do público português, fica aquele concerto intenso no Superock de 2006, num dia abafado e sob um forte aroma "marroquino". E como diz o tema: "I like to fly...."
Ao contrário de outros nesta rubrica "Os Melhores Álbuns de Sempre", este cd não é oficial, ou seja, é pirata. Este registo audio tem sido editado com vários nomes mas a gravação é a obtida no concerto que a banda efectuou em Milão em Novembro de 1993, numa tourneé que também passou por Portugal (Dramático de Cascais) com um alinhamentro igual ou semelhante.
Um dos motivos desta escolha prende-se com o fato desta gravação ter sido efectuada no auge criativo do grupo (e início da fase de sucesso mais massivo). Os Sepultura tinham espremido a sua veia thrash com o mítico "Arise", povoado de inúmeras composições épicas, mudanças de ritmo, e um ambiente denso que dava profundidade e "arte" a um género usualmente caracterizado unicamente pela rapidez e energia. Na altura deste concerto, a banda tinha acabado de editar aquele álbum que representaria a sua maior mudança sonora, e mesmo estilística, e que é considerado por muitos como o melhor álbum dos Sepultura: "Chaos A.D.". Este facto faz com que o alinhamentos do concerto esteja repleto de temas daqueles dois álbuns, para além de outros clássicos anteriores.
Em segundo lugar, esta gravação caracteriza-se por uma produção longe das normas técnicas e da sofisticação que um disco oficial exigiria. No entanto, um pouco incrivelmente, o som dos Sepultura acaba por ganhar neste álbum novos contornos até aqui insuspeitos, com um equilíbrio de volumes diferente dos discos de estúdio, as guitarras a rugirem, a bateria com a tarola a soar mais integrada com o resto dos seus instrumentos e o vocalista Max Cavalera com um registo e uma colocação de voz como nunca o ouvimos desde então para cá, algures entre o agressivo e o gutural, dando um clima grandioso a todas as canções. E assim, este disco acaba por soar poderosíssimo, a um nível inigualável na discografia da banda.
Aqui podemos encontrar aquelas que poderão ser consideradas as melhores versões dos hinos de Sepultura - "Refuse/Resist", "Territory", "Inner Self", "Troops Of Doom"... -, magníficas composições que ganham uma nova cara para melhor - "Clenched Fist", "Alterded State", "Dead Embryonic Cells", "Murder",... e outras curiosidades como a versão de Ratos de Porão (Crucificados pelo Sistema), a nova versão de "Anti Christ" (rebaptizada de "Anti-Cop") ou a velocidade inacreditável do baterista Igor em canções como "Beneth The Remains" ou "Escape To The Void".
Um álbum essencial para convertidos ou iniciados, onde o som do metal e do power chord surge no seu melhor: a cru.
Acaba por ser injusto colocar apenas um disco de Metallica nesta rubrica de "Os melhores álbuns de sempre", tal a genialidade que percorre grande parte da carreira deste grupo. Aqui poderiam caber também qualquer um dos outros dois trabalhos que compõem a "trilogia de ouro" do grupo - o thrash orquestral "Ride The Lightning" e o intrincado e frio "...And Justice For All" - ou mesmo o seminal "Kill 'Em All", ou o famoso "black album", que trouxe o thrash para o mainstream mantendo a personalidade da banda.
Optou-se pelo álbum que os especialistas definem como o mais influente, aquele em que o som característico do grupo alcançou a sua depuração. O álbum abre com o magnífico "Battery": tons acústicos e épicos introduzem uma descarga de velocidade e peso. O tema título, por seu lado, é um must nos concertos da banda, momento em que o público grita a palavra "master!", como se estivessem a alcunhar a própria banda. Nunca se soube bem o que a letra significa, na medida que neste disco as mensagens são mais metafóricas e dadas à interpretação individual. Os fãs dividem-se entre aqueles que acham que se refere à guerra e aos líderes e os que acham que o título é uma imagem para a droga e os seus viciados.
"The Thing That Should No Be", o tema mais estranho do álbum, alinha pelo mesmo diapasão no que toca à letra. "Welcome Home (Sanitarium)" já não oferece dúvidas: Hetfield narra o ponto de vista de um suposto louco que questiona a sanidade da sociedade. A música é das mais belas de Metallica, com um início calmo e derivando depois para um final enérgico com um as duas guitarras a solarem em harmonia.
"Disposable Heroes" fala da guerrra e do serviço militar. É um tema espectacular, agressivo e dramático ao mesmo tempo. Aquele tipo de canção que põe a um canto qualquer outra da fase mais desinspirada da banda. "Leper Messiah" mais arrastada, é mais complexa, e já lançava pistas sobre o trabalho que se lhe seguiria. Destaque-se o excelente solo de Hammet, como em todas as músicas aliás.
O instrumental "Orion" é talvez o tema mais genial de todo disco, nas suas passagens, nos ambientes que cria e na grandiosidade que transmite ao ouvinte. "Damage Inc." é um tema típico thrash numa linha mais comparável a outros conterrâneos da banda.
A vertente épica da banda é com este disco exacerbada e, ao mesmo tempo, confirma o seu extremo talento para compor grandes canções, num estilo pesado mas sempre com a melodia e a harmonia presentes. Enfim, uns autênticos ... masters.
Estávamos em 1985 e, depois de vários trabalhos, em nome próprio ou com outros, em que se destacaram como pontas de lança do movimento gótico, os The Cult arriscam em lançar "Love" que marca claramente uma evolução para outras sonoridades. A produção, bastante admirada ainda hoje, foi uma pedrada no charco para altura, com o disco a soar como se de uma actuação ao vivo se tratasse, mas num local com muito eco , tipo uma igreja, o que lhe conferia uma aura de mistério. Basicamente, "Love" é um cruzamento de rock gótico mais obscuro com a energia do rock pós-punk mais optimista, feito por bandas como os U2 iniciais, Chameleons, Big Country,etc; acrescentando-lhe ainda influências do rock psicadélico dos anos 60. Tudo embrulhado num formato bastante acessível com ritmos surpreendentemente dançáveis (!?). Aqui aparecem pela primeira vez o estilo de canções gothic-pop depois popularizado por bandas como os The Mission, Gene Loves Jezebel, Héroes del Silencio, etc. É o caso de temas como "Nirvana", "Rain", "Hollow Men" e do hit "She Sells Sanctuary". "Love" marca também a reabilitação do efeito wha-wha na guitarra rock, que desde Jimi Hendrix praticamente só era usado noutros estilos. A canção "The Phoenix" é, neste particular, sublime, com um solo demoníaco que se estende ao longo de todo tema. Para completar, temos os temas mais calmos, "Brother Wolf..." e "Black Angel", marcados pelo forte romantismo (no sentido literário do termo), para além desse grande hino geracional que é "Revolution". Depois da tour de "Love", os The Cult contratam o produtor Rick Rubin, então com um auspicioso início de carreira, e gravam aquilo que é capaz de ser a maior pirueta na carreira de uma banda. "Electric" é quase o contrário do disco anterior apesar de igualmente inspirado. Os ecos, o ambiente nocturno e o psicadelismo são agora substituídos por um som seco, directo e distorcionado, como se estivessem a tocar na nossa sala de estar. Numa linhagem AC/DC, todos os riffs são um verdadeiro murro no estômago, puro e duro. "Wild Flower", "Lil' Devil" e "Love Removal Machine" são clássicos intemporais , para além de outros como "Peace Dog", "Bad Fun" e "Outlaw", igualmente míticos, sem esquecer aquela que será, porventura, a melhor versão do clássico "Born To Be Wild". Com este álbum, e a tour que se seguiu, os The Cult conquistaram uma enorme base de fãs nos EUA sendo das bandas britânicas mais famosas do outro lado do Atlântico nas últimas décadas. Indispensável para qualquer motard que se preze, "Electric" colocou também os The Cult como um grupo incontornável para os fãs do metal/hard n'heavy.
Em 1989 é lançado o trabalho que acaba por ser uma espécie de síntese dos 2 anteriores e o álbum mais bem sucedido em termos de vendas dos The Cult. "Sonic Temple" representa o hard-rock na sua perfeição: composições talentosas, técnica soberba, letras inspiradoras, e uma produção espectacular (Bob Rock faz aqui o seu trabalho prévio ao Black Album dos Metallica). O guitarrista Billy Duffy e o vocalista Ian Astbury têm aqui as melhores prestações de sempre. Apesar de superficialmente o álbum ter a ver com a corrente hard-glam então em voga, a verdade é que estas canções e todo o alinhamento está muitas milhas à frente de tudo o que se ouvia e é, na prática, uma paradigma do que de melhor já se fez e fará na música rock. Desde os temas mais fortes e imediatos, como "Sun King", "Fire Woman" e "Sweet Soul Sister", até aos mais mid tempo, como "Edie" e "Wake Up Time For Freedom", não há nada que falhe neste disco. Quiçás o momento alto do álbum seja a sequência "Soul Asylum"/ "New York City" /"Automatic Blues": dois épicos, profundos e poderosos, com sucessivas camadas de guitarra e refrões dramáticos, intercalados por uma rockalhada no melhor estilo que retrata na perfeição o ritmo agitado daquela metrópole. Grandioso!
Os The Cult têm tido uma carreira de altos ("Beyond Good And Evil" de 2001 é um deles) e alguns baixos, algumas interrupções de carreira e a associação a outros projectos (como a participação de Astbury nos Doors XXI), para além de alguma intermitência na sua popularidade. Em todo o caso, os 3 álbuns aqui referidos ditaram modas e movimentos, influenciaram inúmeras bandas e, por isso, fazem parte da história da (boa) música.
(Nota: clicar nos links com o nome dos álbuns para ouvir)
Estávamos no final da década de 80 e os U2 tinham alcançado o seu pico de fama com o multi-platinado "The Joshua Tree" e o posterior filme e disco "Rattle And Hum", onde a banda decide revisitar as raízes do rock n' roll e da América. Para trás tinha ficado o primeiro período, mais juvenil mas com grande originalidade, e as experiências sonoras da fase de "The Unforgettable Fire". A imagem dos «4 gajos porreiros», simples, sinceros, a lutar por boas causas, e até com uma carga religiosa, era a sua imagem de marca.
Surpreendentemente, a partir daqui tudo, muda. A cortina de ferro cai e os U2 vão gravar a Berlim para respirar o ar dos tempos, Bono e The Edge declaram que andam a ouvir o shoegaze, a mistura de rock e música de dança na altura na berra no Reino Unido, alguns elementos passam por dificuldades nos seus relacionamentos, a banda volta a assentar arraiais na Europa depois de vários anos nos EUA. E nasce "Achtung Baby".
Os primeiros dados a surgir ao conhecimento do público deixaram meio Mundo boquiaberto a questionar-se se se tratava da mesma banda: do visual arrojado de onde sobressaía os gigantes óculos escuros de Bono, dos temas a denotarem um ritmo anormalmente dançável para os padrõs do grupo, a atitude da banda - na pose das fotos, nas entevistas e nos clips - e até a curiosa capa do disco. Tudo parecia propositadanete diferente, houve até quem se desiludísse com a nova atitude propositadamente teatral, cheia de mensagens subliminares, mas, ao mesmo tempo, notava-se uma coerência estética, artística e criativa, como nunca até ali se tinha visto no grupo.
A temática base que atravessa o álbum é a questão da sociedade hipermediatizada, a era da informação. Isso é notótio em canções como "Zoo Station", "The Fly" e "Even Better Than The Real Thing". Mas, por outro lado, há toda uma panóplia de temas muito inspirados que nos levam para outros cenários. O mundo das paixões e das relações é retratado sem falsos pudores em temas como "Who's Gonna Ride Your Wild Horses", "Love Is Blindness", entre outros; "Mysterious Ways" retrata o jogo da sedução e da sensualidade enquanto que "Until The End Of The World" e "Acrobat" são mais filosóficos e existencialistas. E depois temos aquele tema elevado a uma espécie de hino de união da humanidade que é "One" (mas que poderá ter outras leituras como a temática da solidão e do flagelo da Sida).
"Achtung Baby" é um excelente retrato dos tempos actuais, mas, para além desse realismo, possui com uma sonoridade e uma produção cálida e rica, que alarga os horizontes do ouvinte. É música - no sentido artístico/cultural do termo - no seu melhor.
Depois do lançamento deste disco foi sendo desenvolvido um conceito de concerto revolucionário: a Zoo TV. Cada concerto da banda era como se fosse uma emissão de televisão em que a audiência era bombardeada por dezenas de mesagens em ecrãs gigantes, com temas diversos conforme a canção, ao mesmo tempo que a banda e o cenário obedeciam a uma espécie de performance em que Bono desempenhava o papel de vários alter-egos e até os próprios temas antigos conheciam outras sonoridades.
Tudo isto foi evoluindo para os álbuns seguintes "Zooropa" e "Pop", que tiveram também um conceito - a nível de letras, de música e de touneé - muito coerente, criativo e teatral. No fundo, o grande feito de "Achtung Baby" foi fazer com que a nova atitude dos U2 - talentosa, arrojada, irónica, crítica e até, pasme-se, intelectual - chegasse até às massas.
Desde o início do século para cá os U2 voltaram à imagem simples e bem comportada de antigamente mas, apesar das grandes produções, os álbuns soam mais insípidos a nível lírico e musical, de aí o facto das novas gerações os compararem a outros grupos que quase roçam a mediocridade. Mas a história e os períodos áureos dos U2 permanecem para quem os quiser ouvir e isso ninguém lhes tira.
A passagem dos Machine Head por Portugal superou qualquer expectativa. O concerto de Lisboa rebentou a escala a todos os níveis. Primeiramente a nível da produção: um som bombástico, com grande definição e volume, e um show visual admirável proporcionado pelos ecrãs gigantes. Depois pela banda, que tanto a nível da composição, da técnica e da performance em palco se encontra num excelente momento de forma.
Ao som dos cânticos gregorianos, os Machine Head entram em palco com a imparável I Am Hell, e logo aí se viu que o som estava a quilómetros das bandas da 1ª parte. A parte final do tema, em tons épicos, desenrolou-se com o cenário repleto de imagens de chamas, num todo espectacular.
Be Still An Know e Imperium continuaram a fase inicial do espectáculo com o público, em delírio, a entoar os temas ou em mosh nas partes mais aceleradas. Os dois guitarristas mostravam uma execução perfeita mostrando que a via dos solos e das harmonias é uma aposta ganha. Aliás, notou-se que os Machine Head, ao contrário da maior parte dos grupos que têm um guitarrista solo ou dois que solam à vez, adoptam a modalidade dos dois guitarrists solarem ao mesmo tempo em sintonia, o que cria um som muito melódico que casa bem com as partes mais densas e pesadas.
Antes de intepretar o single do último álbum, Locust, Robb Flyn fez um discurso alusivo à letra enquanto que as imagens dos ecrãs provocavam um efeito semelhante a uma nuvem (de gafanhotos no caso). O riff foi entoado pela plateia em registo "oooh, oooh, ooh", para além das partes vocais - o que foi uma constante ao logo do espectáculo. Aesthetics of Hate foi dedicada a Dimebag Darrell e a casa veio abaixo com o mosh. Clássicos como The Blood, the Sweat, the Tears (mudado para Beers), Old, entre outros, foram muito bem recebidos por um público muito heterogéneo a nível etário.
O momento mais surpreendente da noite acabou por ser o tema Darkness Within que ao vivo ganha outra dimensão com as imagens projectadas no ecrã, os breakes de McClain executados com mestria e o público a corresponder admiravelmente cantando a letra toda. Arrepiante!
No último tema antes de saír, Robb Flyn instalou a confusão quando na parte do meio de Ten Ton Hammer apelou os presentes para formarem um gigante circle pit que ocupou a plateia quase toda do Coliseu. Nada de estranhar nos concertos destes californianos. O encore foi repartido pelo tema de maior fama do penúltimo álbum, Halo, entoado em uníssono e com novo desfile de solos admiráveis e sucessivas mudanças de parte; e pelo hino Davidian que proporcionou mais uma sessão de correria, pontapés, saltos e crowd surfing.
Com adopção de elementos mais melódicos e harmoniosos no seu som, os Machine Head fecharam uma espécie de círculo: o seu som parece agora "completo", a pujança, o groove e os tons graves conjugam-se agora com a técnica, os agudos e uma maior musicalidade. Ao mesmo tempo, alargam a sua base de fãs sem precisar de se vender. Ou seja, um caso sério de sucesso com qualidade e um espectáculo de um nível como há poucos actualmente.
Na primeira parte, tivemos os Darkeste Hour - com o melhor som da 1ª parte e a merecerem ser seguidos de perto. A banda do inenarrável Dez Fafara, os Devildriver, agitou as hostes mas, infelizmente, o som que saía das colunas estava muito mauzinho. Agurdemos regresso mais bem sucedido. Por fim, antes dos cabeça de cartaz, actuaram os Bring Ne The Horizon, de som e estética mais próxima do hardcore, com a voz agressiva a correspoder ao estilo, mas misturando alguns pormenores mais inovadores como a voz limpa e algumas partes calmas.
Os Machine Head têm sido considerados, quase unanimemente, como uma das melhores bandas do universo do metal na última década e meia. Tanto que se dão ao luxo de ter os consagrados Sepultura a abrir os concertos da sua mais recente tour, ou merecem os comentários mais elogiosos de personalidades como James Hetfield (que chegou a actuar com eles ao vivo) ou Kerry King (que os considerou uma banda imprescindível num eventual "Big 4" de bandas modernas). Desde o seminal primeiro álbum "Burn My Eyes" (de 1994) que o grupo esteve sempre, no fundo, na crista da onda, ditando estilos ou seguindo-os da forma mais talentosa - conforme a altura e o álbum de que falemos. Neste sentido, a edição de um novo álbum de originais dos Machine Head assume sempre particular relevância e neste caso, depois de ouvido e digerido o trabalho, com plena razão de ser. Um trabalho cativante e talentoso, enérgico e bombástico mas com grande cuidado nos pormenores e nuances, e com tão só 7 mas grandes composições (mais 2 versões na edição deluxe).
Logo a abrir o álbum temos a faixaI am Hell, com a sua intro em cântico gregoriano, revelando aquela que - segundo o vocalista, guitarrista e líder da banda - foi a maior influência deste trabalho: a música clássica. Mas nada de sustos, já que depois de uma pequena parte pesadíssima, em tons marciais, o tema deriva para um riff estonteante em ritmo hardcore de deixar apardalado o mais incauto. Um corropio de solos e partes diferentes compõem o tema que acaba em tons mais melódicos. Uma das melhores composições de sempre da banda de deixar qualquer um sem respiração.
Um riff em tapping, de inspiração medieval introduz-nos para a segunda canção, Be Still And Know, num ritmo apesar de tudo mais calmo. Para além do peso característico da banda, nota-se um elemento mais melódico que o habitual que percorre o disco todo: é a influência do heavy mais tradicional - NWOBHV , power metal, etc. - para além da já referida música erudita.
Locust é primeiro o clip deste novo trabalho e é já um dos hinos do grupo, algo como a perfeitacanção metal: início em tons góticos, riff e refrões contagiantes e uma parte tema brutalíssima na melhor tradição Machine Head. Nem se fale do solo de arrepiar com as duas guitarras em harmonia. A letra é uma metáfora que, segundo Robb Flyn, se refere às pessoas gananciosas e ao seu poder na sociedade actual.
A seguir, temos This Is The End que é puro thrash-metal e mais um pedaço de talento para o reportório da banda, apesar do refrão levemente comercial fazer lembrar as novas bandas de metalcore de voz imberbe. O início cita nitidamente Metallica. Por sua vez, Darkness Within é o tema mais calmo do disco mas, ainda assim, consegue surpreender. Pearls Before Swine é mais um daqueles registos thrash progressivo que os Machine Head nos têm habituado nos últimos trabalhos; cada parte da música é altamente criativa e o riff final estaria mesmo a pedir uma continuação. Para terminar, temos a canção eventualmente mais power metal que os Machine Head já compuseram, Who We Are, uma espécie de final em tom festivo.
Em suma, mais um trabalho talentoso do quarteto californiano, um marco na música metal, que só peca por ser escasso. As grandes composições têm a vantagen de não nos cansarem e de descobrirmos pequenos pormenores à medida que vamos ouvindo o álbum mais vezes. Mas chegamos ao fim e ficamos a querer mais. Se calhar é propositado. Se calhar é bom sinal.
No passado dia 31, noite de Halloween, o mítico local de concertos Incrível Almadense assistiu a uma das suas noites mais gloriosas. Os Moonspell aproveitaram a "noite das bruxas" para efectuarem um concerto-celebração dedicado ao seu primeiro álbum, "Wolfheart" (de 1995), e não podiam tê-lo feito de melhor forma: sala apinhada, público em êxtase, um palco maior do que o habitual naquele espaço, um show de luzes espantoso, várias surpresas especias e uma banda em plena forma.
O alinhamento foi irrepreensível com a totalidade dos temas do álbum a ser debitada pela ordem do disco, excepto Ataegina que surgiu a meio do alinhamento. Este tema foi dedicado pelo vocalista ao espírito de festa dos portugueses e o público correspondeu com cânticos e braços no ar - uma constante de todo o concerto, aliás.
A segunda parte do concerto correspondeu aos trabalhos prévios e imediatamente posteriores a "Wolfhert", o que assentou que nem uma luva no ambiente que se vivia na sala, dando uma sensação de máquina do tempo, como se estivéssemos a viver alguma das grandes noites que os Moonspell ofereceram no passado. A diferença, para melhor, é o cada vez maior profisionalismo da banda - e de Fernando Ribeiro como mestre de cerimónias em particular.
Para abrilhantar o concerto, ainda houve dança do ventre e outras coreografias magníficas por um grupo de bailarinas "vampirescas" a acompahnhar as partes mais ambientais dos temas executados, para além de duas cantoras bastante intervenientes nos temas desta fase da banda.
Em suma, um espectáculo memorável como há poucos, com partes de arrepiar tal a química transmitida e "trocada" com o público.
Alinhamento: Part I - Wolfshade, Love Crimes, Of Dream and Drama, Lua D'Inverno, Trebaruna, Ataegina, Vampiria, An Erotic Alchemy, Alma Mater; Part II - Tenebrarum Oratorium (Andamento I), Opus Diabolicum, Goat On Fire, Opium, Awake!, excerto de um novo tema, Mephisto, Full Moon Madness.
Os Moonspell actuam no proximo dia 31 deOutubro na Incrível Almadense. "Wolfheart" é o álbum de estreia da banda portuguesa Moonspell, lançado a 4 de Janeiro de 1995. Depois do criativo EP, embora extremo, "Under The Moonspell", os Moonspell apostam num trabalho influenciado pelo esoterismo, pelas lendas tradicionais e pelo mistério. Este imaginário traduz-se num conjunto de temas coerentes no seu conjunto mas que reflectem múltiplas influências: desde o gothic metal, black metal, hard rock e rock sinfónico. Essa mistura de referências produz, no entanto, um trabalho fresco e novo, algo que nunca tinah sido ouvido até ali. Um elemento fundamental do álbum é o folk metal, presente, sobretudo, em "Trebaruna" e "Ataegina" cantadas em português - lingua usada também no refrão de "Alma Mater" - mas também na pequena e deliciosa peça chamada "Lua de Inverno". O trabalho começa com o hino "Wofshade", talvez o tema mais pesado de todo o disco, avançando para "Love Crimes" e o seu refrão poderoso apimentado por uma bela voz feminina. Em seguida segue para o maravilhoso "Of Dream And Drama" (Midnight Ride). Mais à frente encontramos o inevitável "Vampiria" que narra a vertente romântica do história original de Drácula. A canção "An Erotic Alchemy" é uma autêntica releitura de Sisters Of Mercy, inspirada e com citações de Marquês de Sade. Um dos melhores temas da banda entretanto (quase) esquecido. "Alma Mater", ao contrário, é o tema que os Moonspell interpretam sempre ao vivo, dedicado à "alma" e às raízes que, no caso deles, são Portugal. Podiamos citar nesta rubrica o álbum "Irreligeous" por muitos considerado a obra prima da banda pela sua óptima colecção de canções, ou outro álbum mais recente como, por exemplo, "The Antidote". Apesar disso, a escolha recaiu em "Wolfheart" porque foi um álbum feito com muita "alma" - o que faz com que seja muito autêntico e criativo - e aquele que criou o imaginário de Moonspell, . Ao mesmo tempo, acaba por ser o álbum mais aberto (que não comercial) a outros estilos e, por isso, mais fácil de ser apreciado por qualquer ouvinte.
Os The Mission regressaram a Portugal para mais dois concertos, desta vez na Tourneé de comemoração do 25º aniversário da banda.
Para além da efeméride, e de isso implicar um revisitar dos principais temas da banda, existia igualmente o interesse extra de poder rever,para além do líder Wayne Hussey, o baixista e o guitarrista originais, CraigAdams e Simon Hinkler, respectivamente.
Em Lisboa, no passado Sábado, a presença massiva de públicoque lotou a sala TMN, mostrou o porquês da banda ter marcado uma geração.
O reconhecimento da banda por parte do nosso público ficou bem patenteado pela excelente recepção, entre outros temas, às "bandeiras" góticas, Wasteland, Severina, Naked and Savage ou Tower of Strenght, ou temas pop como o apoteótico Butterfly On A Wheel ou Like a Child Again (só com Wayne na guitarra numa versão acústica).
Contámos, no entanto, com um péssimo som da sala que impossibilitava a audição perceptível dos instrumentos, algo que não conseguiu minimizar o facto de estarmos na presença desta enorme e marcante banda e da autêntica celebração a que assistimos.
Os Mastodon actuam no próximo dia 22 de Janeiro no Coliseu de Lisboa.
Considerado por várias listas como um dos melhores de 2011, o mais recente trabalho dos Mastodon é, mais uma vez, demonstrativo de uma criativdade e imaginação raros no panorama musical actual. Desta vez, os norte-americanos surpreendem fãs e crítica apresentando uma colecção de canções curtas de forte pendor psicadélico. Se o álbum anterior, "Crack The Skye", era dominado por longas composições em que os momentos mais mágicos ficavam diluidas, agora cad riff serve de mote para uma canção de duração média com métrica mais convencional. Desta forma, cada parte é apreciada por si ao constiuir um riff ou um refrão forte, sendo cada tema mais memorizável. No todo, é mais fácil ter a noção do talento do grupo.
O som mais metal parece algo posto de lado em prol de canções de sonoridade mais rock, mas com a personalidade e a admirável técnica dos Mastodon. Black Tongue, Curl Of The Burl, Dry Bone Valley, All The Heavy Lifting possuem nuances de 70's, stoner e de grunge mas a sua originalidade fá-las de outro campeonato.
Há espaço para temas mais estranhos, como Blasteroid ou Octopus Has No Friends, e a vertente imagética e psicadélica, que esteve sempre latente, aperece ainda mais acentuada, como nos espectaculares Stargasm, The Sparrow e no tema título. A intro de Creature Lives chega mesmo a conter uma citação propositada a Pink Floyd.
As vozes aparecem mais límpidas do que nunca com Brent Hinds (guitarrista) e Brann Dailor (baterista) em destaque, mas Troy Sanders (baixista e voz e principal) continua com os seus hurros de pirata em dia de tempestade. Bill Kelliher continua com a sua exclusividade à guitarra.
O facto das canções já não terem aquela estrutura progressiva e a falta de petardos de energia (como Blood and Thunder, Circle Of Cysquatch ou Crystal Skull) de outros álbuns podem ser para alguns, como este escriba, pontos em desfavor deste "The Hunter". Em todo o caso, esta nova aventura dos Mastodon revela que a banda continua excitante, cativante e a apostar na qualidade e profundidade da sua música, em contra-corrente ao que é, infelizmente, cada vez mais comum hoje em dia.
Existem certos melómanos que criticam o estilo metal pela falta sua de originalidade o que, em bastantes casos, acaba por ser justificado - para alguns a repetição e o auto-plágio é mesmo motivo de elogio. No entanto, não é isso que acontece com algumas bandas em que a procura do novo e a exploração de novos territórios é a sua imagem de marca, não deixando de continuar dentro dos parâmetros do som hard'n'heavy. É o caso dos dinamarqueses Mnemic.
Elogiados um pouco por todo o lado, os Mnemic têm uma personalidade muito vincada, praticando um groove metal industrial, que tem conquistado os ouvintes mais atentos. Lançado em 2010, "Sons Of The System" destila qualidade e inovação e só não teve mais impacto a nível de público devido a conflitos entre membros da banda que fizeram com que, praticamente, não se tivessem realizado concertos de promoção ao disco.
Os temas estão ainda mais bem compostos que nos discos prévios, com a sua peculiar contrução baseada na surpresa e no repentismo, misturando riffs potentíssimos com refrões transcedentais e , ritmos altamente criativos e vocalizações - que voz! - bombásticas, quer na parte limpa e melódica quer nas partes agressivas. Outra curiosidade são os samples e sons electrónicos, que dão a esta banda aquela estética futurista e tecnológica, e que aqui surgem inseridos "a dedo" em certas partes para contribuir ainda mais para o valente "kick in the ass" que este álbum representa. Não esquecer as letras, filosóficas e de intervenção, em óptima sintonia com o resto.
Temas em destaque: o tema título, o fantástico mid tempo de "March Of The Tripods" - épico!- e os brutais "Diesel Uterus", "Hero (in)" e "Dreamjunkie", autênticos clássicos para a história do metal.
Os Red Hot Chili Peppers regressaram. Com novo guitarrista, os Peppers acabam de lançar o álbum "I'm With You" e prometem uma tourneé mundial.Que dizer do novo disco? Apresenta-se ao nível do que de melhor sabe fazer a banda, pelo menos a avaliar pelos seus últimos trabalhos: boas canções, simples, originais q.b. e apelando à boa desposição e descontracção. Em relação aos álbuns anteriores, antes das longas férias que grupo tirou, o disco apresenta-se mais ritmado, com canções mais aceleradas e explorando novos territórios em termos do que tem sido o som à Red Hots.
No entanto, nem tudo são rosas. O estatuto de estreante do guitarrista sente-se demasiado e a guitarra, embora sempre presente, acaba por não se evidenciar ao longo do disco. De facto, os temas andam muito em redor do baixo de Flea e da voz de Anthony Kiedis e as partes instrumentais acabam por rarear parecendo que falta algo ao disco. Resta saber se isto se deve à recusa da banda em dar mais protagonismo ao novo elemento se por incapacidade deste.
Para além disso, saúde-se o regresso de uma das melhores bandas do mundo em termos comerciais e que consegue trazer alguma qualidade real ao maistream.
Uma das bandas mais injustiçadas da história da música dá pelo nome de THE CHAMELEONS, um grupo britânico que existiu entre 1981 e 1987, se exceptuarmos algumas breves tourneés de regresso mais recentes. A sua influência chegou a bandas como U2, Sisters Of Mercy, Paradise Lost, Heroes del Silencio, os mais recentes Coldplay, entre muitas outras bandas por esse Mundo fora, tendo servido de inspiração a álbuns tão essenciais como, por exemplo, "Love", dos The Cult, ou "The Unforgettable Fire", do quarteto irlandês. Pode-se dizer que os THE CHAMELEONS foram, no que à música estritamente diz respeito, uns dos principais inventores do que mais tarde se viria a chamar rock gótico. É certo que no limiar dos anos 80 houve uma grande vaga de bandas que se caracterizavam pela obscuridade das melodias e as letras romântico-existenciais, mas foram os THE CHAMELEONS a explorar a fundo, e com inegável talento, o efeito do eco nas guitarras, proporcionado pelas tecnologias que eram novidade na altura - nomeadamente a utilização dos pedais "reverb" e "delay".
Apesar de só terem produzido 3 álbuns no seu primeiro e criativo período de vida, estes são todos de uma qualidade excepcional, nomeadamente os dois primeiros. Se o segundo trabalho, "What Does Anything Means Basically", constitui uma obra a roçar a genialidade pela sua diversidade e pelos caminhos novos que aponta, é no primeiro álbum, "Script Of The Brige", que o som inconfundível dos THE CHAMELEONS soa mais conciso e personalizdo. O tom é nocturno e misterioso, as guitarrras tecem malhas complexas, a voz conta fábulas fantásticas num clima íntimo e aconchegante. Temas como "Second Skin", "Pleasure And Pain", "View From A Hill", "Monkeyland", "Thursday's Child", são de uma beleza estonteante, contrabalançada pelos mais enérgicos "Don't Fall", "Up The Down Escalator" e "Paper Tigers". As guitarras, e a sua densidade eléctrica e épica, estão sempre presentes, mas isto não significa imediatismo nem excesso porque as melodias e a conjugação dos instrumentos possuem sempre um forte cunho ambiental, de profundidade e de criação de paisagens sonoras. Um segredo que se vai desvendando aos poucos, à medida que nos adentramos na floresta mágica destas aguarelas - soturnas, é certo, mas imensamente maravilhosas.
O low profile mediático da THE CHAMELEONS foi decisivo para que nunca tivessem alcançado grande fama, mas se nos resumimos à música propriamente dita, este trabalho é uma obra prima e, sem dúvida, merecedor de um reconhecimento ao nível dos melhores.
No fim de semana de 5 e 6 de Agosto decorreu o festival Vagos Open Air, dedicado às sonoridades mais metal mas também com muitos outros estilos à mistura como o progressivo dos Opeth, o rock calmo dos Tiamat ou o gótico dos Anathema.
No segundo dia, também bem servido de concertos, o destaque foi para Devin Townsend que se estreou em Portugal com um concerto arrebatador, por 2 motivos principalmente: a música magnífica e grandiosa, e a empatia criada com o público fruto do humor e boa disposição do músico.
O humor é uma constante em Devin Townsend, basta ver a intro do espectáculo - que acompanhou o check sound - em que várias imagens de clássicos do cinema, fotos de famosos etc. desfilavam com a cara do músico colada às mesmas, enquanto que as colunas debitavam excertos de músicas pop como Barbie Girl e outros "atentados" - um momento verdadeiramente hilariante.
O concerto em si foi perfeito: um alinhamento irrepreensível, executado na perfeição por todos os músicos, a voz fantástica de Devin e a sua característica presença em palco - que passa por uma forte comunicação com o público, pela sua simpatia e simplicidade e também a sua mímica apalhaçada (no bom sentido). É fantástico como é que este músico consegue ter um desempenho impecável em palco ao mesmo tempo que adopta uma atitude como, por exemplo, se estivesse a beber um café ali na esquina com os amigos. A arrogância e os estereótipos "metaleiros" não têm lugar aqui, apenas uma naturalidade que desafia preconceitos e uma "good vibe" permanente. A energia do músico e do resto da banda é contagiante: mais de hora e meia sem interrupções e sempre olhos nos olhos com o público. A música, bem como a voz de Devin Townsend, é o que se sabe: uma montanha russa, do ambiental à intensidade, derrubando barreiras e misturando estilos com grande coerência. E ainda houve magníficas imagens nos ecrãs gigantes durante a actuação.
Um concerto memorável que ficará para a história e que deixa muita água na boca por mais. Essencial para qualquer fã de música em geral: não perder o próximo o concerto de Devin Townsed em Portugal!
Alinhamento:
Addicted!, Supercrush!, Kingdom, Deadhead, Truth/OM, By Your Command, Pixillate, Bad Devil, Stand, Juular (com Ihsahn, o vocalista dos míticos Emperor), Color Your World, The Greys, Deep Peace.
De todos os grupos míticos do rock, já quase todos passaram pelo nosso país (sim até o desejado Ozzy com os seus Black Sabbath em 1973, por incrível que pareça). No entanto, daquela importante fornada que revolucionou a música na transição dos 80's para os 90's faltava ver um dos grupos charneira do chamado funk metal e que trouxe novos ritmos e sonoridades ao rock: os Jane's Addiction.
Foi no passado dia 9 de Agosto que a banda de Los Angeles actuou no palco do festival Optimus Alive em Algés. Dançarinas suspensas sobre o palco, fumos e um som potentoso, o show dos Jane's Addiction é rock no seu melhor: arrojo, provocação, inovação de mãos dadas com espectáculo, asumpção de um rock n' roll lifestyle franco e sem compromisssos.
Apesar do passar dos anos continuam carismáticos: Perry Farrel é a estrela da companhia com a sua voz ambígua, seduzindo completamente a atenção da audiência. Dave Navarro, é o às da guitarra, promovido a improvável socialite (nos EUA pelo menos) mas que continua a assumir a sua condição de roqueiro não abdicando de explorar novos caminhos na sua banda de sempre.
No fundo essa dualidade faz parte dos Jane's Addiction: ao mesmo tempo, são a banda rock que dá espectáculo, com solos de guitarra, psicadelismo, que apela à paz, ao amor, à revolta e ao não conformismo; mas que tem, também, uma personalidade própria que a faz única, imprevisível e excitante!
Aguardemos, pois, o próximo trabalho da banda, que pela amostra vai trazer novidades, e por um prometido regresso para breve (de preferência com um concerto mais longo).
Alinhamento:
Mountain Song, Ain't No Right, Had a Dad, Ted, Just Admit It..., Just Because, End to the Lies, Three Days, Been Caught Stealing, Ocean Size, Stop. Encore: Jane Says
Em meados dos anos 80 surgem em Los Angeles os Jane´s Addiction e logo de início se verificou que estávamos em presença de uma banda especial. A nível musical, o som era altamente criativo, misturando funk, hard rock, punk e algum do rock alternativo que, à data, ecoava na Europa. A imagem era excêntrica, nomeadamete o vocalista Perry Farrell (também pintor/escultor pop e surfista) com os seus visuais bizarros, as suas entrevistas provocantes, a lançar farpas a tudo o que fosse conservador e opressor de direitos. Depois, durante anos, a sua forma de expressão foi quase sempre em concertos, começando por estar ligados aos "happenings" de juventude e de artistas, às universidades e a eventos de desportos radicais. Não foi de estranhar que o seu primeiro álbum - "Jane's Addiction" (1986) fosse gravado ao vivo em concerto.
Mas foi com o seu primeiro álbum de estúdio, "Nothing's Shocking" que a banda provou que era um caso sério no rock em geral, com as suas magníficas canções e a produção irrepreensível. A guitarra de Dave Navarro prova ser fundamental no som da banda, Stephen Perkins prova ser o baterista mais inovador da sua geração - revolucionando o ritmo amorfo do rock da altura - o baixo de Eric Avery traz tanto a influência funk como a pós-punk para a banda, e a voz de Farrell, ambígua e única no Mundo, com as suas reverbações, dá uma atmosfera celestial e grandiosa ao grupo. Do calmo ao pesado, do alegre ao obscuro, o álbum passa por inúmeras tonalidades. A começar nas letras, que passam por temas como a celebração de vida de Ocen's Size e Up The Beach, a liberdade individual do magnífico Mountain Song, a religião em Had a Dad, a política em Idiot's Rule, o sexo na visão de um psicopata no psicadélico Ted, Just Admit It... e o hino dedicado à amiga prostituta que dá nome à banda, Jane Says.
Em 1990, os Jane's Addiction sobem um degrau e editam o álbum "Ritual de lo Habitual" que começa com a intro «Nós temos mais influência nos vossos filhos que vocês!» ...revelador. O disco divide-se, essencialmente, em duas partes: uma com temas na linha do álbum anterior mas com grande inspiração - como Stop, Ain't No Right e No One's Leaving - e outra constituídas por longas composições, mais calmas e hipnóticas - como é o caso do hino Three Days (uma metáfora religiosa para falar sobre o amor livre) e de Then She Did. No meio existe o (talvez) maior hit da banda, Been Caught Stealing, e para finalizar a inesperadamente romântica, Classic Girl.
Os Jane's Addiction separaram-se ano e meio depois, com um concerto final em que o vocalista actuou tal como veio ao Mundo (!!). Voltariam intermitentemente em 1997, para uma bem sucedida tour, em 2001-2004, com outro álbum de originais, e agora desde 2009 com mais um trabalho na calha.
A sua influência ultrapassa gerações e estilos e foi tanto musical (influenciou o grunge, o nu-metal, o rock alternativo, etc.), como a nível da atitude em palco e fora dele, como também ao nível da indústrial musical, especialmente a americana, ao demonstrarem que as editoras e os músicos independentes podiam ter sucesso; isto para além do contributo de Perry Farrell ao inventar e organizar o conhecido festival itinerante Lollapalooza. No que a estes dois discos diz respeito, ambos foram autênticas pedradas no charco que abriram novos rumos ao rock.
Certa música faz-nos alcançar tais sensações interiores que se podem de classificar de perfeitas, puras, primordiais, nos fazem celebrar a existência e o significado das coisas mais simples. É o caso da maior parte das composições dos Cocteau Twins e, neste particular, de um dos melhores álbuns de sempre: «Victorialand».
Quem conhece o grupo sabe do que se fala aqui: a voz angelical de Liz Frazer, muitas vezes em várias camadas, deambula por entre um mar de sons e melodias hipnóticas feitas praticamente apenas com guitarras eléctricas carregadas de efeitos.
Este disco está exactamente a meio da carreira do grupo escocês, terminada, até notícia em contrário, em 1996: entre as melodias sombrias e amarguradas dos primeiros anos e a luminosidade dos seus últimos discos. Outra nota importante é que este álbum distingue-se de muitos outros por não utilizar qualquer tipo de percussão. Este facto faz com que os pontos fortes do grupo venham ao de cima.
No entanto, o segredo deste álbum está no talento puro e natural dos elementos do grupo, com cada canção a constituir uma tonalidade para um quadro que se revela esplendoroso. Atente-se na capa, em como a imagem reproduz os tons vermelhos alaranjados de um pôr-do-sol tropical ou o crepitar de uma lareira reconfortante ou uma aurora a anunciar um dia solarengo. Logo ao primeiro tema, o álbum eleva-nos para locais escondidos na nossa mente e nos nossos sentidos como se estivéssemos a ouvir o cântico dos anjos ou o canto das sereias (como tão bem esta mesma intérprete faz no tema dos This Mortal Coil). Uma experiência única para viver em doses moderadas e escolhidas a dedo, porque assim ainda sabe melhor.
Menção especial para outros trabalhos belíssimos desta banda, que podiam estar aqui na lista dos melhores, como: «Treasure», «Tiny Dinamine/Echoes In a Shallow Bay» «Four Calendar Café» ou «Milk And Kisses».
Os Fleet Foxes actuam no próximo dia 8 de Julho no Festival Alive.
Os Fleet Foxes acabam de editar o seu segundo álbum. "Helplessness Blues" representa um passo em frente na sempre difícil tarefa de suceder a um trabalho aclamado por todos os quadrantes, como foi o álbum homónimo de 2008. O novo disco continua a explorar os caminhos do folk pastoral neo-hippie, transportando-nos para cenários idílicos e mundos quiçás imaginários. Não representa asurpresa do trabalho de estreia mas apresentanos canções amadurecidas, com mais conteúdo instrumental e, em geral, mais ritmo que o álbum anterior. Assim pode-se dizer que temos banda: depois de um primeiro disco a roçar a genialidade, temos agora um álbum dentro do seu estilo próprio mas um pouco mais virado para os palcos, ou seja, a segunda metade da carreira de um grupo. Pela sua personalidade inconfundível e a sua imaginação prodigiosa, pode-se dizer que os Fleet Foxes se destacam no role de bandas actuais e podem daqui para afrente tocar muitos públicos apesar de ser de facto uma banda à parte de tudo o que costumamos ouvir.
No Portugal de meados da década de 80, os primeiros adolescentes da democracia começavam a assimilar a cultura e as modas "lá de fora". Surge uma leva de bandas que, sendo mais obscuras que aquelas do boom do rock anos antes, tinham uma maior profundidade lírica e musical e, sobretudo, uma atitude e um estilo ligados directamente aos movimentos da música pop-rock mundial. Nesse capítulo, o Rock Rendez- Vous (RRV), em Lisboa, assumia-se como a catedral das novas tendências da música.
Associados a esse local e a essas novas correntes, os Xutos e Pontapés surgem como a mais destacada dessas bandas. Com a entrada de um novo guitarrista - o virtuoso João Cabeleira - a banda começa a aprofundar as características únicas do o seu som, ao mesmo tempo que vão cimentando um estatuto com sucessivos concertos.
A pedrada no charco foi o álbum "Cerco" (de 1985) e as diversas canções editadas em singles e colectâneas na altura. Foi precisamente na tourneé de apoio a esse álbum que os Xutos gravam "1º de Agosto no RRV". Gravado ao vivo naquela sala, o concerto passa pelos melhores temas do disco que promovia, como o eterno "Homem do Leme", o hit da altura, "Barcos Gregos", e a pérola que é "Conta-me Histórias". Constam também outras canções contemporâneas a esse trabalho, e que nele poderiam estar, como: "Esquadrão da Morte", "Remar Remar" e "1º de Agosto". A isto somam-se os primeiros sucessos do grupo como "Sémen", "Avé Maria", "Morte Lenta"... e até a versão da "Minha Casinha", que já era interpretada em concerto. O álbum - editado oficialmente em 2000 - é um autêntico manual do "som à Xutos", com toda energia e personalidade que se tornariam a sua imagem de marca.
Um ano depois daquele concerto, o grupo edita o álbum "Circo de Feras", ainda sob o tom de revolta, de rebeldia e de não alinhamento que caracterizava as suas canções prévias. O talento para a composição assim como os traços mais característicos do grupo, como a voz de Tim, os riffs de Cabeleira, e a pujança de Zé Pedro e Kalú, estão lá todos. Sem esquecer o sax de Gui. "Não Sou o Único", "Contentores", "Circos de Feras" e "Vida Malvada" são temas que ficaram para a história dos Xutos, para além de outros como "N'América", "Esta Cidade" etc.
Depois desta fase, o grupo cimentou a carreira que todos conhecem, com clássicos como "88" ou "Dizer Não de Vez", até alcançar o estatuto da melhor banda portuguesa de todos os tempos. Mas a essência da sua música nasceu aqui.