28 de abril de 2011

A história dos FAITH NO MORE

Consideradas uma das bandas mais revolucionárias e criativas de sempre, os Faith No More nasceram em 1982 quando Roddy Bottum (teclas), Mike Bordin (bateria) e Billy Gould (viola-baixo), que já tocavam juntos, recrutaram Jim Martin para a guitarra. O nome vem de um trocadilho com a sua antiga banda (Faith The Man), no entanto muitos fãs interpretam o nome como uma espécie de lema da agnóstica geração x.

Diversos músicos ocuparam a vaga de vocalista nesta fase até ter ficado Chuck Mosley, que participaria nos dois primeiros discos da banda: We Care a Lot, de 1985, e Introduce Yourself, de 1987. Mosley foi demitido em 1988 oficialmente por ser alcoólico e ter causado problemas nalguns concertos. Mike Patton, que em pouco tempo se tornaria a figura mais emblemática do grupo, entrou nos Faith No More poucas semanas antes das gravações do disco "The Real Thing" por indicação de Jim Martin, que havia ouvido uma demo da banda de Patton, os Mr. Bungle.

O álbum "The Real Thing", lançado em 1989, é um verdadeiro divisor de águas na carreira do grupo, com canções mais bem resolvidas e com o carisma de Mike Patton a contribuir para transformar os Faith No More num grande sucesso comercial. A canção grandemente responsável pela transição foi "Epic" que, com seu arranjo grandioso que faz jus ao título, vocalização rap e refrão orelhudo, chegou ao 9º lugar no top de singles da Billboard e um vídeo clip exibido à exaustão na MTV. Com mais dois singles de sucesso, "Falling to Pieces" e "From Out Of Nowhere", o disco The Real Thing chega a lugares de destaque nos tops de vários países, assim como o álbum ao vivo "Live At Brixton Academy" gravado e editado pouco depois.

Sob grande expectativa, o novo álbum, "Angel Dust", foi lançado em 1992 e apontava para outras direções. O trabalho era um caldeirão de especiarias - um cruzamento de múltiplos estilos, sons e estados de espírito - que acabava por soar, apesar de tudo, muito coeso pelo espírito de aventura e arrojo que transmitia. Mike Patton participou no processo criativo do disco e pôde exercitar todo o seu experimentalismo e gosto pelo bizarro. Musicalmente, a banda mostrava evolução, incorporando elementos eletrónicos e sons de sintetizador mais diversificados, proporcionando uma atmosfera cinematográfica a algumas canções. O álbum deu início a uma nova corrente que acabaria por influenciar grande parte do espectro musical: o crossover, o romper das fronteiras entre os estilos musicais - do rock com a dança, do metal com o hip hop, etc. O lugar privilegiado dos Faith No More nos tops era garantido pelos singles "Midlife Crisis" e "A Small Victory". O 4º single de "Angel Dust" foi para uma canção que inicialmente não estava no álbum: "Easy", cover dos Commodores, que se tornou noutro grande sucesso.

 
"Angel Dust" rendeu mais uma tourneé gigantesca pelo mundo onde o grupo, além de se promover em concertos próprios, actuou em festivais e nas 1ªs partes de Metallica e de Guns N' Roses. Ao invés de encarar o compromisso como oportunidade de atrair novos públicos, os Faith No More eram eles próprios, provocando a audiência com sessões de garrafada, insultos e piadas sarcásticas. O público mais superficial não entendia a postura contra-cultura do grupo, mas acabou por ser esta a fazer crescer um verdadeiro culto à volta dos Faith No More.
Com a saída de Jim Martin, logo após a tour, foi contratado Trey Spruance, colega de Patton nos Mr. Bungle, para gravar o novo álbum. Posteriormente, os Faith No More convocam o então roadie Dean Menta para fazer o trabalho da guitarra na tour. "King for a Day… Fool for a Lifetime" foi um novo passo para a banda: o som passou a ser mais crú e mais pesado, incluindo agora menos electrónica. As canções eram concisas e directas, apesar de muito diferentes entre si, continuando a revelar um alto nível de inspiração. Temas como "Ricochet", "Evidence", "King For A Day" e "Just A Man" tornaram-se clássicos dos FNM tal como outros mais pesados, como "The Gentle Art Of Making Enemies", dedicada a Jim Martin, e "Digging The Grave", que não deixam de revelar grande qualidade. A este lançamento é atribuído o título de precursor do género nu metal, com várias bandas deste estilo a citarem-no como influência no método de composição e delineação sonora.
Entretanto, os trabalhos paralelos dos integrantes dos Faith No More cresciam. Patton entrou de cabeça en projectos avant-garde, o baterista Mike Bordin tocou com Ozzy Osbourne e Roddy Bottum estreou o projecto, Imperial Teen. Os rumores sobre um possível fim da banda tomavam proporções maiores e coube ao baixista Billy Gould segurar a bandeira do quarteto. Partiu dele a iniciativa de convidar o amigo John Hudson, da banda System Collapse, para assumir as guitarras no novo disco a ser gravado.


Em pleno auge da onda da música eletrónica, foi escolhido o produtor Roli Mosimann, para produzir "Album Of The Year". Essa influência eletrónica viria a marcar algumas faixas do álbum, como o magnífico "Stripsearch", bem como gerar uma gama de remixes  dos temas do trabalho. Notou-se também uma preocupação em em destacar os teclados novamente, como nos espectaculares "Last Cup Of Sorrow" e "Ashes To Ashes". O legado mais metal apareceu em faixas como "Collision" e "Got That Feeling". Em geral, o álbum apura a arte em fazer boas composições, condensando os excessos de Mick Patton e focalizando agora a diversidade estilística na arte de fazer grande canções, como "Helpless", "Pristina", etc. Tudo isto mantendo o estilo inconfundível dos FNM (não sendo necessario chocar para isso acontecer). Em suma, mais um clássico.
Os últimos meses da primeira vida dos Faith No More caracterizaram-se por grandes elogios às suas actuações ao vivo onde mezclavam canções novas com material antigo e continuando a arrecadar uma leva impressionante de fãs.
Mas os diferentes carácteres criativos dos seus membros vieram ao de cima, tomando proporções insuperáveis, e foi anunciado, perante a surpresa geral, o encerramento de actividades da banda, tão somente 2 semanas depois dos seu últimos concertos ... no Porto e em Lisboa (!!) curiosamente.
11 anos depois, em Maio do ano passado, os FNM retomaram actividades estando em tourneé quase initerrupta desde aí, com concertos lotados um pouco por todo o Mundo.
O legado desta banda é indiscutível, tendo influenciado dezenas de artistas da atualidade, não sendo raro encontrar músicos que referenciam os álbuns do FNM como dos melhores da década de 90. Acima disso, há também o espírito da canção desafiadora, do não-conformismo com o sucesso fácil que os Faith No More viveram na pele e fazem questão de trazer para os terrenos mainstream.

10 de abril de 2011

Os melhores álbuns de sempre: SENSER - «STACKED UP» (1994)

Nos inícios da década de 90, o cruzamento do rap com o metal começou a ganhar um novo dinamismo. Da mesma maneira, inúmeros projectos apostavam na mistura de estilos como a sua imagem de marca. Na Londres da época estava-se na ressaca do shoe-gaze mas a dance-música arrancava decididamente para uma época de ouro. E foi na capital britânica que um grupo de freaks de origens diversas formaram os Senser que se estrearam em 1994 com um álbum assombroso chamado "Stacked Up".
Este disco traduz-se na mistura de uma miríade de estilos de entre os quais o rap, o metal, a dance-music, entre outros. Servidos por músicos de eleição, entre os quais dois excelentes vocalistas, o álbum assenta em excelentes canções e letras que respiram o espírito da época. Tudo polvilhado com inúmeros pormenores electrónicos - cortesia de vários elementos da banda que criaram e executaram os samplers - dando uma atmosfera densa e colorida ao todo do trabalho. O bom gosto da produção a nível de sintetizadores assim como a sessão rítmica - dançável, criativa e rigorosa ao mesmo tempo - são dois pormenores decisivos para a genialidade deste disco.
O primeiro tema "State Of Mind" revela de imediato ao que vem este grupo. Heitham Al-Sayed - um dos rappers mais rápidos a debitar palavras do planeta - declara com raiva no seu "british" perfeito «...my state of mind, they won't change me!».
O segundo tema, "The Key", é simplesmente perfeito, com o sintetizador em regime "sobe e desce", um ritmo a roçar o dub e Al-Sayed mais calmo na palavras, para depois aparecer a voz de Kerstin Haigh num refrão verdadeiramente orgásmico. Uma palavra ainda para o video-clip desta canção que manifesta a influência da cultura rave/neo-hippie nos Senser.
Em "Switch" o ritmo do baixo e da bateria faz tremer o assento de qualquer cadeira. Esta é, provavelmente, a maior aproximação ao hip-hop no álbum todo (os Da Weasel passaram por aqui?),no entanto, a melodia imprimida pela vocalista nalgumas partes e a riqueza sonora está a milhas de certos minimalismos daquele estilo.
"Age Of panic" é ainda hoje o hino dos Senser. Sob uma base que mistura electrónica e guitarra em power chord, o vocalista traça o retrato do estilo de vida das sociedades modernas. Um autêntico "petardo" sonoro. "What's Going On" começa com um riff à Slayer (!!!) que é depois admiravelmente acompanhado por um ritmo hip-hop. O refrão é dos mais orelhudos do disco.
Depois, temos canções de base rap-metal misturadas com outras de outros estilos, como o house de "Door Game" ou o lounge de "Peace" - por sinal um título extremamente adequado ao tema que é. Já na parte final, "Eject" é o regresso ao rap-metal mais agressivo com o refrão a alcançar mesmo um ritmo hardcore. De repente, a meio da música, os dois vocalistas, em cânticos orientais, entram num duelo em espiral ascendente, num todo de pôr qualquer pessoa em pele de galinha.

Este álbum veio reformular a cartilha de inúmeros estilos, sendo percursosr, até de movimentos que mais tarde iriam esplodir, como o tecno-rock e o nu-metal. Quanto aos Senser, eles continuam, embora tenham editado apenas mais dois álbuns desde aquele, afectados por diferendos internos, fruto talvez do perfil instável de artistas. A qualidade mantém-se, apesar da pouca promoção, mas longe da genialidade daquele primeiro trabalho. É como se as condições que permitiram gerá-lo tivessem sido únicas, irrepetíveis, fruto do acaso...