10 de agosto de 2009

Faith No More no festival Sudoeste: ABENÇOADA LOCURA ÉPICA!

Não há palavras! É sempre maravilhoso quando artistas verdadeiramente arrojados e talentosos decidem voltar ao activo para nos oferecerem um concertão destes que nos deixam totalmente atordoados. Um autêntico espectáculo no sentido mais lato da palavra.
Os Faith No More regressaram a Portugal para uma actuação no festival Sudoeste, na Zambujeira do Mar, no passado dia 8 de Agosto. Ao contrário do publicitado, a audiência não estava conquistada à partida. Tirando uma boa fatia de público que se concentrou à frente do palco, havia uma atitude de expectativa em grande parte dos presentes no Festival.
As desconfianças aumentaram quando a banda entra em palco de fato a rigor com o tema, muito easy-listening, "Reunited" de Peaches & Herb. Mas quem é fã de longa data já sabe o que a casa gasta, pois logo em seguida atacam "Land Of Sunshine" uma das canções que mais simbolizam o estilo aventureiro e louco da banda de San Francisco. A mutação nota-se ainda mais no vocalista Mike Patton. De crooner romântico passa para esgares metaleiros em questão de segundos.

O teclista Rody Button solta um «como 'fuckin' vais» e Mike Patton canta uma versão integralmente em português de "Evidence". Fantástico, apesar da pronúncia.
Os hits "Last Cup Of Sorrow", "Ashes To Ashes" e "Midlife Crises" foram muito bem recebidos, com o vocalista a deixar o público cantar o refrão nesta última sem nenhum instrumento a acompanhar. Com as calmas "Easy" e "I Starded a Joke" a audiência entrou em delírio, acompanhando as coreografias de Patton.
A atitude o vocalista é sempre jocosa e provocante, como quando se meteu com um espectador que envergava uma máscara de cirugião. De resto a referência a Portugal e as provocações bem humoradas ao público foram uma constante. Espectacular é a energia em palco de Patton em conjugação com o admirável nível vocal, por vezes melhor ainda do que nos discos, para além de todos os pequenos pormenores, ruídos etc. e da presença e sentido de comunicação que são contagiantes. Apesar da importância do cantor, os músicos são também de uma qualidade excepcional, nomeadamente Billy Gould, com os seus riffs de baixo e passagens, que juntamente ao rigoroso Mike Bordin na bateria asseguram a base rítimica e boa parte da criatividade deste grupo. O teclista, por seu lado, mantém a sua importância na música da banda, para além dos backing vocals e de substituir às vezes Patton como comunicador oficial do grupo. O guitarrista John Hudson mantém a postura discreta, mas nem por isso deixa os seus créditos por mãos alheias no que respeita à impecável execução dos temas.
Na parte final da canção "King For A Day", o grupo deriva para um improviso, com Patton a manipular a caixa de efeitos de voz e a sonoridade geral a aproximar-se de um ambientalismo psicadélico que nunca tínhamos ouvido antes, o que pode significar um prenúncio de novas abordagens num eventual regresso do grupo aos originais.
O final da actuação principal foi já em êxtase, com a totalidade do público rendido e conquistado,desfilando "Be Agressive", o fantástico "Epic" e "Just A Man" com Patton a envergar um chapeu de palha atirado por um espectador e a descer até junto da plateia incentivando os presentes a cantar.

Para o encore ticvemos um inenarrável "Charriots Of Fire" de Vangelis, com Patton a simular um atleta em câmara lenta, um espectacular de "Stripsearch", com os teclados bem salientes ao contrário de outros temas em que pareceram um pouco baixos, e "Ugly In The Morning", um tema que exmplifica bem o "som Faith No More": sessão rítmica deambulante (impossível ficar quieto), mudanças de ritmo rápidas, e a voz a alternar a melodia com palavras de ordem berradas. «Do you want some 'mais'?» atirava o frotman. Depois do instrumental "Midnight Cowboy", com Patton a acertar umas ao lado na gaita («aouch!»), o vocalista anuncia que tem que redimir-se e executam "We Care A Lot" com a garra toda e a audiência a correponder entoando o tema quase todo. O público, à semalhança das outras saídas de palco, ainda gritou e cantou mas a banda depediu-se ao som de «olé, olés».
O futuro dos Faith No More ainda é uma incógnita mas, para já, o regresso foi mais que justificado, efectuando uma actuação de encher o olho que deve ter deixado as gerações mais novas de boca aberta tal a energia e criatividade transmitidas. O que mais impressiona neste grupo é o seu conceito que se pode classificar de "música total": beneficiando da versatilidade dos seu vocalista e dos talento dos seus músicos, os Faith No More são daqueles raros artistas que apostam em preencher a paleta inteira de gostos de um ouvinte médio. Do funk e do metal ao easy-listening e ao rock sinfónico, os Faith No More abarcam todos estes estilos, tudo com muita coesão e um elevado sentido pop que acaba por ser o que atrai as multidoões.