3 de novembro de 2008

Peter Murphy ao vivo em Lisboa - A (MÚSICA) POP PODE SER ARTE

O mago da pop negra voltou a Lisboa no passado dia 1 de Novembro e, mais uma vez (é a terceira), para actuar no Coliseu dos Recreios. Para recebê-lo uma casa quase cheia de orfãos da sua antiga banda e, pelo seu aspecto, seguidores de longa data da carreira do artista. E Peter Murphy soube corresponder com uma actuação irrepreensível, de grande talento.
Sem nehuma banda suporte, o concerto começa à hora marcada em escuridão total e ao som do tema "Zikir", do último trabalho dos Bauhaus antes da sua segunda extinção. De seguida, faz-se luz ao toque da bateria de "The Line Between The Devil's Teeth". Podemos ver que Murphy continúa na sua melhor forma, com os habituais gestos miméticos que, em sintonía com a música, contagiam a audiência. "Burning From The Inside", um dos clássicos da sua antiga banda, leva-nos aos ambientes góticos de início dos anos 80. Depois de elogíos à belíssima sala do Coliseu "que os seus músicos americanos ficaram a aconhecer", Murphy interpreta uma belíssima versão de "Hurt" dos Nine Inch Nails. Pelo meio, "Glidding Like A Whale", "I'll Fall With Your Knife" "The Sweetest Drop" e "Deep Ocean Vast Sea" já tinham feito as delícias de quem aprecia a vertente mais acessível da carreira a solo do cantor. "Marlene Dietricht's Favourite Poem" revelou-se absolutamente inebriante na sua execução enquanto "Black Stone Heart" constituiu uma passagem pelo já referido álbum de Bauhaus editado no início deste ano. Com o público entusiasmado e o cantor em boa forma, só a acústica da sala destoava. "All We Ever Wanted", um dos pontos altos dos concertos dos Bauhaus na sua segunda vida, foi igualmente muito bem recebida aqui. Para além das canções em que só emprestava a voz, Murphy deambulava por vários instrumentos como a viola, sintetizador e até gaita, como em "She's In Parties" com a qual abandonou o palco pela primeira vez.
No primeiro encore, "A Strange Kind Of Love" foi entoado pela plateia e serviu de base para uns versos de "Bela Lugosi's Dead". Com "Cut's You Up", o Coliseu entrou em delírio, com todas as luzes acesas e o público a vibrar. O segundo encore foi com "All Night Long" outro grande tema deste cantor. Pelo meio ainda houve tempo para uma canção de um novo álbum que, segundo palavras do próprio vocalista, já se encontra gravado e pronto para sair.
Mais uma vez se provou que Peter Murphy é um dos nomes maiores da música pop-rock, com uma voz única e uma presença em palco incomparável. Por sua vez, a sua música revela-se como das melhores conjugações entre pop inteligente e, porque não dizê-lo, descontraída, com outros ambientes mais soturnos e poéticos de maior profundidade; e as músicas de Bauhaus acentuam ainda mais essa dicotomia sem quebrar a coerência do todo. Essa característica será, porventura, a maior mais valia deste cantor.